No governo Bolsonaro, verde é a cor do dinheiro estrangeiro; para ele, a floresta é só um obstáculo na busca por riquezas de toda natureza e, no final disso tudo, preciosos dólares. Como Afonso Benites observou no El País, o governo que lamentou como “inaceitável” a explosão de 22% do desmatamento da Amazônia no último ano é o mesmo que promove sem qualquer sombra de escrúpulo uma série de projetos que enfraquecem ainda mais a proteção ambiental no país, abrindo caminho para as “boiadas” da grilagem e do garimpo no que resta da maior floresta tropical do mundo.
“Nas últimas semanas, em território nacional ou em eventos fora do país, o governo fez discursos para garantir que reforçaria o controle do desmatamento (…) A falta de prática para o discurso levou a resultados contrários até aqui”, escreveu Benites. O texto também ressalta como os militares do governo Bolsonaro estão decididamente do lado da devastação ambiental, presos a uma mentalidade atrasada que só enxerga valor na floresta derrubada e ocupada.
O mais curioso, ainda que não seja surpreendente, é ver como os interesses dos militares na Amazônia hoje se aproximam daqueles do crime organizado, que vem “fazendo a festa” na floresta nos últimos tempos, beneficiado pela complacência do governo no combate a ilegalidades. No Estadão, João Gabriel de Lima destacou um estudo do Instituto Igarapé com a Interpol que detalhou como as quadrilhas estão se infiltrando na exploração ilegal de ouro amazônico.
Por falar em crime organizado, André Borges trouxe no Estadão detalhes de uma investigação da Polícia Federal sobre um esquema de garimpo na Terra Indígena Kayapó, no sul do Pará, que envolvia dezenas de empresas dentro e fora da cadeia do ouro. Essa investigação embasou a Operação Terra Desolada no final de outubro, que cumpriu 62 mandatos de busca e apreensão e 12 de prisão preventiva em nove estados e no Distrito Federal. Segundo a PF, o esquema ilegal conseguiu tirar cerca de 1 tonelada de ouro da Terra Kayapó por ano.
Os investigadores também identificaram uma família de compradores italianos de ouro associada ao grupo, dona de uma das empresas que “lavavam” o metal extraído ilegalmente da Reserva Indígena. Eles teriam movimentado mais de R$ 2,1 bilhões em operações de compra e venda de ouro entre setembro de 2015 e setembro de 2020.
Fonte: ClimaInfo
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