“Um tema era prioridade da sociedade. O outro não é. Quando a morte bateu na porta de maneira inesperada, houve a união. Quando o desperdício é econômico, não nos unimos.”
Augusto César Rocha
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Quando existe um problema as pessoas se unem em torno dele e buscam uma solução. Nossa sociedade fez uma união enorme para enfrentar o problema da saúde pública, frente a pandemia em curso. Fez-se hospitais em poucos dias, comprou-se remédio, o comércio fechou, milhões perderam o emprego, milhares de empresas fecharam para nunca mais reabrir. Nossa sociedade tem uma capacidade enorme para se unir e solucionar seus problemas.
Por outro lado, na questão mobilidade urbana não há a mínima união. Empresas fecham, pessoas passam horas nas paradas de ônibus, milhares de automóveis desperdiçam combustível em engarrafamentos sem fim, não há calçadas suficientes, transporte clandestinos de todo o tipo povoam a cidade, motos trafegam na contramão em toda a cidade, ônibus clandestinos desrespeitam as leis e a civilidade. Aceitamos isso tudo passivamente.
Um tema era prioridade da sociedade. O outro não é. Quando a morte bateu na porta de maneira inesperada, houve a união. Quando o desperdício é econômico, não nos unimos. Em um, há união pela vida, mesmo que haja desperdício de recursos e de esforços. No outro, há um monumental desperdício diário, onde há perdas generalizadas, mas não nos unimos nas soluções.
Qual será o motivo? No caso da saúde pública, ainda não há uma solução definitiva. No caso da mobilidade, as soluções são bem conhecidas. Entretanto, não conseguimos sequer sinalizar as ruas com perfeição. Após mais de uma década interagindo com esta questão, é a única conclusão que chego. Mesmo oferecendo consultoria grátis para diferentes administrações municipais, não consegui a mínima interação saudável entre academia e governo.
As eleições municipais acontecerão em breve e este problema certamente voltará para a pauta. Viadutos – que são ótimos para deixar as cidades mais feias – voltarão para as campanhas como se fossem soluções. Novas promessas serão feitas e muito pouco voltará a ser executado, como é a prática das últimas décadas. Provavelmente as pessoas pensem que é normal esta lógica. Como se este problema fosse de solução técnica impossível, mas muito diferente do vírus, este problema possui soluções bem conhecidas pela ciência. Até quando continuaremos assim?
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