Um novo método de mapeamento baseado em dados de mais de 45 anos pode ajudar a identificar o que está causando o desmatamento tropical e onde as florestas são mais vulneráveis à degradação e incêndios futuros.
As florestas tropicais estão sob crescente pressão da atividade humana, como a agricultura. No entanto, para implementar medidas eficazes de conservação, os tomadores de decisão locais devem ser capazes de identificar com precisão quais áreas da floresta são mais vulneráveis.
Um novo método de análise liderado por pesquisadores do Centro Francês de Pesquisa Agrícola de Desenvolvimento Internacional (CIRAD), do Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) e da Universidade de Rennes-2 poderia ser a chave.
Uma mudança de paradigma
O método concentra-se no conceito de vulnerabilidade da floresta, significando a exposição da floresta a ameaças e sua capacidade de se recuperar delas. Anteriormente, esse conceito de vulnerabilidade, definido pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), era usado apenas em relação aos efeitos das mudanças climáticas nas florestas.
Os pesquisadores são pioneiros no uso do conceito de vulnerabilidade florestal em termos de atividade humana, além de integrar imagens de cobertura florestal e mudanças no uso da terra em uma análise holística e detalhada. Esse uso combinado de dados marca uma mudança de paradigma na maneira como a vulnerabilidade da floresta é calculada.
O método foi testado pela primeira vez no distrito de Di Linh, no Planalto Central do Vietnã, onde o cultivo de culturas comerciais como o café transformou as áreas florestais em áreas vulneráveis à seca, à erosão do solo e à eclosão de incêndios.
Meio século de dados
Os pesquisadores combinaram o mapeamento em mosaico do uso atual da terra com 45 anos de imagens de satélite Sentinel-2 e Landsat. Juntos, esses dados forneceram uma imagem detalhada de como o território havia mudado ao longo do tempo e permitiram a identificação precisa das áreas mais vulneráveis.
“Mostramos que as áreas mais vulneráveis são compostas por florestas degradadas, uma alta fragmentação do habitat florestal que aumenta a sensibilidade de uma floresta a incêndios e a presença do café por extensão”, disse Clément Bourgoin, cientista do CIAT e Ph. D. aluno do CIRAD que ajudou a desenvolver o método. “Esses mapas tornam possível atingir áreas onde devemos limitar a expansão das culturas e aumentar a capacidade de resposta das florestas, limitando a fragmentação”.
Os resultados do estudo, publicado no International Journal of Applied Earth Observation and Geoinformation , mostram como o desenvolvimento de infraestrutura, café, arroz e outras culturas na região tem sido às custas das florestas sempre verdes. Ele revela que, desde 1973, a cobertura florestal sempre verde na região foi reduzida de 100 para 60 milhões de hectares, como conseqüência direta da expansão agrícola. O desmatamento atingiu o pico em 1992 e desacelerou nos últimos anos, embora novas áreas ainda estejam sendo convertidas e evidências de degradação e fragmentação ainda possam ser vistas.
Capacitar tomadores de decisão
O método foi testado na região como parte de um projeto piloto de REDD + (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) que visa ajudar tomadores de decisão, como planejadores de uso da terra e guardas florestais locais, no monitoramento de florestas. Os pesquisadores esperam que o mapeamento leve a um monitoramento mais regular da vulnerabilidade da floresta por meio de sistemas como o Terra-i, que podem detectar o desmatamento quase em tempo real.
A equipe aplicou um método semelhante a uma antiga frente de desmatamento em Paragominas, no estado brasileiro do Pará, e espera publicar um estudo com suas descobertas no próximo ano.
Fonte: EcoDebate
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