A avaliação mais aprofundada da Análise de Porter e pensando sobre as oportunidades do Amazonas partindo do princípio de que em função do mercado é que se deve estabelecer os caminhos para fortalecer o setor HPPC no Estado. Assim, como exercício procura-se responder a seguinte pergunta: De que forma o governo, a academia e o setor privado devem-se comportar para enfrentar os cincos desafios acima?
Mutirão interinstitucional
Inicialmente, fica claro a necessidade de se implementar a inteligência de gestão de Bionegócios que deve apoiar os empreendedores na identificação do mercado, na articulação com professores e pesquisadores, na promoção de produtos Ressalta se a necessidade orientar e apoiar os empreendedores quanto as normas da Anvisa, ICMS e IPI e outras pressões tributárias e da legislação estadual.
Esta inteligência também deverá orientar o fornecedor no interior do estado a valorar mais o seu produto a fim de que tenham o retorno de seus investimentos adequados aos seus esforços. Isto foge do tradicional método de produção e comercialização dos ativos naturais existentes (majoritariamente in natura), tornando necessário a inserção da Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) nas atividades para que o sistema de beneficiamento utilizado atualmente seja adequado às realidades de um novo cenário econômico, globalizado e competitivo.
Verbas de P&D
Evidencia-se na análise de Porter a importância de diversificar os produtos. Isto requer forte investimento em P&D o que significa a existência de laboratórios, equipamentos e profissionais qualificados para uma abordagem ampla demandada pelos serviços de pesquisa e desenvolvimento. No primeiro momento, para os pequenos empreendedores a sinergia com o estado é de extrema importância. Juntos devem identificar os atores importantes dentro de todos os processos de desenvolvimento; isto implica desde o desenvolvimento do produto até a balcão de venda e a venda por si só. O novo e pequeno empreendedor deve ser apoiado na promoção do seu produto e na negociação enquanto ele se capitaliza em termos de infra e de conhecimento. Este poderia ser o papel de incubadoras e não somente disponibilizar o local e oferecer lhe aulas de plano de negócio. É preciso compartilhar as ações do pequeno empreendedor afim de que ele ganhe amadurecimento profissional e passe para nova etapa estabelecida dentro do contrato com a incubadora.
Finalmente, todos precisamos nos reinventar dentro de uma lógica agressiva de mercado, mesmo que, no primeiro momento, sejam considerados de baixo retorno econômico. O importante é a sustentabilidade econômica e financeira do empreendimento para que, ao longo do seu amadurecimento, conquiste novos mercados e aos poucos contribuir com a bioeconomia local.
Simultaneidade operativa
Os investimentos para o desenvolvimento do setor de fitocosmético podem ter duas vertentes operadas concomitantemente: a primeira para espécie que tem em abundância no Estado e tem potencial de mercado e a segunda para aquelas que já tem iniciativas econômicas promissoras e que precisam agregar valor.
Ambas vertentes precisam ser trabalhadas utilizando-se de ferramenta adequadas para identificar todos os gargalos existentes nas suas respectivas cadeias produtivas para agilizar e integrar todos os atores que tenham experiencia e conhecimento para solucioná-los. Isto implica na necessidade de um gestor de conhecimento como maestro deste processo de orquestrar profissionais e ações governamentais que encaminhem este setor para sua sustentabilidade econômica. A diferença entre as vertentes é que a segunda tem a possibilidade de dar uma resposta mais rápida por ter seus segmentos produtivos mais organizados com o mercado mais robusto fazendo com que o diálogo entre a academia e o setor seja mais efetivo.
Cadeias produtivas consolidadas e a consolidar
Em 2015, os técnicos da Secretaria Executiva de Ciência e Tecnologia fizeram um estudo para identificar as vocações socioeconômicas locais com vista a apoiar iniciativas econômicas promissoras para o mercado local, nacional e até internacional sugere primeiramente investimento para agregar valor na Castanha, no Açaí, no Guaraná e na Copaíba. São cadeias consolidadas que podem emprestar suas metodologias de acertos para as demais.
Diante dos estudos dos técnicos da SECTIC/SEPLANCTI indústria de Produtos Fitocosmético tem potencialidade para produzir os seguintes insumos:
- Óleos essenciais e óleo-resina.
- Óleo vegetal e manteiga vegetal (também em pequena escala de produção)
- Corante/Pigmentos naturais;
- Gomas (ex. breu branco); Bálsamos e Ceras
De acordo com os dados do IBGE de 2014 (fig. 2) a participação de cada estado da Amazônia na produção dessas espécies:
Já existem estudos preliminares do que pode ser extraído de cada uma das espécies acima, mas isso carece de explicação apropriada sobre a produção, a concentração em porcentagem de cada componente (princípio ativo) e nível do conhecimento pela academia de cada um destes produtos/espécies. Vale ressaltar novamente o trabalho realizado pelo grupo da SECTI/SEPLANCTI que apresenta entre o produto final com a venda do componente (principio ativo) e a Matéria Prima (Tabela 2).
Em 2018 Secretaria de Estado de Planejamento, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação – SEPLANCT produziu a segunda edição do Livre Mapa do Amazonas – ano base 2016 e apresenta especializado o local que se produz a Castanha, o Guaraná e o Açaí.
