Documento redigido como base para as negociações climáticas cria expectativa de reformulação significativa entre ambientalistas
A Conferência do Clima de Sharm el-Sheikh está chegando ao fim com algumas organizações ambientais bastante alarmadas, graças ao primeiro rascunho do que poderia ser o acordo abrangente da cúpula do clima COP27, publicado pela agência climática da ONU na quinta-feira, dia 17 de novembro.
O documento ainda está longe de sua versão final, mas já acendeu o sinal de alerta para diversas ONGs, que manifestaram preocupação com o seu conteúdo. Yeb Saño, chefe da delegação Greenpeace na COP27, afirmou que o texto “aperta o acelerador em direção a um inferno climático”.
Baseado em pedidos que delegados de quase 200 países, este documento inicial fornece uma base para as negociações nos próximos dias, que provavelmente aprofundarão e reformularão substancialmente o texto.
As principais críticas se devem ao fato do documento não exigir a redução gradual de todos os combustíveis fósseis, como a Índia e a UE solicitaram. O texto não inclui ainda detalhes para o lançamento de um fundo para perdas e danos, uma demanda importante dos países mais vulneráveis ao clima, como as nações insulares.
Em vez disso, “saúda” o fato de que as partes concordaram pela primeira vez em incluir “assuntos relacionados a acordos de financiamento em resposta a perdas e danos” na agenda da cúpula.
Outro ponto de atenção é a ausência de um cronograma para decidir se um fundo separado deve ser criado ou como deve ser, dando tempo para possíveis negociações e manobras.
Mais do mesmo?
O rascunho apresentado repete a meta do pacto climático de Glasgow do ano passado de “acelerar as medidas para a redução gradual da energia a carvão ininterrupta e eliminar gradualmente e racionalizar subsídios aos combustíveis fósseis”. No ano passado foi a primeira vez que uma decisão acordada por todas as partes mencionou os combustíveis fósseis e o carvão como parte do clima.
O documento “enfatiza a importância de envidar todos os esforços em todos os níveis para atingir a meta de temperatura do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais e buscar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C acima níveis pré-industriais”.
Frustação e alerta
“Depois de inicialmente não mencionar os combustíveis fósseis, o rascunho do texto é uma abdicação da responsabilidade de capturar a urgência expressa por muitos países de ver o petróleo, o gás e o carvão terem pelo menos uma fase de redução. É hora de acabar com a negação, a era do combustível fóssil deve chegar a um fim rápido”, enfatizou Yeb Saño.
Para Joseph Sikulu, do Pacific Climate Warriors e 350.org, o texto realmente exclui pontos fundamentais. “O texto de capa divulgado esta manhã não representa o apelo tanto das salas de negociação quanto da sociedade civil por uma eliminação gradual justa, equitativa e gerenciada de todos os combustíveis fósseis. Qualquer coisa menos do que alcançamos em Glasgow fará com que a COP27 seja considerado um fracasso pelo mundo”.
A ativista ambiental e escritora Tzeporah Berman, da Stand.earth, também expressou frustação com o rascunho do texto que, segundo ela “ignora a ciência de 1,5ºC” e abre “brechas grandes o suficiente para conduzir uma plataforma de perfuração.”
Um contraponto às críticas iniciais veio do Dr. Simon Evans, da Carbon Brief. Em seu Twitter ele compartilhou o que chamou de “palavras sábias” do Climate Home: “Este não é um texto que foi discutido pelos países, mas elementos que refletem o que o Egito reuniu em consultas … As negociações formais sobre o texto ainda estão em andamento.”
Por CicloVivo com informações de The Guardian e Agência Reuters
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