Há 16 anos, ribeirinhos de 15 comunidades de Manicure (AM) lutam pela criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS). Em 2020, o governo do Amazonas chegou a negar o pedido, uma decisão contestada pelas famílias e o Ministério Público na Justiça do Estado. Em março, finalmente eles receberam a Concessão do Direito Real de Uso Coletivo (CDRU). No entanto, os problemas não terminaram por aí.
A equipe da Amazônia Real visitou a comunidade em junho passado, junto com o Greenpeace Brasil, e encontraram um cenário dramático. Mesmo com a decisão da Justiça, o governo estadual se nega a ajudar os ribeirinhos a expulsar garimpeiros e grileiros que invadiram a área. Como resultado, eles sofrem com ameaças e com os efeitos da exploração ilegal de ouro, como a contaminação por mercúrio e a ocorrência de queimadas desenfreadas.
Além de se omitir, as autoridades amazonenses seguem processando pedidos de licenciamento ambiental de terrenos dentro da área da reserva extrativista, o que já deveria ter sido interrompido. “Só o Estado pode fazer fiscalização do que está acontecendo aqui dentro e o mapeamento da emissão dos títulos que existem aqui. Há planos de se construir vicinais cortando essa área e ligando Santo Antônio do Matupi a Manicoré, e que isso afetaria muito toda essa floresta, tendo em vista que na Amazônia quando você pega todo o desmatamento cerca de 90% dele ocorre a 100 Km de estrada”, explicou Rômulo Batista, do Greenpeace.
Um dos focos de origem da pluma de fumaça que cobriu Manaus no último final de semana está em Manicoré. Os incêndios que acontecem no sul do Amazonas estão sendo impulsionados pelo tempo seco e quente: de acordo com o g1, dados do INMET indicam que o município registrou máximas superiores a 36ºC nos dias 6 e 9 de agosto. Outros municípios do interior do estado, como Lábrea e Tefé, também experimentaram um calor acima do normal em agosto.
Em tempo: O tabuleiro do desenvolvimento sustentável e do equilíbrio climático na Amazônia passa por três pontos: sua população de oito milhões de desempregados, seu estoque de 64 milhões de hectares de áreas abertas e suas 550 a 730 gigatoneladas de carbono estocadas na floresta.
No Valor, Daniela Chiaretti destacou as sugestões do Projeto Amazônia 2030 para responder a esse cenário: primeiro, restaurando a floresta original; segundo, aumentando a extração e as exportações de frutas tropicais, peixes e castanhas do Brasil que a região produz, mas que ainda responde a um percentual mínimo na balança comercial do país; terceiro, buscar oportunidades dos mercados de carbono para facilitar a proteção dos estoques atuais de CO2 (leia-se, manter a floresta em pé) e viabilizar novos fluxos de financiamento; e, finalmente, harmonizar a demanda de expansão do agronegócio com o reflorestamento de áreas pela indústria de papel e celulose ou plantações de óleo de palma.
Texto publicado originalmente por CLIMA INFO
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