Por João Lara Mesquita
Ele é superlativa em todos os sentidos, não por outro motivo a preocupação que desperta é mundial. No momento em que o aquecimento global mostra preocupantes sinais de sair do controle, aumenta a sua importância. A pandemia ajudou o mundo a perceber a insustentabilidade de nosso modelo econômico. E, em vários países notadamente os da União Europeia, não se fala em outra questão que não a sustentabilidade. Com isso, a Amazônia ganhou as manchetes para não sair tão cedo. Amazônia e as curiosidades, conheça sua importância.
Mas, o que seria, afinal, a sustentabilidade? Pode-se defini-la de várias formas, depende do autor, mas um resumo bem aceito seria ‘conciliar o desenvolvimento econômico com o equilíbrio ecológico’. E esta é uma grande oportunidade para o Brasil que, até o advento Bolsonaro, era protagonista nas questões do clima.
Mas e as curiosidades? Quem tal começarmos com 75 mil km de rios navegáveis? No momento em que a água passa a ser cada dia mais escassa, só isso já bastaria para demonstrar a importância da Amazônia. Mas estes 75 mil km de rios são apenas um dos muitos detalhes da região. São 12 milhões de hectares de várzeas, 11.248 km de fronteiras internacionais, mais de 180 milhões de hectares de florestas ‘protegidas’.
Biodiversidade animal e vegetal da Amazônia
A maior floresta úmida do planeta é também a número um em diversidade de plantas, peixes de água doce e mamíferos. É a segunda em anfíbios, e a terceira em diversidade de répteis. Só em espécies vegetais são 55 mil, 22% de todas conhecidas no mundo. Mas tem mais: 524 espécies de mamíferos, 517 de anfíbios, 1.622 de pássaros, 486 de répteis. 3.000 espécies de peixes, e entre 10, a 15 milhões de insetos!
Em Anavilhanas, um dos maiores arquipélagos fluviais do mundo, foi constatado em 1997 que os solos do arquipélago têm uma população de 116.409 organismos vivos numa camada de 1m2, com 10 cm de profundidade!
Amazônia e as curiosidades: o maior volume de água na Terra
A Amazônia é cortada pelo rio Amazonas que drena mais de 7 milhões de km2 de terras e tem vazão anual média de 176 milhões de litros de água por segundo! Isto lhe confere a posição de maior rio em volume de água do mundo. Em sua foz, o Amazonas despeja no mar 100 milhões de litros d’água por segundo (100.000 m3/s).
Tudo? Não, tem mais. Existe na Amazônia um oceano subterrâneo, um gigantesco aquífero em Alter do Chão com nada menos que 160 trilhões de metros cúbicos, volume 3,5 vezes maior do que o do Aquífero Guarani.
A Amazônia transfere, na interação entre a floresta e os recursos hídricos, associada ao movimento de rotação da Terra, cerca de 8 trilhões de metros cúbicos de água anualmente para outras regiões do Brasil.
Principais atividades econômicas
De acordo com o livro A Sustentabilidade Como Paradigma (Ed. Vozes), “a indústria metalúrgica e mineral no Pará, o Polo Industrial, em Manaus, o agronegócio no Estado do Mato Grosso, e os demais arranjos produtivos nos outros Estados (da Amazônia Legal), são as principais atividades econômicas.”
Mas isto é muito pouco para região tão vasta. Não por outro motivo, os planos da academia finalmente saíram de seus muros, muito em razão das bobagens da atual administração, e é questão de tempo para serem implantados na Amazônia.
Desta vez, a sustentabilidade lidera as proposições.
Amazônia Legal, os Estados que a formam
São nove: Amazonas, Acre, Pará, Amapá, Roraima, Rondônia, Tocantins, parte dos Estados do Maranhão e Mato Grosso. A Amazônia Legal corresponde a 3/5 do território brasileiro, e 2/5 da América do Sul.
Nestes nove Estados moram cerca de 24 milhões de brasileiros, mais de 60% em áreas urbanas. Mas também não é só.
Existem cerca de 163 povos indígenas que totalizam 200 mil pessoas, ou 60% da população indígena do País.
