Fortificar a ZFM e a adotar uma pauta verdadeiramente sustentável é a grande oportunidade da posição de Manaus na Amazônia. Não podemos deixá-la passar – é necessário compreender que preservar a floresta é o mesmo campo do incentivo à indústria.
Por Augusto Cesar Rocha
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Há visões de mundo em debate: há aquecimento global ou não? A ciência ajuda a construir o futuro ou a destruir? O ideal é um mundo mais tecnológico ou menos tecnológico? A globalização ajuda ou atrapalha? A internet é um veículo para integrar ou para dividir? O melhor é avançar para um futuro com mais esperança ou é no passado o local onde encontrávamos a prosperidade?
A indústria na Zona Franca de Manaus é parte de uma construção onde a floresta precisa ser protegida e ela o faz, direta ou indiretamente. Sua contribuição é inegável. Fábricas do mundo todo transformaram Manaus de uma cidade bucólica do interior da Amazônia em uma metrópole multicultural, com gestão e práticas europeias, asiáticas, norte-americanas ou brasileiras. Temos um apelo e um jeito global, por mais que a renda e a pobreza se alastrem, por diversos motivos – é só olhar nas ruas.
Esta indústria interage com universidades, escolas técnicas e a sociedade menos qualificada, trazendo empregos de todo o tipo e estimulando empresas locais. Há, sem dúvida, um ecossistema para a produção de motocicletas, televisores, bens de informática e outros produtos. Portanto, faz muito mais sentido para a cidade e para o Estado estarem vinculados com apelos preservacionistas do que destruidores. Faz muito mais sentido um futuro de ciência, tecnologia e inovação do que um retrocesso para derrubada das florestas para o pasto.
Defender uma pauta industrial, que é construída com um esforço global, poderá gerar riqueza para a Amazônia. Afinal, a arrecadação gerada pelo agronegócio é pífia, ao contrário dos tributos gerados pela indústria, por mais que existam renúncias fiscais em alguns deles. Os empregos e a remuneração gerada na indústria é de longe de melhor qualidade do que é o que se verifica nas mineradoras, mesmo as mais responsáveis e globais.
Acontece que nas Periferias no interior da Amazônia, como analisado por Aiala Colares Couto, em um brilhante livro da Editora Mórula, há uma rede de relações que se constrói por uma base muito mais primitiva, em uma territorialidade de apropriação e dominação político-econômica que tem gerado um contexto amplo de violências. Entender e transformar o potencial da Amazônia em riqueza para as suas sociedades pode ser algo de fácil entendimento no conceito, mas será muito difícil a transformação, pois a ausência secular do Estado na região cobra seu preço a cada dia.
Fortificar a ZFM e a adotar uma pauta verdadeiramente sustentável é a grande oportunidade da posição de Manaus na Amazônia. Não podemos deixá-la passar – é necessário compreender que preservar a floresta é o mesmo campo do incentivo à indústria. Voltar à agricultura é o mesmo campo do desincentivo à ciência e a negação do aquecimento global. Precisamos mais das ciências sociais, para enfrentar um mundo tão odiento e ao mesmo tempo de tão fácil compreensão, quando se coloca luz sobre as políticas e debates.
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