O arquipélago de Nova Caledônia, situado 1.200 quilômetros a leste da Austrália, tem a maior diversidade de corais de águas profundas do mundo, revela um novo livro publicado pelo Museu Nacional de História Natural de Paris. Na obra, um pesquisador brasileiro e um norte-americano documentam pela primeira vez 267 espécies para o local, 47 delas novas para a ciência.
“Essa região é importante para entendermos não apenas a fauna de corais do Pacífico Ocidental, mas toda essa ordem de animais, incluindo questões evolutivas e a relação entre estas e as mudanças climáticas”, explica Marcelo Kitahara, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar-Unifesp), em Santos. O brasileiro assina a obra ao lado de Stephen Cairns, da Smithsonian Institution, nos Estados Unidos.
O livro é parte dos resultados de dois projetos coordenados por Kitahara e financiados pela FAPESP: “Filogenômica da ordem Scleractinia (Cnidaria, Anthozoa): relações entre evolução da ordem e mudanças climáticas” e “Corais de profundidade do Atlântico Sul: novas percepções a partir de um estudo interdisciplinar”.
O volume 32 da série “Tropical Deep-Sea Benthos” é resultado de 37 expedições científicas realizadas pelo museu parisiense entre 1978 e 2016, as mais recentes com a presença do pesquisador brasileiro.
O estudo publicado agora teve início ainda no doutorado de Kitahara na James Cook University, na Austrália, em que ele analisou e descreveu uma parte dos espécimes coletados nas expedições francesas. No total, o livro é resultado do exame de 53.400 exemplares.
Contando com pouco menos de 300 mil habitantes, o arquipélago da Nova Caledônia é um território francês na Oceania, formado por dezenas de ilhas no sul do oceano Pacífico.
O fundo do mar possui uma grande diversidade de substratos em uma área relativamente pequena – sua Zona Econômica Exclusiva tem 1,1 milhão de quilômetros quadrados. Junto com a confluência de correntes marítimas ricas em nutrientes, esse fato é tido como a principal hipótese para explicar a grande diversidade local de corais de águas profundas, também conhecidos como azooxantelados.
Como o próprio nome diz, esses organismos não possuem zooxantelas, algas que vivem em simbiose com os corais atualmente mais conhecidos, os zooxantelados, de águas rasas.
Uma vez que precisam de luz do sol para realizar a fotossíntese das plantas que vivem em seu esqueleto e fornecem os nutrientes de que se alimentam, os corais que vivem próximos da superfície evoluíram formando grandes colônias, em formatos que maximizam a captação de luz (leia mais em: revistapesquisa.fapesp.br/par-perfeito).
Normalmente encontrados entre 200 e 1,5 mil metros de profundidade, portanto sem luz do sol, os corais azooxantelados desenvolveram outras adaptações. Suas formas favorecem a captação de nutrientes presentes na coluna d’água, tanto orgânicos quanto inorgânicos. Podem ainda suportar temperaturas tão baixas quanto -1oC.
Outra curiosidade sobre esses organismos é que 76% das espécies são de vida livre, ou seja, não formam colônias. Assim, alguns registros indicam que esses corais podem se arrastar no substrato, entrar e sair da areia ou mesmo inflar seus tecidos, formando algo parecido com um balão, o que possibilita o transporte pelas correntezas.
Além das 47 novas espécies documentadas, o trabalho registrou pela primeira vez no arquipélago a ocorrência de 200 outras conhecidas em outros locais. Os pesquisadores registraram, ainda, um aumento da profundidade máxima conhecida de algumas espécies tidas como vivendo em águas menos profundas para mais de 3 mil metros.
O livro Azooxanthellate Scleractinia (Cnidaria, Anthozoa) from New Caledonia, de Marcelo V. Kitahara e Stephen D. Cairns, pode ser adquirido em: https://sciencepress.mnhn.fr/en/collections/memoires-du-museum-national-d-histoire-naturelle/tropical-deep-sea-benthos.
Fonte: Agência FAPESP
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