Sete em cada dez indústrias de todo o país já retomaram pelo menos o mesmo nível pré-pandemia de produção (70%) e faturamento (69%) registrados em fevereiro, sendo que 73% já estão com o mesmo nível de emprego apresentado no período. Diante disso, 62% das empresas apostam que o faturamento será positivo em 2021.
É o que aponta levantamento inédito, encomendado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) ao Instituto FSB Pesquisa, e apresentado no 12º Enai (Encontro Nacional da Indústria), nesta semana. Embora os dados sejam nacionais, a Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) ressalta que a indústria amazonense não é ponto fora da curva no cenário apresentado e também se mostra otimista para o ano que vem.
A sondagem mostra estratégias adotadas pela indústria para conseguir atravessar a crise. As duas medidas mais usuais adotadas, nos últimos seis meses, para acelerar o crescimento do negócio foram a busca de novos fornecedores no Brasil (40%), aquisição de máquinas e equipamentos (39%), adoção de novas técnicas de gestão da produção (30%) e investimento em novos modelos de negócio (20%).
As iniciativas geraram efeitos positivos. Pelo menos 45% dos empresários garantem que a produção atual é maior que a de fevereiro deste ano e 49% têm faturamento superior – mas 30% apontam redução. Apesar de 87% das empresas terem sido afetadas pela pandemia, só 27% estão com nível de mão de obra inferior ao dos meses anteriores à crise da covid-19. A menos de dois meses de acabar o ano, 43% dos empresários industriais apostam em alta da receita em 2020, 37% projetam queda 19% veem um empate com 2019.
O empresariado industrial brasileiro também vê 2021 com otimismo, a despeito das atuais incertezas em torno da pandemia e seus impactos econômicos – além das fragilidades brasileiras. Para 55%, o próximo ano será de crescimento, enquanto apenas 12% apostam em retração em 2021. Em relação ao desempenho do próprio negócio, 62% apostam no aumento do faturamento, 9% aguardam queda e uma fatia significativa (28%) estima um virtual empate.
Com a retomada da produção e do faturamento, a maioria das empresas (52%) já registra a mesma lucratividade de fevereiro, ao passo que 28% detectaram incremento e 24% viram manutenção nas margens. Pelo menos 47%, no entanto, ainda operam com margem de lucro abaixo do pré-pandemia. A hipótese levantada pelo estudo é que, a despeito do faturamento maior, as fábricas têm amargado perdas com despesas de energia e insumos, entre outros fatores.
Custos e competitividade
A CNI entregou, há dois meses, um documento com propostas para a retomada do crescimento a lideranças do governo e do Congresso com destaque para as reformas Tributária e Administrativa. Em sintonia, 92% defendem que o Executivo deveria praticar políticas públicas para elevar a competitividade do setor. O principal problema financeiro é, conforme 78% dos executivos, o pagamento de impostos e tributos. Em segundo lugar estão os salários e encargos sociais (48%).
Em uma escala de 0 a 10, a percepção dos industriais quanto à competitividade da própria empresa é, em linhas gerais, conservadora e pontua 7,3 – contra 7,1 dos concorrentes nacionais e 5,6 dos competidores estrangeiros. Coincidência ou não, quando questionados sobre quais serão os dois setores com maior contribuição para a retomada econômica brasileira no pós-pandemia, 75% citam a indústria, mas 64% ainda apostam no agronegócio.
Há ceticismo também em relação ao impacto de medidas governamentais para aumentar a competitividade da indústria. Apenas 36% apostam que o setor ficará mais competitivo, enquanto 26% dizem ficará na mesma e 35% ainda avaliam que haverá perdas. Nada menos do que a metade dos empresários aponta que a responsabilidade por aumentar a competitividade das empresas nacionais é do governo, só 28% consideram que a responsabilidade recai nas próprias empresas, e uma minoria de 21% diz que é de ambas as partes.
“Vários indicadores mostram que, passado o pior momento da crise sanitária causada pela pandemia, a economia brasileira está em claro processo de recuperação. A retração foi grave, com enormes prejuízos às empresas e aos trabalhadores, mas a atividade econômica vem avançando, ainda que aos poucos. A questão que se põe é como acelerar essa retomada, adotando medidas para estimular um crescimento mais vigoroso e sustentado ao longo do tempo, com investimentos e criação de empregos”, declarou o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, em texto da assessoria da entidade.
Educação e tecnologia
Na avaliação do presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, reforça que, embora a sondagem seja sobre a indústria nacional, os números da indústria amazonense também estão inseridos e “não há grandes discrepâncias nos resultados nacionais com os locais”.
“Como foi discutido no Enai, acredita-se que a economia mundial entre em rota de recuperação em 2021, porém só reeditará os níveis da pré-pandemia a partir do primeiro semestre de 2022. Acredito que nós já atingimos esse patamar de pré-crise pandêmica em alguns segmentos, pelo menos é o que as pesquisas realizadas confirmam.
Um dado destacado pelo dirigente que segue em sintonia com a percepção majoritária da classe dirigente da indústria amazonense é que, apesar de 87% das fábricas terem amargado os impactos econômicos negativos da pandemia, apenas 27% estão com níveis de mão de obra inferiores aos do período de pré-pandemia. Outro ponto relevante está na expectativa predominante de crescimento da receita, ao final deste ano. Mas, segundo Antonio Silva, para obter resultados melhores, é preciso apostar e investir no futuro.
“Durante o evento, ficou evidente que deve ser priorizada a educação em todos os níveis, para que o país, como um todo, tenha capacidade de desenvolvimento tecnológico, competitividade de produção, conhecimento técnico e crescimento contínuo. Como bem destacou um dos palestrantes no primeiro dia do evento: ‘o futuro do Brasil está nas salas de aula’”, concluiu.
Fonte: Jornal do Commercio
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