A transição energética passa pela disputa geopolítica entre EUA e China, uma versão século 21 do Grande Jogo, desta vez em troca de um punhado de metais. O Grande Jogo (Great Game) se deu na disputa colonialista entre os impérios britânico e russo na 2ª metade do século 19 pela dominação das terras e povos da Ásia Central. Já a necessária transição energética pode vir a exigir baterias e eletrônicos que, neste momento, dependem de cobalto, lítio, cobre, níquel e elementos da família das terras raras.
Uma matéria do New York Times fala da disputa pelo cobalto, tido como essencial para baratear e aumentar a escala da produção de baterias, principalmente para os veículos elétricos. A República Democrática do Congo detém quase metade das reservas do elemento químico e 70% de sua produção. Há cinco anos, a China comprou as duas maiores minas dos EUA. No território chinês estão as maiores reservas de terras raras, as de níquel ficam na Indonésia, as de cobre no Chile e as de lítio na Austrália. No entanto, a China é a maior refinadora de todos os materiais. A matéria diz que “a disputa pelo cobalto do Congo mostra como a revolução da energia limpa, destinada a salvar o planeta do aquecimento […] está presa em um conhecido ciclo de exploração, ganância e trapaça que muitas vezes coloca as estreitas aspirações nacionais acima de tudo” com o também conhecido desrespeito pelas populações locais.
Além da reedição de guerras comerciais colonialistas, a transição também provoca dissonâncias entre as narrativas e as práticas da indústria automotiva. Peter Campbell, do Financial Times, conta ainda durante a COP, que Herbert Diess, CEO da VW, dizia que a mudança climática será o maior desafio das próximas décadas e, ao mesmo tempo, via a empresa não aderir ao compromisso de parar de vender veículos fósseis após 2040. Em todo caso, a empresa planeja só produzir elétricos para o mercado europeu.
Uma pesquisa da Consumer Reports revelou que os elétricos estão ruins no quesito confiabilidade, recebendo notas baixas não por conta da bateria ou do desempenho do motor, mas, sim, das falhas nos mil e um acessórios que fabricantes como a Tesla enfiam para o carro parecer moderno. A Bloomberg comentou a pesquisa.
Em tempo: A jurássica Petrobras mostrou mais uma vez que vive na idade do pré-aquecimento global. Nicola Pamplona, na Folha, conta que a empresa, mais uma vez, não incluirá as fontes limpas no seu plano estratégico para os próximos 5 anos. A direção alega que precisa focar em reduzir prejuízos e que as renováveis não são rentáveis o suficiente. Se, nesse momento, o preço do barril de petróleo está alto, no ano passado ele andou um bom tempo em um nível só visto no século passado, chegando a ficar negativo. Roberto Kishinami, do iCS, diz que a empresa está perdendo o bonde da história além de correr o risco de perder muito dinheiro: “Até a próxima COP teremos vários grupos técnicos trabalhando para fazer um levantamento de quais são os subsídios e de como podem ser eliminados”. E continua: “É um parafuso que só vai apertar cada vez mais.”
Fonte: ClimaInfo
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