“A questão central é que precisamos fazer opções por um país mais autossuficiente, produtor de tecnologia, ao invés de ser um país subserviente e mero produtor de commodities a preço de banana.”
Augusto César Barreto Rocha
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O mundo precisa de mais engenheiros. Segundo estudos da consultoria internacional Michael Page, dentre as profissões qualificadas, no Brasil, os profissionais mais demandados pelo mercado de trabalho são: Engenheiros de Software, Engenheiros Eletrônicos, Engenheiros Mecânicos, Engenheiros Civis e Engenheiros Eletricistas. Cenário não muito diferente do mundo como um todo, que difere apenas pela inclusão na lista de profissionais da saúde, o que ainda não é o nosso caso.
Na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), poderíamos formar muito mais engenheiros por ano. Entretanto, faltam professores para as disciplinas básicas. Em razão de motivadores diversos, os alunos que ingressam na universidade chegam com um conjunto de deficiências em matemática, que os faz dispender mais tempo, que o típico das demais disciplinas, para a formação básica e fundamental em Cálculo, Álgebra e Física. Isso leva a uma evasão ou repetição das matérias iniciais. Assim, são formadas turmas com muitos alunos, dificultando o acompanhamento mais detido das dificuldades específicas.
Com isso, chegam nas turmas mais avançadas menos alunos. Há diferentes caminhos para a solução do problema, mas independentemente da alternativa, estes problemas precisam ser solucionados, para que não continuemos eternamente como o país do futuro. Para nos tornarmos o país do presente, além da pura extração, destruição e revenda de produtos da natureza, precisaremos de engenheiros. Assim, a engenharia, por meio de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica, é a ciência que poderá liderar esta virada, em conjunto com toda a sociedade.
A falta destes profissionais se deu pela criação saudável (e apressada) de novos cursos, onde foram privilegiadas as formações específicas, mas foram “esquecidas” as vagas da formação básica. Assim, os cursos de Matemática e Física não possuem a capacidade para formar tantos alunos nas disciplinas fundamentais para as carreiras de Engenharia. Como solução, existem alguns caminhos: o mais fácil, reduz-se as vagas para Engenharias, o que seria contrário ao interesse do país (mas vem sendo proposta por “líderes”). Outro caminho seria aceitar mais alunos, tolerando-se uma evasão maior, o que seria contrário ao interesse dos alunos (vem sendo proposto por “produtivistas”). Ou aumentam-se a quantidade de professores para estas áreas, o que é contrário ao interesse do “equilíbrio fiscal”, onde se diz que o Estado no Brasil deve ser cada vez menor (o que vem sendo defendido pelo “Mercado”).
Esta escolha do interesse do Estado, da sociedade ou do Mercado é quase uma Escolha de Sofia. Todos falam que a saída da crise se dará pela educação e do equilíbrio fiscal, mas isso segue sendo um conjunto de afirmações vagas e cheias de lugares comum, onde não se diz nada. Um debate raso, típico de quem não quer realmente resolver, mas apenas falar. A questão central é que precisamos fazer opções por um país mais autossuficiente, produtor de tecnologia, ao invés de ser um país subserviente e mero produtor de commodities a preço de banana. A formação de engenheiros passa por este caminho e opções precisarão ser feitas.
Há ainda uma oportunidade pelo enorme déficit habitacional de mais de 7 milhões de unidades ao ano, segundo a ABRAINC/FGV, somado com a necessidade histórica e atual de melhorar as condições de saneamento básico. Assim, salta aos olhos o quanto precisamos e precisaremos de profissionais, para dar conta das nossas necessidades. A competição e abundância de profissionais é um dos fatores que ajudarão na erradicação destes dois males que são super básicos, mas longe de serem resolvidos.
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