Entrevista exclusiva com José Jorge do Nascimento Júnior, presidente da Eletros
——— Por Alfredo Lopes ———
Numa conversa descontraída e muito densa por parte do entrevistado, o presidente da ELETROS, José Jorge Nascimento Júnior, recebeu a Follow Up e percorreu alguns dos assuntos que traduzem as inquietações e expectativas do setor produtivo em tempos de insegurança jurídica e ameaças do Coronavírus. Presidente da Eletros, Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos, Jorge Júnior se divide entre São Paulo, Brasília e Manaus, além das visitas aos associados por todo o país, para administrar um setor em movimento constante evolução. Confira.
1. Follow Up – Como você analisa o risco do Coronavírus contaminar a economia do Amazonas?
José Jorge do Nascimento Júnior – – Considero preocupante a instabilidade na cadeia logística de importação de insumos produzidos na China. O desabastecimento pode trazer riscos e prejuízos, pois o país asiático é um fornecedor importante de componentes para empresas que fabricam produtos para a linha branca (fogões, geladeiras e máquinas de lavar); linha marrom (equipamentos de áudio e vídeo); e eletroportáteis (secadores de cabelo, sanduicheira, ventiladores, entre outros). E o que mais nos preocupa com isso, é que os insumos que chegam ao Brasil por via aérea, considerados de maior valor agregado (para celulares, TV e tabletes fabricados na ZFM) são suficientes para abastecer a produção das indústrias por entre 10 a 15 dias.
Em relação aos insumos que chegam ao país por via marítima, os estoques são suficientes para abastecer a produção por até 90 dias. Ou seja, podemos ter um risco de paralisação de recebimento de insumos neste momento e depois daqui a uns 3 meses, caso as coisas não se regularizem nesta semana. O fato é que a China já está com seu PIB contaminado e a indústria e o turismo mundial já se preparam para as mudanças em curso.
2. Follow Up – A performance do setor eletroeletrônico em 2019 causou surpresa aos próprios empresários..Entretanto, a concorrência dos importados começa a ser uma ameaça crescente. Como você analisa essa questão?
José Jorge do Nascimento Júnior – O mercado eletroeletrônico é extremamente competitivo e a indústria brasileira consegue atender o consumidor do Brasil mesmo não tendo o ambiente de negócios idêntico ao de outros países onde estão instaladas as empresas estrangeiras que vendem pra cá. A proposta do Governo Federal de abertura comercial ou inserção comercial competitiva do Brasil, como alguns preferem chamar, deve ocorrer concomitantemente com a melhoria do ambiente de negócios no nosso país. Sem isso, a indústria nacional terá imensas dificuldades de competir com os produtos importados é isso causará a migração de investimentos pra outros países e o desemprego em nosso país.
3. Follow Up – Em recente visita Manaus, o ministro do MeioMeio Ambiente , Ricardo Sales, deixou no ar um desestímulo a indústria local, especialmente o segmento de duas rodas, de bicicletas. Isto é um sentimento isolado ou do alto escalão do governo na sua opinião!?
José Jorge do Nascimento Júnior – Nem todos conhecem a realidade e a efetividade do parque industrial instalado em Manaus por isso surgem alguns comentários infundados. O Ministro Ricardo Sales após a sua declaração que criticou a ZFM retificou sua posição e reconheceu publicamente e que a indústria da ZFM é importante para a geração de emprego e são esses empregos evitam a degradação do meio ambiente. O Polo Industrial de Manaus é um dos mais importantes do país e quem o conhece o defende por sua relevância.
4. Follow Up – Pessoalmente você se envolveu com o problema dos PPBs, o famoso embargo de gaveta. Um atraso de muitos prejuízos aos interesses do Amazonas. Com a oportunidade do Grupo de Trabalho – GT PPB tratar deste assunto em Manaus, você acredita que a Suframa poderá transformar seu Conselho de Administração em palco das decisões que nos dizem respeito?
José Jorge Nascimento Júnior – Não acredito que algum dia o Conselho de Administração da Suframa será o fórum exclusivo das decisões sobre os PPBs de produtos do PIM. Até gostaria que fosse. Fato é que devemos ter uma forma mais célere e extremamente técnica para se estabelecer ou alterar os PPBs. Acho que o CAS pode exercer um papel importante nas tramitações dos PPBs porque tem em sua composição representantes do Ministério da Economia e de Ciência e Tecnologia que são as bases do GTPPB, juntamente com a Suframa. Agora, ser o CAS o fórum exclusivo das decisões entendo que isso não deve acontecer.
5. Follow Up Jorge estamos vivendo a era do Fake News e do pós-verdade. A comunicação nunca foi tão intensa, como também tão confusa. Temos sido alvo de uma campanha publicitária subliminar para demonizar a Zona Franca de Manaus e transformá-la em razão do déficit fiscal do Brasil. Como você veria uma campanha publicitária associando PIM com proteção florestal e benefício ambiental para o país e o mundo?
José Jorge do Nascimento Júnior – Acho que sempre cometemos um grande erro ao não saber como divulgar as verdades sobre a ZFM e repelir as mentiras, aliás, esclarecer as mentiras apresentadas. Temos que considerar também que nos faltam espaços na imprensa nacional para isso e muitas vezes acabamos falando pra nós mesmos, ou seja, falamos sobre a ZFM geralmente para aqueles que conhecem esse modelo e sabem do seu êxito e importância para o desenvolvimento regional, soberania e preservação da Amazônia. Não se pode falar ou pensar em crescimento econômico do país sem pensar no desenvolvimento sustentável da Amazônia. E a ZFM é comprovadamente o mais bem sucedido modelo de ação econômica sustentável por gerar emprego e renda, estar dotada de uma indústria moderna, com centros de pesquisa de excelência e avanços significativos na redução das desigualdades regionais.
Comentários