Análise realizada por pesquisadores da USP constatou concentração elevada de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) na atmosfera, provocada pelas queimadas
Análise da composição química do material particulado que circula no ar de Ribeirão Preto, realizada pela professora Maria Lúcia de Arruda Moura Campos e pela pesquisadora Caroline Scaramboni, ambas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, apontou a presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) na atmosfera. O fato chamou a atenção pelo potencial cancerígeno desses compostos.
A elevada concentração desses compostos é resultado das queimadas que ocorrem na região e, somada ao tempo seco, tem deixado Ribeirão Preto imersa em uma nuvem de neblina e fumaça. Aumenta ainda mais a preocupação das pesquisadoras a possibilidade de consequências ainda desconhecidas à saúde, já que testes com o extrato desse material particulado em células do fígado mostraram danos, inclusive no DNA. “Nós estamos respirando um material particulado que está indo para nossa corrente sanguínea e não sabemos quais são as consequências disso”, alerta a professora.
E as preocupações são justificadas. Sem chuvas e com umidade relativa do ar em torno dos 20%, muito abaixo dos 50% a 80% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) registrou no dia seis de setembro o menor nível de qualidade do ar em 70 anos na cidade. De acordo com a professora, foi também a pior qualidade do ar verificada em todo o Estado.
O que forma o “ar denso” que respiramos?
Especialista em química ambiental, Maria Lúcia diz que o ar denso que os ribeirão-pretanos estão respirando é composto de “uma somatória de gases e de partículas”. A fumaça das queimadas apresenta monóxido de carbono (CO), que é “extremamente tóxico em concentrações muito baixas”, adianta a professora, afirmando que a substância provoca sufocamento em quem a inala. A ocorrência do CO é resultado da queima de matéria orgânica, também conhecida como biomassa, “uma combustão incompleta que libera esse tipo de gás”.
Além do CO, Maria Lúcia destaca a presença de gases ácidos, “principalmente, os óxidos de nitrogênio e os óxidos de enxofre” que, quando inalados, provocam irritação das vias respiratórias.
A queima da vegetação aumenta a presença de fuligem na atmosfera, mas isso, segundo a professora, não representa o mal maior. “A gente tem que ficar preocupado com as partículas finas”, alerta, garantindo que essas são “as inaláveis danosas à nossa saúde”.
Danos à saúde
A fumaça também é uma substância que causa inflamação e irritação das vias respiratórias, explica a médica pneumologista Rosângela Villela Garcia, doutoranda na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. A irritação ocorre tanto nas vias aéreas superiores – nariz e garganta – como no pulmão.
Enquanto nariz e garganta filtram o ar que entra em nossos corpos, “grandes partículas que ficam acumuladas no nariz causam irritação, piora dos sintomas de rinite, aumento de secreção no nariz ou um ressecamento muito importante que pode causar sangramento nasal também”, conta a médica.
Essas partículas também se acumulam no pulmão, causando uma inflamação crônica e piora dos sintomas respiratórios, “principalmente para aquelas pessoas que já têm antecedente de doença respiratória, como asma, bronquite, enfisema e muitas outras doenças respiratórias prévias”, afirma Rosângela, adiantando que mesmo quem nunca teve problemas respiratórios pode desenvolvê-los nessa época do ano.
Para amenizar os impactos do tempo seco e da fumaça, a médica aconselha o uso de umidificador de ar dentro de casa, que “deve ser higienizado só com água, no máximo com detergente neutro, e enxaguar bem depois”. A troca da água deve ocorrer a cada uso para evitar o crescimento de bactérias e fungos causadores de infecções respiratórias. Para os que não possuem umidificador, Rosângela sugere usar uma toalha grossa bem molhada ao lado da cama quando for dormir, ou uma bacia com boca larga com pouca água no fundo.
Fonte: Jornal da USP
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