A alta de 22% no desmatamento amazônico no último ano foi um balde de água fria com gelo na cabeça de governos, empresas e investidores internacionais que esperavam por alguma sinalização positiva do Brasil depois das promessas feitas pelo país na COP26. Até mesmo europarlamentares conservadores estão entre os que desconfiam da vontade política de Bolsonaro de reverter o cenário de devastação. “O discurso do ministro [na COP26] foi muito focado no futuro. Mas o futuro não pode ser o caixote de lixo do presente, o sítio para onde atiramos o que não queremos fazer hoje. A mancha verde da Amazônia não está a ser gerida, está a ser destruída”, disse a deputada portuguesa Lídia Pereira, membro do bloco conservador Partido do Povo Europeu, para a Folha.
“A era de tratar o governo Bolsonaro como uma parceiro confiável, capaz de reverter os danos catastróficos na Amazônia, acabou”, pontificou Brian Winter na Americas Quarterly, uma das revistas de política internacional mais prestigiosas do mundo. “Governos estrangeiros, empresas, fundos de investimento, ONGs e organismos internacionais, como a OCDE, precisarão decidir o que isso significa para eles e como desejam reagir. Mas eles não precisarão mais brincar com a ocasional retórica vinda de Brasília”.
Assis Moreira informou no Valor que membros do Parlamento Europeu querem restringir ainda mais as novas regras de acesso ao mercado continental para commodities agrícolas associadas ao desmatamento. Pela proposta original da Comissão Europeia, o único foco no caso brasileiro é a Amazônia; no entanto, os deputados querem incluir Pantanal e Cerrado na exigência de desmatamento zero para produtos agrícolas brasileiros vendidos na Europa.
O governo Bolsonaro, por sua vez, posicionou-se contrariamente às novas regras da UE, sinalizando para a possibilidade do país levar o caso para a Organização Mundial do Comércio (OMC). O ministro Joaquim Leite criticou a proposta, acusando a UE de promover “protecionismo climático” ao misturar clima e comércio.
A coisa fica ainda pior com a forte suspeita de que o governo escondeu os dados durante a COP, exatamente para evitar que essa informação dinamitasse o greenwashing bolsonarista em Glasgow.
Na Folha, Ana Carolina Amaral apontou o que parece ser o atestado de incompetência supremo (ou será desprezo?) do atual governo: mesmo depois de optar por esconder os dados sobre o desmatamento por quase um mês, os auxiliares de Bolsonaro não se deram ao trabalho de mudar a data do relatório, deixando claro que ele tinha sido efetivamente submetido pelo INPE ao governo em 27 de outubro.
Fonte: ClimaInfo
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