Não é novidade para ninguém as desconfianças que Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão nutrem um pelo outro. Ao que tudo indica, a COP26 será mais um fator de antipatia mútua entre presidente e vice no Palácio do Planalto.
De acordo com o Estadão, a delegação brasileira em Glasgow será chefiada pelo ministro Joaquim Pereira Leite, e não por Mourão, como vinha sendo especulado nos bastidores. O vice não escondia o desejo de encabeçar a equipe negociadora do país na COP26, mas Bolsonaro resolveu prestigiar o ministro do meio ambiente, tido como um aliado mais confiável do que o general companheiro de chapa presidencial. O Correio Braziliense também repercutiu essa notícia.
A delegação brasileira em Glasgow terá entre 80 e 100 representantes do governo federal. Pereira Leite disse não saber se o país também mandará agentes de inteligência para o encontro, tal como feito pelo antecessor dele na Conferência do Clima de Madri (COP25), em 2019. Naquela ocasião, segundo revelou a imprensa no ano passado, os agentes da ABIN tiveram como missão vigiar negociadores e representantes de organizações da sociedade civil brasileira.
Ainda sobre o Brasil na COP, Ana Estela de Sousa Pinto destacou, na Folha, a disposição do governo brasileiro de destravar as negociações em torno do Artigo 6 do Acordo de Paris, que regulamenta o uso de instrumentos de mercado para mitigação, e exigir mais financiamento climático pelos países desenvolvidos. Na COP passada, o antecessor de Pereira Leite bloqueou as negociações em torno do mercado internacional de carbono por conta de sua insistência em obter pelo menos US$ 10 bilhões dos US$ 100 bilhões anuais prometidos pelas nações industrializadas para financiar ações climáticas nos países em desenvolvimento. Exatamente por causa da irritação causada entre os negociadores da vez passada, a ideia do novo ministro é ser mais cooperativo e menos combativo, até para ajudar no esforço de greenwashing em Glasgow.
Em tempo: Sem vaga na COP, Mourão gasta seu tempo em iniciativas de menor porte, como reuniões regionais sobre a Amazônia. Na semana passada, o vice-presidente participou de uma cúpula de chefes de governo dos países signatários do Pacto de Letícia, que reúne os países amazônicos. No encontro, Mourão defendeu uma articulação entre esses governos para ter uma voz “clara e coerente” frente a “pressões sem base científica que buscam indevidamente transferir aos nossos países a responsabilidade das ações necessárias para reverter os processos nocivos das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade”. IG e UOL deram mais detalhes. Já O Globo conversou com o presidente da Colômbia, Ivan Duque, que defendeu uma abordagem mais cooperativa com o Brasil na questão ambiental, sem isolar o país no cenário internacional.
Fonte: ClimaInfo
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