Marco Dassori
O faturamento real da indústria subiu mais 2,3%, na passagem de julho para agosto. O nível de vendas da manufatura brasileira já supera o patamar registrado no primeiro bimestre de 2020 –antes da crise da covid-19 –e ficou 37,8% acima da marca apresentada em abril – mês do auge da pandemia no país. Não foi suficiente, contudo, para repor as perdas do ano, já que o desempenho do acumulado de oito meses foi negativo em 3,9%. Os dados são da pesquisa Indicadores Industriais, da CNI.
Embora os números sejam nacionais, lideranças do PIM ouvidas pelo Jornal do Commercio confirmam que o momento é positivo também para a maior parte dos segmentos da indústria incentivada de Manaus –especialmente os mais fortes e tradicionais, como bens de informática, eletroeletrônicos, duas rodas e seus componentistas. Não há consenso, no entanto, em torno da consistência desse crescimento, em face das incertezas em torno de uma segunda onda e da cada vez mais próxima retirada dos estímulos anticíclicos federais.
O emprego industrial registrou seu primeiro crescimento em 2020, ao avançar 1,9%. O incremento colocou indicador mais próximo do patamar pré-crise, mas ainda não veio com a força necessária para reverter os saldos negativos ‘aglomerados’ nos meses mais duros da pandemia. O mesmo se deu nas horas trabalhadas, que expandiram 2,9% entre julho e agosto e acumulam alta de 25,1% em relação a abril –mas estão igualmente distantes do pré-pandemia.
Embora elevado, o nível de UCI (Utilização da Capacidade Instalada) não acompanhou o dinamismo do faturamento e das contratações do setor. Agosto registrou uso médio de 78,1% do potencial das unidades fabris brasileiras, ficando 0,8 ponto percentual abaixo do percentual pré-pandemia de fevereiro de 2020 –embora o desempenho tenha pontuado uma elevação de 0,6 p.p. sobre o patamar de 12 meses atrás.
Em paralelo, a massa salarial registrou aumento de 4,5% entre julho e agosto, sendo acompanhada pela expansão de 2,8% no rendimento médio real dos trabalhadores, no mesmo período. Tanto em um caso, como no outro, o crescimento compensou quedas anteriores, mas ficou abaixo de agosto de 2019 e ainda distante dos dias pré-covid. Contribui para isso o fato de que algumas indústrias ainda estão adotando suspensão de contrato ou redução de jornada com redução de salário.
O gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, considera que o saldo é positivo para o setor. “Os números de agosto reforçam a percepção de recuperação em ‘V’ da atividade industrial brasileira, uma recuperação que já vem de alguns meses. A importante novidade do mês é que essa alta da atividade veio acompanhada de crescimento do emprego, o que sugere maior confiança do empresário na sustentação dessa recuperação”, afiançou, no texto de divulgação do levantamento.
Retomada e ajustes
Para o presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, ao apontar que as vendas do setor já superam patamar anterior à pandemia, os Indicadores Industriais constatam que o crescimento da atividade mês a mês apresenta consistência, não sendo apenas uma eventual consequência de demanda reprimida gerada pela crise da covid-19.
O dirigente considera que os números da manufatura em relação ao mesmo período do ano passado também reforçam a confirmação de que a indústria deve recuperar parte das perdas decorrentes da pandemia ainda neste ano, mas salienta não acreditar que o crescimento seja suficiente para zerar o prejuízo acumulado pelos dias de reversão de demanda, fechamento do varejo, férias coletivas e estoques elevados nas fábricas. A melhor notícia, entretanto, diz respeito ao reforço nas contratações e seu ciclo virtuoso.
“É coerente o indicativo de crescimento do emprego juntamente com as horas trabalhadas, pois mais consumo, maior produção, maior utilização da capacidade instalada, resultam em aumento da força de trabalho.(…)
Em relação ao cenário econômico e político brasileiro e seus possíveis efeitos para a indústria, o presidente da Fieam se diz otimista ao avaliar que “as questões começam a se ajustar”, diante dos pedidos recíprocos de desculpas e da nova tentativa de reconciliação entre o Ministério da Economia e a Presidência da Câmara dos Deputados. “Estamos, creio eu, em um clima de entendimento entre os poderes, o que é muito bom para o desempenho da economia e para as aprovações das reformas necessárias”, arrematou.
Auxílio e emprego
Em depoimento anterior ao Jornal do Commercio, o presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, já havia ressaltado que alguns segmentos industriais, especialmente os que carreiam o PIM, como eletroeletrônicos, bens de informática e duas rodas, já estavam trabalhando com mais de 80% de sua capacidade instalada em agosto, para atender a demanda de fim de ano.
O dirigente pontuou ainda que os empregos também seguem em trajetória positiva e de manutenção, mas observou que o horizonte ainda é incerto para o setor. “Só o fato de termos mantido os empregos já é um fator muito positivo. Esperamos que, apesar dessa redução de R$ 600 para R$ 300, o auxílio emergencial continue contribuindo para movimentar a economia pelo consumo. Vamos aguardar o resultado das festas de fim de ano e o começo de 2021, quando essa ajuda deve acabar”, encerrou.
Fonte: Jornal do Commercio
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