Foto: Família Vergueiro
Por SÉRGIO VERGUEIRO
Além de ser extremamente nutritiva, o grande diferencial da Castanha-do-Brasil (semente da CASTANHEIRA) é ser a maior fonte de SELÊNIO conhecida da natureza. O teor de selênio é definido principalmente, pelo solo onde se desenvolve a castanheira e, na nossa região, esse teor é ideal para que apenas uma castanha por dia seja suficiente para suprir a necessidade diária de selênio no caso de um adulto.
Cozzolino: “Um alimento para a saúde humana!”
Constatamos isto quando analisamos as amostras de nossa primeira safra com a Profa. Dra. Sílvia Cozzolino da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, nutricionista e especialista em Selênio. Ante a qualidade de nossa castanha, ela nos sugeriu fazer um produto voltado para a saúde humana, já que o cultivo possibilita o rastreamento completo da qualidade desde a árvore até a embalagem final e, por ser tratar de uma amostra homogênea de castanhas, possibilita-se uma análise de Selênio com precisão quanto ao teor desse micronutriente .
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Há anos, já testávamos amostras de nossas primeiras safras buscando um processo de pós-colheita e uma embalagem que oferecesse ao produto bastante tempo de prateleira. Colaborava conosco, fazendo testes, análises e sugestões, a Prof. Dra. Marisa D’Arce da E.S.A. Luiz de Queiroz em Piracicaba. Além disso, desejávamos também evitar a aflatoxina e manter as qualidades nutritivas, crocância e sabor de nossa castanha. Com relação à aflatoxina, alunos do Prof. Benedito Corrêa da USP (Instituto de Ciencias Médicas e Biologicas) realizaram um trabalho científico na Fazenda Aruanã analisando todo o ciclo do Aspergillus desde a árvore até o produto final.
Econut, a Certificação Orgânica
Surgiu, então, a marca ECONUT significando uma castanha-do-Brasil CULTIVADA, controlada por um protocolo desde a árvore até a embalagem final, e atendendo às normas do Ministério da Agricultuura para PRODUTOS ORGÂNICOS. Conseguimos estabelecer essas práticas e obtivemos a CERTIFICAÇÃO ORGÂNICA (Selo SisOrg) através da auditoria do TECPAR (Instituto de Tecnologia do Paraná). Embora ainda não seja exportada, ECONUT também atende aos padrões internacionais para exportação exigidos pelo MAPA. Da árvore à embalagem final, nossa castanha ECONUT passa por 10 seleções, sendo analisada quanto à atividade de água (abaixo de 0.6), é segura quanto à ausência de aflatoxinas (abaixo dos padrões internacionais), e sua embalagem garante mais de 2 anos de validade do produto.
Domesticação assegura perenidade da espécie
O fundamental desse processo é que o produto é INTEIRAMENTE produzido na Fazenda Aruanã, por pessoal da região (muitos deles nascidos na Fazenda), provando que nossa mão-de-obra local é apta para produzir produtos de alta qualidade e elevado valor agregado, desde que devidamente treinada e orientada. A indústria da Zona Franca de Manaus prova isso todos os dias e, na agricultura, a Fazenda Aruanã também confirma essa qualidade.
Como vemos, o que ocorre com todas as culturas comerciais, a associação do trabalho técnico de campo com a pesquisa, gera bons frutos. Também na castanha isso ocorre e, agora, se intensifica. O importante é ressaltar que, após dezenas de anos de pesquisa, experimentação e tentativas no campo, os trabalhos dos órgãos de pesquisa e de desenvolvimento ambientais associados a trabalhos de campo com técnicos persistentes, DOMESTICOU a espécie Bertholletia excelsa HBK, garantindo a sua sobrevivência e evitando a sua EXTINÇÃO. Atualmente, estamos trabalhando na Reposição Florestal com outras espécies além da Castanha-do-Brasil.
Cumaru e Jatobá
Desde 2018, implantamos perímetros com cumaru e jatobá, as quais são espécies nativas com boas perspectivas de mercado e que conseguem se desenvolver em áreas de solo leve, que não são adequados à castanheira. Já dominamos as técnicas de produção de mudas em elevada escala e as técnicas de plantio mas a calagem e adubação estão sendo testadas pois as áreas mais leves exigem essa prática na implantação.
Há muito o que pesquisar e aprimorar para que a cultura da castanheira e outras espécies nativas sejam eficientes, rentáveis e ajudem a recuperar as imensas áreas degradadas na AMAZÔNIA para que se tornem fonte de dignidade e alimento.
Quanto maior a praia do conhecimento, maior o oceano do desconhecido.
Piracicaba, maio de 2019
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