A incapacidade (ou indisposição, a depender do ponto de vista) do governo Bolsonaro em reverter o mau humor internacional com a política ambiental brasileira tem um preço para o país. Poucas vezes na história recente o Brasil enfrentou tamanha desconfiança de governos, consumidores, empresas e investidores no exterior, o que já está prejudicando a competitividade dos produtos brasileiros no mercado externo.
Na BBC Brasil, João Fellet conversou com Natalie Unterstell, veterana das negociações climáticas da ONU e especialista em política para o clima, que destacou a sinuca-de-bico do Brasil no tabuleiro global. “Países vizinhos, como a Colômbia, estão percebendo a oportunidade e um vácuo que o Brasil está deixando em relação à proteção da Amazônia e se posicionando superbem para estabelecer acordos bilaterais [para a proteção da floresta]”, disse. “Se o Brasil deixar, e o Brasil está deixando, esse espaço será ocupado por outros países”. O alerta é parecido no artigo de Alexander Busch na Deutsche Welle: a falta de credibilidade e a percepção de que o governo Bolsonaro não está realmente comprometido com uma agenda de proteção ambiental e de ação climática estão tornando o Brasil um país cada vez mais tóxico no exterior. “Opção pelo isolamento vai custar caro à economia”, escreveu.
A impressão que passa é que a “virada” no discurso ambiental de Bolsonaro e Salles se explica mais pela necessidade de criar um noticiário positivo para contrastar com o desastre econômico e sanitário causado pelo governo no último ano. O problema é que, diferentemente do que o Planalto insiste em repetir, o problema ambiental brasileiro não é fruto de “falta de comunicação”, mas de falta de substância. “Começaram a usar a receita do bolo mais servido na capital federal em tempos de crise: quando há algo errado, coloca-se a culpa na comunicação. Em seguida, é retirada do bolso do paletó uma lista com medidas concretas ou propostas genéricas, muitas das quais com poucas chances de prosperar sem o uso de fermento. Pouco importa”, argumentou Fernando Exman no Valor.
Em tempo 1: A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, pediu à Procuradoria-Geral da República (PGR) que se manifeste sobre dois pedidos de abertura de inquérito para investigar a conduta de Ricardo Salles em favor de madeireiros suspeitos de ilegalidades na Amazônia. Um dos pedidos foi apresentado pelo ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, que acusou o ministro de atrapalhar as investigações acerca da apreensão de uma carga de madeira suspeita na divisa com o Pará no final do ano passado. O outro pedido foi apresentado pelo PDT logo após a direção da PF exonerar Saraiva do posto. Para a ministra do STF, as acusações contra Salles são de “gravidade incontestável”. Estadão, O Globo e Valor deram mais detalhes.
Em tempo 2: A Coca-Cola foi a multinacional mais recente a embarcar na canoa do programa “Adote um Parque”, criado por Salles para terceirizar os custos de proteção de Unidades de Conservação e conter parte das críticas internacionais à devastação da Amazônia. Segundo a Reuters, a subsidiária brasileira da gigante norte-americana se comprometeu a destinar cerca de US$ 120 mil para a preservação da Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) Javari-Buriti, com 132 km2 e localizada no Amazonas, por um período de um ano.
Fonte: ClimaInfo
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