E nesta hora, a partir de agora, só diremos amém se formos protagonistas da oração. Chega de transferir a outrem a iniciativa do construir e fabricar saídas e soluções. Manaus precisa e é capaz de gerar a base econômica da justiça coletiva de verdade e com autoridade de sacudir a exclusão social, cultural, racial, econômica na perspectiva da interação regional, inteligente e muito urgente que se impõe. Amazônia do Futuro é a Amazônia do Século 21 que já começou.
Por Fabíola Abess e Alfredo Lopes
Somos a moradia dos contrastes, convivemos com o glamour da fartura e a miséria insistente – e em constante confronto – que nos desafia e obriga a compreender e superar. Na história Manaó, apenas 30 anos, 1866 a 1896, separam a inauguração do glamuroso Teatro Amazonas – façanha de um negro que tentaram camuflar, chamado Eduardo Ribeiro – e a viagem do casal Agassiz, cuja esposa Elizabeth descrevia esta Manaus como um “amontoado de casas, das quais metade parece prestes a cair em ruínas”. A borracha ainda não era a economia principal da região e o casal levou do Amazonas impressões bem semelhantes àquelas que hoje encontramos na periferia desta capital, a sétima mais rica e, paradoxalmente, uma das mais despossuídas com deploráveis IDHs. Esta comparação serve para ilustrar este permanente paradoxo chamado Amazônia, e um contraste sócio-econômico assustador entre a riqueza aqui gerada pela economia Industrial e a paisagem miserável que hoje cerca a outrora Paris dos Trópicos, epíteto dado a Manaus, no esplendor e nas folias do látex, 1880-1910. É hora de um novo alvorecer.
Saindo aos trancos e barrancos de uma pandemia letal, conquistamos a duras penas as vacinas urgentes para nossa gente sufocada, empobrecida e esquecida. Enfim, voltamos a respirar esta molécula da vida, o O2, que muitos não relutam em chamar de Deus. Sim, o oxigênio, que dá origem à vida nos faltou em plena pandemia, levando a óbito muitos irmãos e irmãs asfixiados pela negligência com a condição humana, o patamar mais nobre da cadeia evolutiva e o status de uma criatura que é imagem e semelhança do Criador. Fique claro que não somos criacionistas. Defendemos a Ciência e a Existência em caixa alta. E não poderemos, jamais, olvidar a tragédia que se deu e nos marcou para a eternidade e que mostrou a solidariedade que define a melhor parte de todos nós. O pesadelo aos poucos se esvai, deixando ene paradoxos para elucidar e a certeza de que o sonho não acabou, a despeito de tantos tropeços. É hora de um novo começo.
Já estamos “com o pé na estrada e nada será como antes”, como diz o Clube de todas as Esquinas, apesar das nuvens e das incertezas que costumam impregnar as grandes lutas. Temos a memória viva e recente de 20 conferências da tribo em mutirão para assegurar a economia em nome da vida que o inimigo invisível ameaçou e ceifou. Mais do que um Comitê de mentes e corações frenéticos atrás de saídas num labirinto singular e aterrador, descobrimos em cada um de nós a força sobrenatural da superação que brota da comunhão e do querer bem na primeira do plural. Essa foi a senha da remissão e o princípio ativo que alimentou a esperança de tudo se ajeitar. É hora de refletir e de se renovar.
E nesta hora, a partir de agora, só diremos amém se formos protagonistas da oração. Chega de transferir a outrem a iniciativa do construir e fabricar saídas e soluções. Manaus precisa e é capaz de gerar a base econômica da justiça coletiva de verdade e com autoridade de sacudir a exclusão social, cultural, racial, econômica na perspectiva da interação regional, inteligente e muito urgente que se impõe. Amazônia do Futuro é a Amazônia do Século 21 que já começou. As rédeas estão em nossas mãos, com acolhimento interativo, diálogos construtivos e capacidade de acertar. É hora de retomar.
A economia se mostra nebulosa, aqui, ali e acolá, do sol poente ao nascente, mas amanhã, com novos retratos e muitos bilhetes, é sempre bom lembrar, no estrito cumprimento de seu dever, o sol voltará a brilhar, transformando sombras em horizontes, sementes em metamorfoses permanentes e viçosas do verbo florescer, num coro de crianças, mulheres e guerreiros, todos faceiros, relembrando entre si as origens imemoriais da herança Manaó, no simbolismo nheengatu, a Mãe dos Deuses, da Concepção, de Nazaré, da Amazônia, enfim. Viva feliz, Manaus. O sol se pôs, a noite da asfixia passou, é hora de renascer!
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