“O Amazonas não foi citado como uma das promessas na Cúpula do Clima, até porque não somos promessa, somos realizadores e temos produtos consolidados em portfólios de luta e resistência.”
Alfredo Lopes e Maurício Loureiro
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Em seu discurso na Cúpula de Líderes sobre o Clima nesta quinta (22), Jair Bolsonaro disse que o Brasil está na “vanguarda do enfrentamento ao aquecimento global”. A narrativa do presidente é impecável do ponto de vista da liderança histórica que o Brasil vinha ocupando até 2018, e que a política ambiental de seu governo, equivocada e improvisada, começou a desconstruir e que seu ministro das Relações Exteriores se encarregou de complicar. O jogo diplomático é muito mais sutil e perverso, quase sempre hipócrita, mas não dá brecha ao amadorismo, negacionismo ou criacionismo e seus dogmas. Por isso o Brasil paga um preço alto pelo despreparo da interlocução pirotécnica de seus emissários. “Dize-me com quem andas…”.
Embora seja aplicável à absoluta maioria de seus detratores e suas promessas mirabolantes, a suspeita levantada entre teoria e prática do Brasil nos obriga a dar uma guinada na direção do conhecimento sobre o que é valor no trato da Amazônia e em que isso difere da pavulagem ambiental. A narrativa bem escrita pelo ghost writer palaciano precisa ser desdobrada em atitudes, para não decepcionar a dúvida cartesiana de John Kerr, Chefe de Estado do governo Biden, a maior autoridade mundial em narrativas sem lastro. Ele elogiou o discurso de Bolsonaro e ironizou sua transformação em atos.
Em sua primeira visita oficial a Manaus, agosto de 2019, o presidente Bolsonaro compôs uma sonata política aos ouvidos dos empresários que atuam na Zona Franca de Manaus, afirmando que “enquanto houver Zona Franca de Manaus o Brasil terá soberania em relação à Amazônia”. Por isso, “…ninguém poderia mexer com a ZFM”. O que se viu desde então a não ser estocadas frequentes de sua equipe econômica, cujas mexidas de ajuste fiscal e tarifário – concentrados, bicicletas, eletroeletrônicos… E o anúncio recente da direção do IPEA, o cinquentenário Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, de que o Brasil precisa sofrer um processo de desindustrialização urgente para entrar no rumo certo. O único setor fabril que escapará dessa depredação produtiva será beneficiamento e manufatura dos produtos do agronegócio, no novo cenário do país, o maior roçado do mundo, segundo Robson Andrade, presidente da CNI.
E a manutenção de 96% da floresta em pé no Amazonas entra nos critérios da agronegociação para ampliar a plantação? Seguiria, portanto, sem valor a performance socioeconômica e ambiental do maior estado da Federação no contexto de sua geografia e de potencialidades naturais, onde viceja, a duras penas, a terceira planta industrial do Brasil? Ora, para cumprir uma de suas metas no Acordo de Paris, a Nação precisa reflorestar 12 milhões de hectares, derrubados para a pecuária, soja, milho etcétera e tal, ao custo de US$10 bi. O Amazonas preserva 150 milhões de hectares de sua cobertura vegetal original, algo já reconhecido pela União Europeia, Organização Mundial do Comércio e outras entidades internacionais. O programa Zona Franca de Manaus, além de indiretamente, preservar esse ativo, gera 500 mil empregos e recolhe 75% da riqueza gerada aos cofres públicos, despontando no portal da Receita como um dos cinco maiores contribuintes da Receita, mesmo com a fama de paraíso fiscal. Criminosamente, este confisco preserva a pobreza no Amazonas, e empurra para a exclusão 2,7 milhões de miseráveis, segundo o IBGE.
O Amazonas não foi citado como uma das promessas na Cúpula do Clima, até porque não somos promessa, somos realizadores e temos produtos consolidados em portfólios de luta e resistência. E mais, geramos valor efetivo infinitamente mais precioso que o garimpo aloprado e a derrubada/queimada, reconhecidamente predatória da floresta, algo que a narrativa internacional está usando para por em cheque as irretocáveis promessas de Bolsonaro e seu até aqui deplorável conceito de soberania nacional sobre a Amazônia. O presidente vai precisar de ajuda na gestão da Amazônia, algo que, adicionalmente, temos a oferecer para manter a soberania amazônica com a indústria da sustentabilidade, da proteção florestal e da prosperidade social.
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