Há dez anos, o Japão testemunhava um dos maiores desastres da história recente: depois de um forte terremoto, um tsunami de 15 metros varreu parte da costa nordeste da ilha de Honshu, atingindo a usina nuclear de Fukushima. A água do mar invadiu a planta e três dos seis reatores nucleares derreteram e liberaram material radioativo na atmosfera, causando o maior acidente nuclear desde a explosão da usina de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.
Um dos efeitos colaterais do desastre em Fukushima foi o descomissionamento de diversas usinas nucleares mundo afora, especialmente na Alemanha, que decidiu pelo fechamento de todas as usinas desse tipo no país. A decisão alemã, lembrou Jens Thurau na Deutsche Welle, representou um marco não apenas pela importância histórica da geração nuclear no país, mas também pelo fato de que poucos setores políticos contestaram o fechamento das usinas nucleares – hoje, apenas seis das 17 usinas da Alemanha permanecem em operação, mas a previsão é que todas sejam fechadas até o ano que vem.
No resto do mundo, porém, a situação é diferente: após o baque causado por Fukushima, a geração de energia nuclear voltou aos níveis pré-2011, com 2.750 TWh, pouco acima dos 2.720 TWh registrados em 2010. Igor Gielow destacou na Folha que a retomada da geração nuclear está sendo puxada principalmente pela China, que incluiu essa fonte para reduzir a presença dos combustíveis fósseis na sua matriz elétrica nas próximas décadas. O plano quinquenal para 2025, apresentado na semana passada, prevê um aumento de 27% na geração nuclear chinesa.
Mesmo o Japão, palco do desastre de uma década atrás, está reativando lentamente suas usinas nucleares, também sob o argumento de que a fonte é importante para diminuir as emissões de carbono do setor elétrico do país. No entanto, o trauma de Fukushima ainda está vivo na memória de milhões de japoneses, que seguem desconfiados sobre as promessas de segurança da geração nuclear. Isso coloca mais pressão sobre o governo japonês, que se comprometeu a atingir a neutralidade líquida de suas emissões de carbono até 2050. O Financial Times fez um panorama desses dilemas. Por outro lado, a própria região de Fukushima tenta aproveitar o legado do desastre de 2011 para despontar na liderança da geração renovável de energia no Japão. Hoje, Fukushima é a maior geradora de energia solar em escala comercial do país e lar de uma das maiores usinas de hidrogênio do mundo. À Reuters, o governador de Fukushima, Masao Uchibori, afirmou que o objetivo da região é transformar sua geração elétrica em 100% de energia renovável, para acabar de vez com a dependência da energia nuclear.
Em tempo: “Cada centavo investido em energia nuclear agrava a crise climática”, argumentou o ativista Mycle Schneider à Deutsche Welle, refutando a possibilidade de que a geração nuclear possa ser uma solução para reduzir as emissões de carbono do setor elétrico. “As energias renováveis hoje se tornaram tão baratas que, em muitos casos, estão abaixo dos custos operacionais básicos das usinas nucleares”, disse.
Fonte: ClimaInfo
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