Financiamento Híbrido: como alavancar investimentos para negócios de impacto
Destaques do Debate:
Ana Carolina Szklo – Gerente de Sustentabilidade da Humanize
A Agenda de Sustentabilidade do Humanize abrange dois programas que foca na promoção e estruturação de algumas cadeias da Sociobiodiversidade e outro voltado para empreendedorismo e negócios de impacto socioambiental aonde temos avançado mais como avaliação de investimentos estratégicos e mecanismos de financiamento. Nós investimos em iniciativas que estimulam o desenvolvimento sustentável e promove geração de renda, criando um ambiente mais favorável para o desenvolvimento de negócios de impactos socioambientais no Brasil, fomentando educação empreendedora e programas de aceleração e incubação de negócios. Humanize completou 3 anos, portanto, essa é uma agenda bastante recente para nós e parte de um diagnóstico de que alguns elementos precisam ser trabalhados para que negócios de impacto ganhe escala no Brasil. É importante passar por eles para poder entender de que contexto estamos falando, por que atuamos de uma determinada maneira e o que compõem o nosso portfólio e quais são os desafios pelos quais a gente está olhando. O primeiro deles é investimento, é o que já traz para o norte dessa conversa. O segundo é informação e educação. É preciso disseminar conhecimento e, no caso da Amazônia, unificar conhecimento científico e tradicional. O terceiro seria implementação imediata para que possamos promover inclusão produtiva em escala.
Redes e governança: percebemos uma série de movimentos que precisam estar conectados para encurtar o caminho e podermos acelerar o passo nessa jornada, com incentivo e regulação. Hoje já começamos a ver alguns movimentos mais programáticos e de aparato regulatório estadual para incentivar a Bioeconomia. Quando falamos de Bioeconomia, estamos falando de produção de recursos biológicos renováveis e a conversão desses recursos e fluxo de resíduos em produtos de valor agregado como: comida, ração, produtos de base biológica e Bioenergia. Então são setores e indústrias com grandes potenciais de inovação porque utilizam ampla gama de serviços, tecnologias facilitadoras industriais, além de um conhecimento local e tacito. A Bioeconomia envolve todos os setores da Economia que utilizam recursos biológicos em busca de maior qualidade de vida, desenvolvimento da biotecnologia e produtos que ajudam a obter uma energia mais limpa, redução de um passivo ambiental que seja manejado de forma mais segura, limpa e eficiente. Dessa forma, a Bioeconomia se coloca como uma alternativa mais interessante para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, sobretudo dado o alto potencial de ativos naturais na região e produtos da sociobiodiversidade. Esta cadeia de produção pode ser melhor estruturada, como açaí, cacau, andiroba, para listar alguns porque a gama é enorme. E para isso, é importante investir em capacitação, contribuindo para a geração de renda, para a população local e transformando o ativo ambiental em ativo econômico de uma forma inclusiva, sustentável e responsável. A filantropia tem um papel estratégico no apoio a essa pauta, especialmente na região Amazônica, para apoiar centros de pesquisas, universidades e centros tecnológicos na busca por inovação, alinhando biodiversidade, inovação e o fomento a cadeias produtivas sustentáveis desde assistência técnica e manufatura de produtos locais até comercialização. Essa etapa depende de logística adequada, uma questão importante a ser observada na região, além do financiamento à produção. Importante é atender prioridades e assegurar que esse formato produtivo valorize e mantenha a floresta em pé .
Patricia Daros – Diretora de Operações do Fundo Vale
O Fundo Vale está atuando na Amazônia há 10 anos, sempre investindo em projetos e recursos não retornáveis voltados para as áreas protegidas, focando no fortalecimento da governança local, algo muito importante. E outra direção em que temos trabalhado é a questão dos modelos produtivos alternativos buscando soluções sustentáveis. Depois de alguns anos investindo em algumas organizações na Amazônia, começamos a perceber o potencial que ela tem olhando exatamente para o que chamamos hoje de Bioeconomia. Nessa movimentação, começamos as oportunidades de novos negócios, projetos que tinham a capacidade de escala para empreender com formato muito interessante, procurando inovar em modelos que sempre travavam em algum momento da cadeia produtiva. Um exemplo que nos inspirou em alguns negócios foi o café Apuí, que nos fez indagar por quê não existe mais negócios como este café, por quê não existem outros arranjos sustentáveis que de fato possam trazer, além de um retorno financeiro interessante, também um impacto social e ambiental positivo. Então, ao longo desses anos, fomos aprendendo que a Amazônia não é fácil, tem uma série de questões, é um lugar particular do ponto de vista de vários gaps, logístico, de comunicação, energia etc. Por isso, mergulhamos para entender então como que o Fundo Vale poderia para, além de investir sem retorno nesses modelos produtivos mais alternativos, dar um passo adiante. Em determinado momento, numa conversa muito proveitosa com representantes do Fundo Amazônia, também parceiros do Fundo Vale, perguntamos porque não promover a junção dos dois Fundos numa perspectiva mais interessante de fortalecimento desse ecossistema de negócios sustentáveis. E aí, olhando as condições favoráveis de flexibilidade, cabe pensar em instrumentos financeiros para financiar, de verdade, esses negócios sustentáveis, especialmente aqueles coordenados por entidades não-governamentais
Ana Carolina Szklo
Quando você perguntou das métricas, no nosso caso, o Humanize busca promover o desenvolvimento sustentável aliado à geração de renda, passamos a enxergar a questão do negócio na ótica das cadeias produtivas e ajudar pequenos agricultores, pescadores, desenvolvedores de startups a assumir seus empreendimentos como negócio de fato. Uma questão que a Patrícia estava trazendo com relação aos indicadores, conversamos com o BNDES para entender como eles desenvolveram os projetos do Fundo Amazônia, medindo geração de renda, algo que não é uma questão tão simples e óbvia. Temos que ter isso numa planilha, monitorar o custo que está entrando e daí inserir não apenas assistência técnica, mas educação financeira para que isso possa realmente se traduzir, no final das contas, em melhoria de qualidade de vida. Quanto ao debate de Bioeconomia para Amazônia, o importante é olhar para o que há de mais rico na região, com o desafio de incorporar aquilo que hoje não está sendo contabilizado. Enquanto continuarmos com métricas puramente financeiras não vamos conseguir perceber o valor, no sentido de melhor qualidade de vida, de que estamos falando aqui.
