O setor bancário e financeiro internacional tem reforçado suas declarações e compromissos públicos em defesa da ação climática em seus negócios e investimentos. No entanto, na prática, essas instituições seguem no business-as-usual, destinando bilhões de dólares para as principais indústrias por trás do desmatamento ao redor do mundo.
Um levantamento publicado nesta semana pela Forest & Finance Coalition revelou que o financiamento das maiores instituições financeiras do planeta para o agronegócio, a silvicultura e o uso da terra aumentou mais de 60% no último ano, somando US$ 47 bilhões em 2021. Desde 2015, quando o Acordo de Paris foi assinado, essas empresas receberam quase US$ 270 bilhões dos principais bancos e instituições financeiras a título de serviços de financiamento (como empréstimos); além disso, até setembro deste ano, os grandes players do mercado financeiro também mantinham US$ 40 bilhões em títulos e ações de empresas desses setores.
“Agora, está bem evidente que as crises gêmeas da mudança climática e da perda da biodiversidade representam uma ameaça de escala planetária e geracional. No entanto, as instituições financeiras do mundo estão de fato aumentando seus empréstimos para as próprias indústrias responsáveis por levar a humanidade à beira do abismo”, assinalou Tom Picken, da Rainforest Action Network e membro fundador da Forest & Financeira Coalition. “Este levantamento mostra como os grandes bancos e investidores institucionais estão cegos para a urgência do momento e as políticas do setor financeiro continuam perigosamente inadequadas”.
Resultado análise de desmatamento
A análise mostrou que os quase 60% de empresas que atuam em áreas de risco de desmatamento na América Latina, no Sudeste Asiático e na África Ocidental e Central – e que recebem financiamento de instituições de grande porte, como a BNP Paribas, Barclays e HSBC – obtiveram uma pontuação bem ínfima, de um em 10.
No Brasil, os principais beneficiados são as gigantes da proteína animal JBS, Marfrig e Minerva, que receberam bilhões de dólares em financiamento de bancos como Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BTG Pactual, além de fundos de financiamento de grande porte, como BlackRock e Vanguard.
Reuters e Valor repercutiram essas informações.
Em tempo: A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) entregou ao governo brasileiro uma série de reivindicações para o país defender na próxima Conferência da ONU sobre o Clima (COP27), daqui a três semanas no Egito.
Em um rega-bofe em Brasília, com a participação dos ministros Joaquim Leite e Carlos França, os pesos-pesados do agro elencaram alguns pontos de interesse, como financiamento climático, adaptação e a operacionalização dos mercados de carbono. De resto, é o la vie en rose do agro: tudo é muito verde, muito sustentável, o desmatamento é intriga dos concorrentes internacionais, estamos matando a fome do mundo, a Terra é plana, o Sol é quadrado, entre outras fábulas. CNN Brasil e Valor deram a notícia.
Texto publicado originalmente em CLIMA INFO
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