Toda a humanidade está exposta aos mares revoltos da crise climática, mas enquanto alguns navegam em iates e transatlânticos, outros mal conseguem boiar agarrados a pedaços de isopor. Estes últimos estão entre os mais de 3,3 bilhões de pessoas que hoje já são vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas, de acordo com as informações do novo relatório do IPCC lançado na 2a feira (28/2) e comentado por Emilio Sant’Anna no Estadão.
O relatório afirma ser “inequívoco que a mudança climática é uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde planetária”. E as coisas estão se acelerando, como ressaltou o climatologista Jean Ometto, do INPE, para Ana Carolina Amaral, na Folha: “Os impactos [das mudanças climáticas] estão acontecendo antes do que se esperava. Certos impactos que eram previstos para 2050 no relatório anterior [de 2014], neste constam como impactos que já são observados, já estão começando a acontecer” (a matéria apresenta uma bem organizada tabela de impactos para as diferentes regiões do mundo).
Daniela Chiaretti, no Valor, comenta vários dos impactos da crise climática levantados pelo IPCC e reproduz a fala da sulafricana Debra Roberts, copresidente do Grupo de Trabalho II do IPCC: “Os eventos [climáticos] extremos são múltiplos e simultâneos e os riscos são mais difíceis de manejar (…) O calor e a seca combinados [por exemplo] reduzem lucros e produtividade agrícola, aumentam os riscos sociais aos trabalhadores no campo, assim como o preço dos alimentos na região e, potencialmente, em todo o mundo”.
O que fazer? A primeira resposta é usual, mas ainda não levada a sério por governos e líderes dos negócios globais: temos que reduzir as emissões parando rapidamente de queimar combustíveis fósseis e de desmatar, e isto a partir de já. Como destaca Mara Gama, no UOL, “se o aquecimento global continuar e medidas ineficazes forem implementadas, mais de 183 milhões de pessoas passarão fome até 2050. Mesmo se o aquecimento ficar abaixo de 1,6°C até 2100, 8% das terras agrícolas atuais se tornarão inadequadas.”
A segunda resposta é adaptar as populações, a infraestrutura e os processos econômicos aos impactos das mudanças climáticas, com reforça fortemente o relatório. A urgência na adaptação fica clara neste destaque feito por Daniela Chiaretti no Valor: entre os mais vulneráveis, “a mortalidade causada por eventos climáticos extremos foi 15 vezes maior, na última década, do que em regiões mais adaptadas (…) o mundo tem que reduzir emissões de gases-estufa, mas a palavra de ordem é adaptar”.
Em outra matéria para o Valor, Daniela Chiaretti destaca as palavras de Hoesung Lee, o economista sul-coreano que preside o IPCC desde 2015:
“Este relatório é um aviso terrível sobre as consequências da falta de ação. Mostra que a mudança do clima é uma grave e crescente ameaça ao nosso bem-estar e a um planeta saudável. Nossas ações de hoje moldarão como as pessoas se adaptam à natureza e responderão aos riscos crescentes do clima.”
Já o Secretário Geral da ONU, Antonio Guterres, conclamou a comunidade internacional a agir com mais vigor dizendo que “o mundo vai na direção de uma catástrofe, mesmo se forem respeitados os compromissos atuais contra as mudanças climáticas”. Guterres também ressaltou uma informação fundamental do relatório: “Quase metade da humanidade vive na zona de perigo – hoje e agora’’, informa outra matéria do Valor.
Fonte: Climainfo
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