Patricia Daros
Depois que começamos a entender o que era importante conhecer nos negócios, também aprendemos que não é só conhecer mas entender quais são os níveis em que esses negócios estão. Entre eles existem níveis completamente diferentes, e momentos completamente diferentes e isso foi um precioso aprendizado. Assim, entendemos que não era um único instrumento que daria conta de mensurar desempenho. Teríamos que ter vários instrumentos e olhar questões na Amazônia que vão, desde instrumentos de recuperação de crédito para um produtor rural, até o instrumento que é um fundo de aval para destravar financiamento. Por exemplo, ser avalista do agricultor familiar para destravar o acesso dele a um Pronaf, impulsionando um recurso subsidiado do governo para um negócio mais sustentável.
Paulo Bellotti – Diretor-Executivo do MOV Investimentos Ltda.
Um grande aconselhamento que dou para os empreendedores: estudar muito seus mercados, segmentar, entender muito seus clientes, marketing, posicionamento, proposta de valor. Pois, no momento que você acertar sua proposta de valor num segmento do mercado crescendo (e você tem inúmeros exemplos disso na Amazônia), a coisa escala e escalando, vai ter investidor que vai perceber isso.
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Para nós, o empreendedor ideal tem basicamente 3 características. Primeiro: ele já empreendeu anteriormente, segundo: o empreendedor tem que gostar de vender, a maioria deles conhecem a fundo tecnologia, a parte técnica, o produto, mas na nossa experiência poucos gastaram tempo suficiente para entender os mercados. E o terceiro que procuramos, em qualquer relacionamento de longo prazo, é que possamos ter um diálogo construtivo com as pessoas, que saibamos escutar, seja ouvido e seja sócio. São essas as 3 características de empreendedor que eu gostaria de sugerir que fossem levadas em consideração.
Ana Carolina Szklo
Resgatando o que Paulo destacou dos 3 pontos de orientação para empreendedores, é super importante até esclarecer que quando falamos de Filantropia estratégica queremos ir além também da provisão apenas de recurso financeiro, mas é realmente chegar mais perto, entender, ajudar, orientar, então, novamente, de certa forma ajudar os negócios a alcançarem um novo patamar. Tem duas outras esferas do Humanize que dialogam, onde uma é olhar cada vez mais intensamente para o fortalecimento das organizações da sociedade civil. Realmente ajudá-las a desenvolver uma estrutura de governança adequada, um planejamento estratégico, uma estratégia de sucessão, estratégias de comunicação, enfim, tem o papel de ajudar a colocá-las de pé. E não apenas as organizações da Sociedade Civil, mas também um dos braços do Humanize é a Gestão Pública, por entender que no Brasil, para fazer desenvolvimento sustentável de forma efetiva, tem que estar perto do setor público. Então aí entra um pilar de apoio à Gestão de pessoas, que o setor público não dá conta de fazer sozinho. E, por fim, voltando para um desafio maior na Amazônia, tem várias perguntas que pairam no ar, para as quais não temos respostas. Temos hoje um fluxo de financiamento importante para a Amazônia não suficiente, não totalmente conhecido, seja ele da Filantropia, do Governo, do Setor Privado. E isso é muito pulverizado, então é difícil ter esse mapeamento efetivo. Não sei se sabemos exatamente como dar conta desse recurso, quando ele ganhar o volume que queremos que ele ganhe, ou seja, tem o papel também de ajudar a orientar a montar planos estaduais que sejam mais estratégicos e que olhem para esses desafios com maior sinergia, entendendo que é uma região que tem os seus desafios, então não se trata só de olhar para um substrato que é o negócio de impacto socioambiental. Estamos falando de uma região que precisamos olhar para questões de saúde, educação, então amplia e foge do escopo específico de cada instituição e exatamente por isso que precisamos fazer isso juntos, em parceria. Acreditamos que esse é o caminho.
Paulo Bellotti
A oportunidade para a Amazônia é imensa nesse contexto de altíssima liquidez de uma consciência que, cada vez mais, dá importância à manutenção da floresta, do favorecimento do esporte cultural, dos povos originários, muita oportunidade para estabelecimento da sociedade civil. A melhor forma de isso acontecer é fazermos um processo com absoluta transparência, com uma boa governança, com a interação de vários tipos de empresas, organizações etc. Se conseguirmos fazer isso, a Amazônia vai se beneficiar muito e o Brasil finalmente vai deixar de ficar de costas para a Amazônia e vai enxergá-la como um patrimônio tão importante e único que a gente tem para preservar e desenvolver.
Copydesk: Aline Farias
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