Até três vezes maior do que a desnutrição infantil causada pela pandemia da Covid-19, número é considerado um ano inteiro perdido para a erradicação da fome até 2030
Um novo estudo de pesquisadores dos Estados Unidos revelou que os impactos de um El Niño forte levam quase 6 milhões de crianças à desnutrição ao redor do mundo. Publicada na terça-feira (12/10) no periódico Nature Communications, a pesquisa revelou que o número é até três vezes maior do que a quantidade de crianças que passaram fome por causa da pandemia de Covid-19.
“Teria sido muito difícil preparar o mundo para uma pandemia que poucos esperavam, mas não podemos dizer o mesmo sobre os eventos do El Niño que têm um impacto potencialmente muito maior no crescimento e na saúde das crianças a longo prazo”, afirma Amir Jina, autor do artigo e professor na Universidade de Chicago, em comunicado.
Capaz de alterar padrões de vento em todo o planeta e consequentemente afetar regimes de chuva em regiões tropicais, o fenômeno climático é causado por um aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico Tropical. Com uma ocorrência entre quatro e sete anos, os especialistas acreditam em ações de prevenção. “Os cientistas podem prever uma aproximação do El Niño com até 6 meses de antecedência, permitindo que a comunidade internacional intervenha para evitar os piores impactos”, aponta Jina.
Entre 1986 e 2018, o professor e dois colegas reuniram dados de mais de 1 milhão de crianças de até quatro anos que residem em países em desenvolvimento afetados pelo El Niño — juntos, eles correspondem a cerca de 48% da população mundial com menos de cinco anos.
A análise revelou que as condições mais quentes e secas do fenômeno originado no Pacífico agravam o cenário de meninas e meninos vivendo em trópicos, onde 20% deles já são considerados severamente abaixo do peso pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No caso do grave El Niño de 2015, mais 6 milhões de crianças foram levadas abaixo do limite de peso, o que indica prejuízos de longo prazo em seu crescimento ainda que, no futuro, elas consigam recuperar o peso.
O estudo sugere que a erradicação da fome e desnutrição — um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030 — só aconteceria se, a cada ano, 6 milhões de crianças saíssem da condição de fome severa. Para compensar o apagamento de um ano de progresso em 2015, seria necessário oferecer suplementos de micronutrientes a 134 milhões de crianças ou, ainda, garantir comida a 72 milhões de crianças com insegurança alimentar.
“São eventos rotineiros no clima que levam a tragédias reais ao redor do mundo”, diz o coautor Jesse Anttila-Hughes, da Universidade de São Francisco. Ele acredita que o estudo do El Niño pode trazer importantes lições sobre efeitos globais. “Mas o fato de que enfrentamos um El Niño a cada poucos anos, sabemos que ele virá e mesmo assim não agimos é um mau sinal, já que muitas dessas alterações — de ondas de calor isoladas a furacões — serão bem menos previsíveis conforme as mudanças climáticas avançam”, alerta.
Fonte: Um só Planeta
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