Brasileiro fala sobre as possibilidades do aço verde na construção. E como demais setores e o planeta podem ser beneficiados.
Não é exagero dizer que o aço está na estrutura do setor de construção. A construção civil representa quase 40% do consumo aparente de aço no Brasil. O que significa que, para chegar ao resultado “carbono zero” ou, até mesmo, no “carbono neutro”, o setor precisa contar com formas diferentes e mais sustentáveis de se produzir aço. Para Tadeu Carneiro, CEO da startup norte-americana Boston Metal, o aço verde na construção seria um caminho.
“É muito claro que a emissão de gás carbônico precisa ser resolvida. E, sabendo que o aço é responsável por quase 10% de toda a emissão de CO2 no mundo, reduzir esse ponto é muito importante. Não só para o setor de construção, mas para outras indústrias: o metal é um dos mais importantes no uso da engenharia. Não tem como pensar em infraestrutura sem aço, não tem economia sem aço”, afirma o executivo que lidera a empresa que encontrou uma das fórmulas para o “aço verde”.
A startup foi citada pelo secretário de Estado dos Estados Unidos durante a Cúpula do Clima de 2021 como exemplo de como a tecnologia vai levar a uma economia “carbono zero”. Em entrevista ao Habitability, Carneiro falou sobre as potencialidades e a inovação de produção de aço primário usando eletricidade patenteada pela Boston. O produto é um aço cujo processo produtivo fabrica oxigênio e não CO2.
Depois de 40 anos atuando na indústria siderúrgica e de metal, o brasileiro de 62 anos de idade deixou de lado a aposentadoria em 2016 para liderar o projeto. “Eu já estava com a casa de praia montada”, brinca ele. Mas quando viu a proposta e os achados dos pesquisadores do MIT e da Boston Metal, Carneiro foi correndo para a gelada Massachusetts, nos Estados Unidos.
Carvão? Só para churrasco
A tecnologia da Boston Metal conseguiu retirar o carvão da produção do aço. “Na natureza, o ferro não está na forma metálica, mas sim, em forma de um óxido. Para se obter o ferro é preciso reduzir o minério de ferro à metal. A forma que tem se usado hoje em dia é com carbono, ou seja, carvão”, tenta simplificar o executivo. A produção de CO2, nesse modelo, faz parte do jogo.
O que a Boston Metal faz é chegar no metal por meio da eletricidade utilizando a eletrólise de óxido fundido (MOE, em inglês). Dentro de um forno revestido de refratário, é possível adicionar minério de ferro em uma mistura de óxidos derretidos, mais estáveis do que o de ferro. “Quando passa a eletricidade, ela quebra a ligação do óxido de ferro, que é o menos estável deles. Ele também libera as impurezas do minério de ferro e o que sobra é um ferro puro líquido”, diz Carneiro.
Dessa forma, a tecnologia da Boston Metal consegue aproveitamento de qualquer tipo de minério de ferro, independentemente da qualidade. Diferentemente do que acontece com a alternativa ao aço verde, que é o uso do hidrogênio. “O problema que existe com o uso do hidrogênio é que ele é muito limitado. Ele precisa de minério que, para chegar na quantidade de hidrogênio verde, demanda o uso minérios de ferro muito ricos e existe porcentagem pequena que permite o uso do hidrogênio. Além de todo o problema da tecnologia que precisa desenvolver e chegar na quantidade de hidrogênio verde e barato para isso, tem essa outra limitação natural”, diz Carneiro.
No processo da Boston Metal, ao quebrar o óxido de ferro sem precisar do carbono, ocorre naturalmente a liberação de oxigênio. Além disso, há outro ponto positivo para o meio ambiente: menos espaço. “Se usar o processo, não precisa de carvão, coqueria, carro forno, carro torpedo, forno de fabricação de aço, não precisa de nada. Substitui-se tudo isso por células. O minério de ferro só precisa ser seco, não precisa ser pelotizado”, explica.
“Além disso, é um processo modular, já que depende da quantidade de células eletrônicas que colocamos para produzir o aço. Se o espaço precisa de mais capacidade, adicionam-se as células. Com isso consegue fazer o aço verde”, diz ele. Tudo isso acaba indo ao encontro da indústria da construção civil porque há possibilidade de reduzir os custos das matérias-primas de obra.
Aço verde na construção impacta outros setores
“Quando tiver eletricidade na mina de ferro, poderá fazer o ferro lá. Só precisa do minério. Empresas como a Vale ou a BHP podem levar um ligamento metálico, muito mais leve e com mais valor agregado”, explica Cordeiro. Fica para as siderúrgicas a função de fazer a transformação final do aço acabado.
A liga metálica tem 40% menos massa e peso do que o minério de ferro. “A descarbonização acaba sendo em toda uma cadeia, porque ajuda bastante a reduzir a emissão de CO2 do transporte”, disse o executivo. A conversa, nesse ponto, também toca as cidades, principalmente as portuárias, já que o carregamento do minério de ferro tem impactos não só na infraestrutura de mobilidade do espaço, como também no meio ambiente.
De projeto à realidade
Mas quando o mercado terá acesso a essa tecnologia? A planta de demonstração para produzir aço será feita entre 2024 e 2025 e Carneiro projeta a entrada ao mercado em 2026. Atualmente, a companhia passou por uma série de investimentos de fundo verde, incluindo o Breakthrough Energy Ventures, um fundo de Bill Gates, e está finalizando uma planta piloto nos Estados Unidos. “Estamos testando três tamanhos diferentes de célula piloto para entender como estabilizar o processo e fazê-lo ganhar escala”, comentou o executivo. A fábrica piloto permite interações mais rápidas no projeto. “Toda semana estamos mudando e encontrando condições favoráveis para deixar o projeto cada vez mais próximo do tamanho industrial”, comemora o executivo.
Fonte: Habitality
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