O potencial dos produtos naturais
Existem mais de mil produtos da Amazônia com algum uso, mas em muito pequena escala. No entanto, o açaí atingiu escala mundial. Este é o grande futuro. Sistemas florestais com açaí rendem entre US$ 200,00 e US$ 1.500,00 dólares de lucro por ano por hectare. Para efeito de comparação, o gado na Amazônia (mais lucrativo) rende US$ 100,00 por hectare.”
Para Carlos Nobre,”falta industrializar a biodiversidade”. E foi sobre isso que falamos ao mencionar que desta vez a sustentabilidade está na pauta. O açaí já passou a madeira e traz um bilhão de dólares para a Amazônia por ano.
A importância para o clima na Terra
Por sua extensão e propriedades, a Amazônia influencia regime de chuvas em toda a América do Sul, e contribui para estabilizar o clima global.
De acordo com o livro Gestão da Amazônia, de Jacques Marcovith, ‘a intensidade desses fluxos, ou seja, a quantidade de vapor de água transportada por essas massas é maior que a própria vazão do rio Amazonas. Por isso foi utilizado o termo rios voadores’.
Copas de árvores bombeiam água
Em um único dia uma árvore com uma copa de 10 metros pode bombear mais de 300 litros de água para a atmosfera. Calcula-se que haja cerca de 600 bilhões de árvores na Amazônia. Isso dá a dimensão da água bombeada a cada 24 horas.
Florestas armazenam carbono
As florestas tropicais (saiba quais são as maiores florestas tropicais do mundo) armazenam algo em torno de 90 bilhões a 140 bilhões de toneladas métricas de carbono, para não falar que as florestas desmatadas são as maiores fontes de emissões de gases do efeito estufa depois da queima de combustíveis fósseis.
Desmatamento libera carbono
De acordo com o livro A Sustentabilidade Como Paradigma, de Marcílio de Freitas e Marilene Corrêa da Silva Freitas, ‘o desmatamento e o uso da terra na Amazônia emitem anualmente 229 milhões de toneladas de carbono representando 78% da emissão total do Brasil, e a queima de combustível fóssil emitindo 64 milhões de toneladas de carbono, outros 22% do total.”
Isto, mais uma vez, explica a grita mundial contra os maus tratos impostos pela atual administração.
Amazônia e as curiosidades: as duas únicas políticas públicas
Por parte da academia há dezenas de sugestões, todas insistindo em doses maciças de ciência, tecnologia e inovação aos produtos da floresta. Mas, por parte do governo central houve apenas duas políticas públicas em mais de 500 anos de história.
Ainda no século 16 ingleses, franceses, holandeses, e espanhóis, dificultaram a posse da Amazônia por Portugal com incessantes incursões no território, ora para apoderarem-se de partes dele, ora para saquearem recursos extrativos. A Portugal restou tomar posse efetiva do território.
Primeira política pública, século 17
A Coroa foi obrigada a investir em expedições, construindo fortes e fortins em locais estratégicos, erguendo vilas e protegendo-as para impedir que as ‘drogas do sertão’ apreciadas na Europa acabassem fazendo com que aventureiros se fixassem na região.
Alguns destes pontos fortificados são conhecidos hoje como Belém, fundada em 1616, e Manaus, fundada em torno do forte de São José do Rio Negro em 1669, entre outras.
Segunda política pública, século 20
A segunda só veio séculos depois, no período dos militares no poder: Integrar para não Entregar.
Esta derradeira política tinha intenção de dotar a maior floresta úmida do planeta de infraestrutura semelhante à concebida para o sudeste ou o planalto central. Esta ilusão foi seu principal erro.
Tanto o Sudeste, como o Planalto Central, têm geografia favorável para estradas de rodagem. A maior floresta úmida do planeta não comporta estas obras se quiserem que permaneça como a ‘maior floresta úmida’. O custo pelos obstáculos naturais é impagável.
Os dois ciclos da borracha
Não consideramos os dois ‘ciclos da borracha’ como políticas públicas porque ambos foram movidos por movimentos do exterior. O primeiro ciclo foi provocado pela Revolução Industrial, o segundo, pela necessidade de mais borracha desencadeado pela Segunda Guerra Mundial.
E do poder central, foi só.
Amazônia e as curiosidades da pré-história
Fósseis de tartarugas gigantes
Cientistas anunciaram recentemente a descoberta de fósseis de tartarugas gigantes pré-históricas, que teriam vivido durante a época geológica do Mioceno. O tamanho e peso são comparados ao de um carro sedan.
