Este discurso é antigo e inclusive institucional do governo brasileiro, embora na prática a direção ainda venha sendo outra, com recorrentes promessas de mudança. Nas áreas desenvolvidas na forma tradicional, já sem floresta, não há mais fármacos a pesquisar nem se pode esperar que ajudem com a chuva, e o discurso, por isso, perde fundamento. Os rios não vão mais “voar”. O meio termo nestas questões não é racional.
Juarez Baldoino da Costa
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Dubai tem um litoral com cerca de 100 Km de praias, que foi depois ampliado com os arquipélagos artificiais Palm Islands avançando pelo mar, com custo inicial estimado em cerca de US$ 2 bilhões, não considerando as edificações civis. Singapura também precisou do mar para expandir seu território artificialmente em 120 Km².
O litoral brasileiro é 85 vezes maior do que o litoral de Dubai. Não precisou de intervenção artificial nas suas cidades a beira-mar, e tem potenciais recursos naturais para continuar a se desenvolver, sem se expandir artificialmente. No campo, no mundo todo, o agronegócio se desenvolve com relativa ampliação de espaço, substituindo a forma de ocupação anterior e melhora de produtividade quando consegue obter mais com a mesma área.
Este é o desenvolvimento tradicional que ocorre tanto na área rural quanto nas áreas urbanas, ou seja, ora ampliam espaço físico, ora qualificam a região com serviços e produtos e geram empregos.
Com a Amazônia, paradoxalmente isto não pode ocorrer, entendendo-se como Amazônia não as suas coordenadas geográficas mas o seu bioma intrínseco, ou a chamada Amazônia Biológica de Superfície. Não há notícia de qualquer ação em curso de ampliação da Amazônia, mas apenas o inverso.
Principalmente na borda Sul e Leste da região onde há o desenvolvimento tradicional, foi preciso ampliar espaços, o que equivale a substituir e diminuir os espaços de Amazônia. Em grande parte destas áreas desenvolvidas como esperado, e nem poderia ser diferente, não é mais possível encontrar as características florestais originais. No caso da soja, por exemplo, o maquinário para a colheita não pode trafegar onde haja um toco de árvore sequer. Pastagens implicam em remoção de floresta, e a extração de madeira é a obviamente a forma mais direta e imediata desta remoção.
Não há qualquer problema neste processo natural e único, dado que a ocupação de espaços é inerente ao desenvolvimento e as áreas precisam ser desflorestadas e substituídas para permitir que ele ocorra, ou pode-se dizer, as áreas precisam ser desamazonizadas.
De Amazônia, portanto, estas áreas têm somente o endereço, e isto não é um problema em si, mas uma consequência natural do processo.
Sob uma outra lógica, entretanto, esta dinâmica é incongruente com a narrativa de que a floresta tem valor, que ajuda o meio ambiente, o ar e a água, que beneficia o agronegócio do Centro Oeste com seus Rios Voadores, que contribui com o conforto climático e que teria potenciais recursos para a medicina e outras atividades econômicas dela oriundas.
Este discurso é antigo e inclusive institucional do governo brasileiro, embora na prática a direção ainda venha sendo outra, com recorrentes promessas de mudança. Nas áreas desenvolvidas na forma tradicional, já sem floresta, não há mais fármacos a pesquisar nem se pode esperar que ajudem com a chuva, e o discurso, por isso, perde fundamento. Os rios não vão mais “voar”. O meio termo nestas questões não é racional.
Dubai se amplia e o mar é o limite. A Amazônia se encolhe redefinindo seu limite, menor a cada ano, em movimentos espirais negativos.
Continuam havendo dezenas de eventos anuais nos quais a maioria dos participantes sugere que a Amazônia precisa de um plano, repetindo o mesmo que se tem dito há décadas. Os interessados no tema já sabem de todos os seus atributos geográficos e biológicos, mas o que fazer com ela ainda está fora do radar.
O que está acontecendo na Amazônia não obedece a planejamento nenhum e vem seguindo num processo revel. Gerir Singapura com seus 7.400 habitantes por Km² num espaço igual a Salvador não é fácil, mas é exequível. Gerir uma região com 4 habitantes por Km² no 4º. maior espaço geopolítico do planeta, tem sido impossível.
Há ainda algumas proféticas opiniões de que as florestas sumiram pelo mundo afora e o mundo continuou vivo. A Amazônia seria apenas a floresta da vez.
A sensação é de que a situação é igual ao planejamento das chamadas “baratas tontas” quanto se trata de agir na Amazônia.
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