“O Portal BrasilAmazôniaAgora, com a proximidade do dia da Pátria, o Sete de Setembro da Independência do Brasil, com as devidas licenças autorais, cumpre o dever cívico de republicar um trabalho sobre um momento a um tempo sombrio e libertário de nossa história e que merece uma reflexão de todos”
A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, desde o ano de 2007, por sua incumbência constitucional, passou a empreender diversas ações inovadoras com fundamento no conceito global de “reparação”.
A reparação devida aos perseguidos políticos extrapola a dimensão eminentemente econômica, nos termos da Lei no 10.559/2002 e compreende também fornecer um ressarcimento moral satisfatório aos atingidos por atos de exceção. A retratação não se esgota na dinâmica individual, sendo ampliada também socialmente, num processo de coletivização de medidas reparatórias. Tudo isso fez com que passássemos a empreender aquilo que diversas diretivas internacionais definem como um “programa de reparação”, que se insere num marco mais amplo que a simples restituição de direitos ou compensação econômica às vítimas, contribuindo também para a revelação da verdade, a afirmação da memória social, a reabilitação moral dos prejudicados por atos de exceção e, especialmente, o fomento à não-repetição do autoritarismo.
É neste contexto que se edita a presente obra, publicada pela Comissão de Anistia.
O livro “68 – a geração que queria mudar o mundo” é composto por relatos de uma centena de ex-militantes políticos, organizados e sistematizados ao longo dos anos por Eliete Ferrer, do grupo “Os Amigos de 68”. Trata-se de contribuição ímpar para a difusão da memória daqueles que combateram o regime militar por descrever, sob diversos matizes, as percepções e concepções de vida que eles sustentaram, o modo como lutaram contra a ditadura, bem como as interrupções que tiveram em suas vidas e os recomeços que puderam construir. Nesse sentido, a publicação da obra é ato de reparação moral, pois contribui para a conexão da geração de 1968 com a história do país, permitindo que suas lutas e memórias constituam efetivamente parte da identidade nacional brasileira.
O livro que agora editamos não tem o objetivo de constituir-se em “a verdade oficial” sobre qualquer fato mas quer apenas viabilizar às novas gerações e aos estudiosos do período a leitura de depoimentos pessoais sobre uma série de fatos por demais narrados tanto na história dos “arquivos oficiais”, quanto em outros relatos indiretos, para que estes possam ser avaliados e compreendidos hoje, dentro de um novo contexto social e político.
Divulgando estes textos, que são escritos em primeira pessoa dos perseguidos, a Comissão de Anistia contribui para pluralizar as fontes de pesquisa sobre a ditadura no Brasil, num exercício que estimula a tolerância e o respeito às diversas formas de ver e viver o mundo.
68 A geração que queria mudar o mundo: relatos apresentação 13
Trata-se de dar repercussão às vozes caladas no passado. Fazendo-o, cumpre sua função legal de divulgar a memória política do período que se estende entre 1946 e 1988 e, ainda, fortalece valores necessários à democracia, como o fomento à pluralidade e à tolerância. A Comissão de Anistia reúne o arquivo dos que foram atingidos pela ditadura militar, pois nosso compromisso é com a verdade das vítimas. Significativa parte do conteúdo deste livro está presente nos processos administrativos de anistia, constituindo- se em fatos já reconhecidos pelo Estado brasileiro. Assim sendo, o objetivo de publicar a obra não é gerar consensos, justo o oposto! Pretende-se ampliar possibilidades de leitura e permitir a mais atores sociais que falem livremente sobre aquilo que viveram e sobre o que pensam dessas experiências.
Com o mais sincero respeito e admiração a todos os resistentes brasileiros que contribuíram para a escrita desta obra, tornamo-la pública, para que tantos outros a possam ler e seguir interpretando a história de nosso país, sob o manto de um regime plural, democrático e constituído no respeito aos direitos humanos e fundamentais.
Boa e proveitosa leitura a todos e todas. Brasília, maio de 2011.
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