Elas podem ter atingido até quatro metros de comprimento, com peso bastante superior a uma tonelada. Denominada Stupendemys geographicus, a espécie foi comum na Amazônia entre 13 milhões e 7 milhões de anos atrás.
Geoglifos
Pesquisadores acreditam que as valas – com dez metros de largura e um de profundidade – foram moldadas por povos indígenas munidos de instrumentos de madeira. Elas formam várias figuras quadrangulares e circulares. Incluindo um círculo com 100 metros de diâmetro e um retângulo de 100 por 150 metros.
Acredita-se que os geoglifos foram construídos como espaços de sociabilidade a partir do início da Era Cristã até o século 16 ou 17. São possíveis locais de encontros e rituais erguidos quando a região ainda era uma savana, antes do surgimento da floresta que conhecemos.
Ilhas artificiais do período pré-colonial
Fevereiro, 2020: Pesquisadores estão desvendando construções comparáveis às pirâmides no Egito. São as ilhas artificiais da Amazônia: construções que exigiram saberes complexos de várias áreas do conhecimento. Mas, foram erguidas nos períodos pré-colonial e colonial, no mínimo. Possivelmente, até muito antes disso.
Para não falar na cultura do Marajó (400 a 1400 d.C) ‘que alcançou o maior nível de complexidade social na pré-história brasileira’, sociedade que floresceu na Ilha de Marajó, foz do Amazonas, na Era pré-colombiana.
Amazônia e as curiosidades: novas espécies recém- descobertas
Nova espécie de peixe-boi
Em agosto de 2020, em Rondônia, nova espécie de peixe-boi foi encontrada. Infelizmente, os pesquisadores encontraram fósseis da nova espécie. O fóssil de um mamífero marinho com mais de 45 mil anos, encontrado em áreas de garimpo de Rondônia, foi reconhecido como uma nova espécie de peixe-boi: o Trichechus hesperamazonicus.
Nova espécie de bagre
Maio de 2020: A bióloga Elisabeth Henschel, ‘por acidente’ descobriu uma nova espécie de bagre cujo nome científico é Ammoglanis obliquus. Para ela, a emoção de uma descoberta ‘é muito excitante, são muitas emoções, fantástico’.
Novas espécies de peixes elétricos
2019: o pesquisador Carlos David de Santana precisou entrar em igarapés na Amazônia e, mesmo usando luvas de borracha alguns choques foram inevitáveis, ele acabara de descobrir duas novas espécies de peixes elétricos – uma delas capaz de dar uma descarga de até 860 volts, maior voltagem já registrada em um animal. Até então, o recorde era de 650 volts.
Corais na foz do Amazonas
Eles distam cerca de cem quilômetros da foz do Amazonas, e ficam entre 70 e 220 metros de profundidade. Se alguém apostasse que haveria corais na foz do Amazonas, provavelmente seria desencorajado.
O local é considerado ‘improvável’ para abrigá-los. Mas eles estão lá: recifes com esponjas, corais e rodolitos (algas calcárias).
Novas espécies descobertas
Agosto de 2017: Relatório do WWF e do Instituto Mamirauá para o Desenvolvimento Sustentável do Brasil informa que 381 novas espécies da Amazônia foram descobertas. São 216 de plantas, 93 peixes, 19 répteis, 20 mamíferos, 32 anfíbios, e um novo pássaro.
Nova espécie de golfinho na Amazônia
Fevereiro, 2017: Em artigo publicado na revista PLoS One, cientistas liderados por Tomas Hrbek, da Universidade Federal do Amazonas do Brasil, descrevem formalmente o ‘Inia Araguaiaensis’, uma nova espécie de golfinho que habita a bacia do Rio Araguaia.
É o primeiro boto de água doce descoberto desde 1918.
Amazônia e as curiosidades
Ainda há milhares de animais, vegetais e minerais a serem descobertos. É só uma questão de mais verbas para pesquisas, e tudo que descrevemos pode ser apenas o começo.
Isto é a Amazônia.
Assista ao vídeo, saiba mais, e ajude a preservar. As futuras gerações têm direito à ela
Fonte: Mar sem Fim
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