Incêndio iniciou na quinta-feira (2) e levou mais de 13 horas para ser contido. Multa para o proprietário da fazenda onde iniciou o fogo foi calculada em 312 mil reais
Um incêndio atingiu a Estação Ecológica de Murici (Esec Murici) no interior do estado de Alagoas, na tarde de quinta-feira (2). A brigada de incêndio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) levou mais de 13 horas para conter o fogo, que se espalhou por um relevo de difícil acesso. As chamas foram iniciadas na Fazenda Jitituba e consumiram 26 hectares de mata no interior da Unidade de Conservação (UC) de Proteção Integral. A multa para o proprietário da Fazenda foi calculada em 312 mil reais.
Na sexta-feira (3), agentes ICMBio foram ao local para mensurar a área atingida dentro da Esec, e a partir daí calcular o dano ambiental e o valor da multa a ser aplicada. De acordo com Marco Antônio Freitas, analista ambiental e agente de fiscalização do ICMBio, a maior parte queimada foi de pastagem, mas o fogo também atingiu parte da Esec, entrando cerca de 100 a 150 metros na borda da mata e se estendendo por 4.4 km em linha reta, numa área chamada Serra da Santa Fé, entre as cidades de Murici e Messias. “O fogo começou no pasto da Fazenda Jitituba, no trecho leste da Esec de Murici, e terminou na Fazenda Santa Fé”, esclareceu o analista.
Freitas explica que, mesmo que o fogo não tenha sido causado pelo proprietário da fazenda, ele deve responder pelo ocorrido. “Todo proprietário de fazenda que fica em área de proteção é responsabilizado pelo fogo, seja ele qual for. Se tiver sido iniciado por um caçador, uma limpeza de pasto ou uma ponta de cigarro, ele é responsável por tudo o acontece no local. Então ele tem que zelar pela mata”.
O analista destacou que, no local atingido pelas chamas, não haviam mecanismos de proteção contra incêndios. “Uma propriedade que está dentro de uma reserva não pode deixar de ter um aceiro, que é uma estrada ou área limpa entre a mata e o pasto, que impede o fogo de se alastrar”.
Por fim, o analista avaliou que a área atingida deverá ser cercada, para que o trecho de mata atingida se regenere. “O que iremos recomendar dentro do processo administrativo que será instaurado pelo ICMBio é que ele [o proprietário] cerque a área novamente para evitar que o gado penetre na área de regeneração, e que ele faça um aceiro, mantendo limpo e com manutenção, para evitar futuros incêndios”.
A Esec Murici
A Estação Ecológica de Murici, criada em maio de 2001, possui 6.131,63 hectares, abrangendo parte dos municípios de Murici, Messias e Flexeiras, em Alagoas.
A Estação Ecológica é uma das categorias que se enquadram no grupo das UCs de Proteção Integral. Estas UCs têm como objetivo básico conservar biodiversidade, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. Mais especificamente, no âmbito das unidades classificadas como Estação Ecológica, é permitida apenas a realização de pesquisas científicas, e/ou a promoção de turismo ecológico com objetivos educacionais, quando devidamente disposto no Plano de Manejo, documento técnico com os objetivos gerais da UC, o qual estabelece seu zoneamento e normas.
A área da Esec Murici é considerada prioritária para a conservação de aves, sendo o habitat de pelo menos três espécies endêmicas (que são encontradas somente na região): Pyrrhura griseipectus e Carpornis melanocephalus, registradas somente na ESEC Murici, e Myrmotherula snowi, encontrada também somente na RPPN Frei Caneca.
Além disso, a Esec Murici é um dos últimos habitats da jararaca-de-murici (Bothrops muriciensis), a maior jararaca do Brasil, também endêmica da região.
Na área da Esec havia, ainda, a ocorrência do limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi), ave criticamente ameaçada de extinção que era encontrada apenas na Esec Murici e na Serra do Urubu. O último registro documentado da espécie foi em setembro de 2011, sendo considerada extinta em 2014.
A Esec Murici é a maior UC de Proteção Integral dentro do Centro de Endemismo Pernambuco (CEP), o setor da Floresta Atlântica brasileira localizada ao norte do Rio São Francisco. Os remanescentes de mata do CEP possuem a maior probabilidade de perda de espécies no bioma Mata Atlântica – que possui a cerca de 12% da sua extensão original – e, por isso, compõem uma das regiões do planeta onde os esforços de conservação são mais urgentes.
Fonte: O Eco
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