Há consenso entre os cientistas de que a Terra está vivendo um rápido declínio de sua biodiversidade devido à destruição de habitats naturais. Um estudo realizado pelo Museu de História Natural de Londres em parceria com a consultoria Vivid Economics compara os custos para os governos do mundo de duas estratégias para alcançar as metas de conservação florestal até 2050: agir agora ou adiar a ação por uma década. O resultado indica que esperar para agir será duas vezes mais caro.
A pesquisa é um dos estudos incluídos em um detalhado relatório independente divulgado na semana passada – a Dasgupta Review, uma revisão de alto nível da literatura científica sobre o tema conduzida pelo célebre economista indiano Partha Dasgupta e pelo professor emérito da Universidade de Cambridge Frank Ramsey.
A mensagem dos dois relatórios é clara: a perda de biodiversidade em nível planetário é um problema urgente, representa um grave risco para a humanidade e os países não poderão arcar com os custos econômicos do adiamento das medidas necessárias.
O estudo, que foi debatido na última quinta-feira (11) em evento virtual aberto ao público, afirma que, ao demorar para agir, os países podem tornar a ação para frear a perda de biodiversidade não apenas mais cara, mas também inviável política e economicamente. Sem ações mais ambiciosas dos governos, mais espécies serão extintas nos próximos 30 anos do que em toda a Era Comum (850-1850), e os custos para produção de alimentos e de materiais subirá sensivelmente até 2050. Agir imediatamente poderia reduzir as extinções de espécies em 25% no mesmo período, diz o texto.
As conclusões do estudo são baseadas em diferentes cenários e faixas de tempo em que as restaurações florestais seriam conduzidas. Trabalharam na criação do relatório os pesquisadores de biodiversidade do Museu de História Natural Andy Purvis, Adriana De Palma e Ricardo Gonzalez, em conjunto com a equipe da Vivid Economics.
“O desflorestamento não apenas conduz à extinção de espécies. Ele acelera a mudança climática e torna mais prováveis futuras pandemias”, afirma Purvis. “Ignorar o problema é deixar às gerações futuras um planeta quebrado; agir agora poderia consertá-lo.”
“A Transição Positiva para a Natureza, que modelamos neste relatório, afetará todas as partes da economia que tenham um impacto material sobre a natureza na terra e nos oceanos”, explica o diretor da Vivid Economics, Robin Smale. Para ele, os governos têm o poder político, legal e econômico para orientar suas economias no sentido dessa transição.
O relatório faz recomendações aos governos:
• Melhorar imediatamente a eficácia da fiscalização de áreas protegidas, que é a forma mais barata de ação;
• Desenvolver imediatamente programas de reflorestamento utilizando o plantio de espécies nativas, o que terá efeitos mais rápidos do que o crescimento natural (quando a área desmatada é abandonada e ao longo dos anos retoma sua cobertura original). O reflorestamento também deve priorizar áreas de alto endemismo (espécies que só existem naquela região ou bioma);
• Projetar mecanismos de incentivo à biodiversidade na forma de compromissos avançados de mercado, visando áreas ricas em biodiversidade e locais com alto potencial de restauração;
• Introduzir regras que exijam que os projetos de reflorestamento que recebam pagamentos por benefícios climáticos, por exemplo, créditos de carbono, também priorizem a biodiversidade;
• Anunciar imediatamente a ambição futura do país e o provável nível de incentivo à biodiversidade, e traduzi-los em cenários relevantes para os investidores. Isso permitirá que as pessoas possam tomar decisões de investimento consistentes com as projeções. O anúncio antecipado mantém os custos de ajuste baixos;
• Transformar o setor financeiro para adequá-lo a uma Transição Positiva para a Natureza;
• Redistribuir imediatamente os subsídios à produção de alimentos e materiais por meio de (i) adoção de tecnologias que melhorem a produtividade, incluindo a intensificação ecológica em locais onde a produtividade fica aquém de seu potencial; (ii) incentivos à biodiversidade; (iii) financiamento de áreas protegidas. Os incentivos econômicos devem trabalhar a favor, e não contra a biodiversidade e o clima.
Fonte: CicloVivo
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