A balança comercial do Amazonas sofreu um tombo mais forte, em outubro. As exportações interromperam uma sequência de duas quedas seguidas, para avançar em todas as comparações, mas os manufaturados do PIM perderam terreno para produtos primários. Majoritárias, as importações mergulharam mais fundo, após o virtual empate do mês passado, puxando a corrente de comércio exterior do Estado para baixo. É o que revelam os dados do governo federal disponibilizados pelo portal Comex Stat.
Em outubro, as vendas externas do Amazonas totalizaram US$ 85.33 milhões e foram 43,33% melhores do que as de setembro (US$ 59.53 milhões), mas ficaram 37,94% acima do registro de exatos 12 meses atrás (US$ 61.86 milhões). O Estado ainda conseguiu sustentar uma alta de 5,80% no acumulado dos dez meses iniciais do ano (US$ 618.55 milhões), frente ao patamar do mesmo período de 2019 (US$ 584.65 milhões).
As compras do Estado no estrangeiro, por outro lado, contabilizaram US$ 845.06 milhões no mês passado, correspondendo a um decréscimo de 8,26% frente a setembro do mesmo ano (US$ 921.12 milhões). O confronto com outubro de 2019 (US$ 938.32 milhões) também foi negativo (-9,94%). Os valores se mantiveram no vermelho no aglutinado do ano, ao passar de US$ 8.79 bilhões (2019) para US$ 7.98 bilhões (2020), uma diferença de 9,21%.
Insumos em baixa
As importações do Amazonas foram encabeçadas por circuitos integrados e microconjuntos eletrônicos (US$ 147.80 milhões), partes e peças para televisores e decodificadores (US$ 122.62 milhões), celulares (US$ 79.05 milhões), platina em formas brutas ou semimanufaturadas (US$ 71.91 milhões) e máquinas e aparelhos de ar-condicionado (US$ 32.91 milhões) –fornecidos quase que exclusivamente pela China (84,87% do total). Apenas o primeiro e o quarto itens tiveram números melhores do que os de 12 meses atrás.
A China (US$ 384.09 milhões) voltou a liderar a lista de países fornecedores para o Amazonas, no mês passado, com aumento de 8,28% frente outubro de 2019 (US$ 354.70 milhões). A lista incluiu ainda Vietnã (US$ 72.34 milhões), Coréia do Sul (US$ 60.33 milhões), Taiwan (US$ 52.35 milhões) e Estados Unidos (US$ 47.71 milhões), entre outros –com quedas para o segundo, terceiro e quinto.
Indagado sobre a queda das importações em um período que tradicionalmente a indústria incentivada de Manaus aquece as turbinas para atender o mercado interno e se esse desempenho poderia estar ligado à escassez de que se dá em diversos insumos, o gerente executivo do CIN (Centro Internacional de Negócios) da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Marcelo Lima, concordou que a pandemia tornou 2020 um ano atípico, mas apontou a escalada do dólar como fator preponderante para o resultado.
“Costuma haver uma tendência de aumento, na passagem do terceiro para o quarto trimestre, especialmente de eletroeletrônicos. Avalio que essa queda de importação se deve ao aumento do dólar e a pressão no câmbio, fazendo com que o importador do Amazonas compre no estrangeiro aquilo que é estritamente necessário. Até porque muitas fábricas do PIM devem ter estocado muitos insumos durante o auge da pandemia e recorrido ao mercado nacional, quando possível. Mas, podemos dizer que, neste período de pandemia, não se observou tantas oscilações significativas nos números”, ponderou.
Soja e concentrados
Pelo terceiro mês seguido, as preparações alimentícias/concentrados (US$ 11.04 milhões) ficaram na segunda posição da lista de exportações do Estado –e com desempenho abaixo do de 2019 (mais de R$ 16 milhões). Mas desta vez cederam lugar à soja (R$ 14.79 milhões) –que subiu em relação ao ano anterior (R$ 12.07 milhões). Na sequência, vieram extratos de malte (R$ 7.68 milhões), turboreactores (R$ 7.20 milhões) –adquiridos exclusivamente pelos Estados Unidos –e motocicletas (US$ 5.72 milhões) –que caíram da segunda para a quinta colocação. Foram registrados acréscimos nos três casos.
A Venezuela (US$ 26.10 milhões) renovou a liderança na lista de destinos das vendas externas amazonenses, com incremento de 77,55% sobre outubro de 2019 (US$ 14.70 milhões). Foi seguida pelos Estados Unidos (US$ 10.66 milhões) e pela Argentina (US$ 9.04 milhões) –que subiu uma posição em relação a setembro. Os três apresentaram resultados melhores do que os de 2019. Turquia (US$ 7.95 milhões) e Rússia (US$ 6.83 milhões) subiram ao pódio pela primeira vez –graças à compra de soja –, tomando o lugar da Colômbia e da China.
Marcelo Lima reforça que as oscilações da Argentina se devem à longa crise vivida pelo país vizinho, agravada pela pandemia. Acrescenta ainda que a Venezuela vem liderando a lista de exportações do Amazonas, em função do desabastecimento por lá, mas os produtos mais adquiridos –como açúcares, maltes e óleo de soja –não são os manufaturados do PIM. O gerente executivo do CIN/Fieam concorda que a grande surpresa é a venda recorde de soja a dois países que não costumam figurar entre os maiores destinos das exportações amazonenses, mas não descarta a hipótese de que este seja um ponto fora da curva.
“Não houve solução de continuidade em termos de reduções ou aumentos significativos de vendas também nas exportações. O importador tem livre arbítrio e não existe regra que determine que tem que comprar do Estado A ou B. Acredito que a participação da Turquia e da Rússia tenha ocorrido em decorrência de uma melhor oferta, até porque o grande volume de exportação de soja talvez estivesse comprometido com os tradicionais países importadores, mas não posso assegurar que essas exportações vão continuar nos próximos meses. A região Norte está começando um processo de exportar commodities também, a exemplo de Roraima e do Pará. Nós já começamos a vender soja e nióbio”, finalizou.
Fonte: Jornal do Commercio
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