A presença das intuições de ensino técnico, superior e de pesquisa no Estado do Amazonas é de impressionar. Deve-se aproveitar essa infraestrutura de ensino e pesquisa existente mapeando o que de fato está produzindo na sua área de influência e direcionar as atividades para agregar valor nestes produtos (fig.6). A pergunta que se deve fazer é: Por que não aproveitar as instituições de ensino superior e pesquisas para que se voltem para promover conhecimento sobre as potenciais vocações econômicas da sua localidade?
Não se tratar só da atividade acadêmica, é necessário avaliar o tipo e o nível do conhecimento que se está produzindo nas instituições de ensino. Em 2016 técnicos em do Secti/Seplancti fizeram um estudo, com base das informações do CNPq dos grupos de pesquisas na área de fito cosméticos existentes no estado do Amazonas. Existem 107 professores e pesquisadores que trabalham com temas relacionados a fitocosmético; deste, 60% tem nível de doutorado, 19% de mestrado, mestrado profissional 2%, especialização 14% e graduação 5%. Todos estão associados em um dos grupos de pesquisas abaixo (Tabela 3):
Resta saber o estágio de integração e alinhamento de nossos pesquisadores com as rotas tecnológicas para produtos intermediários naturais e produtos identificadas na oficina sobre Bioeconomia realizada pela SEPLANCTI em Manaus em 2015:
- Utilização de nanotecnologia e biotecnologia que alteram e criam propriedades nos produtos intermediários para atender necessidade especificas; por exemplo: Dermocosmético: controle maior na velocidade e na profundidade com que o principio ativo e liberado na pele; Em preparação capilar: propriedade de atingir os fios de cabelo sem destruir a fibra externa que os recobre; Em produtos de maquiagem: maior gama de cores e textura.
- Extração dos intermediários por métodos como solvente orgânico, fluído supercrítico e tecnologia enzimática.
- Técnicas de purificação e separação das biomoléculas.
- Mapeamento e triagem dos intermediários que utilizam métodos cromatográficos, termoanalíticos ou de avaliação sensorial.
- Qualificação toxicológica e funcional dos intermediários por meio de métodos físicos, químicos e microbiológicos
- Desenvolvimento de novas misturas e formulações.
- Necessidade do desenvolvimento de Tecnologias Limpas (Química Verde).
- Tratamento dos resíduos: sub-produtos da operação.
- Otimização do consumo de energia e de água.
- Controle de Biossegurança.
- Tecnologia de embalagens com vocação regional e atrativo visual baseados em fatores étnicos, sociais, ambientais e culturas.
Falta gestão e integração
Os técnicos da SECTI aprofundaram seus estudos avaliando algumas publicações para identificar que tipo de pesquisa que estava sendo desenvolvidas pelos grupos. Os resultados indicam um aspecto particular do conhecimento produzido no Estado de que poucos grupos trabalham com desenvolvimento tecnológico. Isto implica em um grande vácuo para que o conhecimento produzido chegue a linha produção. A figura 7, retrata com clareza; observe que praticamente todos trabalham em pesquisa básica e aplicada. Destaca-se que na linha de pesquisa de inovação tecnológica não existe grupo trabalhando em desenvolvimento tecnológico. Na realidade o perfil do profissional que trabalha em desenvolvimento tecnológico é diferente em grande parte do perfil de professores e pesquisadores do Estado. Portanto, é necessário que os institutos ou o estado capacite em profissionais que sejam capazes de traduzir um resultado de laboratório para o chão de fábrica.
Deve-se dar o crédito ao Estado que durante um período investiu pesadamente em inovação tecnológica investindo recursos a praticamente a todos os empreendimentos que estavam incubados. No entanto, efetivamente tiveram poucos resultados positivos. É necessária avaliar a verdadeira efetividade das incubadoras no Estado do Amazonas. Alguns aspectos devem-se colocar em discussão:
- 1. A incubadora através dos NITs institucionais deve sair da passividade; ou seja, identificar o potencial de produto e estimular a sua incubação. Existe algumas complicações legais que precisam ser vista quando a incubadora é de uma instituição publica onde só pode ser incubado através de licitação;
- 2. Em geral, os profissionais que incubam seu produto são pesquisadores com profundo conhecimento científico e o investimento realizado é capacitando-o em plano de negócio e disponibilizando recurso para otimizar o seu produto. Mas este profissional não sabe fazer negócio o que implica na necessidade de apoiá-lo por um tempo mesmo depois que acabe o período de incubação.
Vantagens da integração operacional
O segmento de produção de fitofármaco ainda apresenta algumas vantagens pelo fato de que pode-se associar a ele outras atividade econômicas tais como: Serviços ambientais, recuperação de áreas degradadas; Conservação de espécies, Crédito de carbono, tecnologias limpas (química verde). Buscamos aqui apresentar um cenário sobre o que está em movimento para ampliar e fortalecer a indústria de fitocosmético no Amazonas e, de forma ainda que superficial, destacar os avanços de alguns atores importantes dessa empreitada, na economia, na academia e no mercado. A maioria dos dados aqui anotados é a síntese de estudos que foram realizados com a colaboração efetiva dos técnicos da SECTI em 2015 e tem como objetivo provocar a reflexão sobre o desafio de transformar ativos naturais em prosperidade social e múltiplos benefício da população da Amazônia.
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