“… o CIEAM não buscará contribuir pura e simplesmente com os seus associados, como tem feito com dedicação e firmeza, mas também com a sociedade amazonense, com o Estado do Amazonas, naquilo que lhe possível e que tem buscado fazer”.
Entrevista com Wilson Périco (*)
1. FOLLOW-UP: Neste ano, Mário Expedito Neves Guerreiro, fundador do CIEAM e referência dos dirigentes desta Entidade, completa 100 anos. Qual de suas recomendações representam mais fortemente a atuação institucional do CIEAM 41 anos depois?
Wilson Périco: Falar de Mário Guerreiro é falar da história da indústria amazonense, desde épocas anteriores ao Programa Zona Franca. Dr. Mário é um ícone, uma memória viva e bem viva na sabedoria de seus cem anos de idade. Pessoa extremamente lúcida e que continua, dentro das oportunidades que tem, contribuindo com o nosso Estado, alertando e aconselhando. E o CIEAM traz isso como referência da Entidade. Seguindo sua orientação original, por ocasião de sua Fundação, reunindo um time de empreendedores e de homens com comprovado espírito público, o CIEAM não buscará contribuir pura e simplesmente com os seus associados, como tem feito com dedicação e firmeza, mas também com a sociedade amazonense, com o Estado do Amazonas, naquilo que lhe possível e que tem buscado fazer. Dizemos isso com muito contentamento e muita gratidão.
2. FUP: Em plena pandemia, como descrever as iniciativas das empresas do Polo Industrial de Manaus, sob a coordenação do CIEAM em conjunto com as demais entidades FIEAM, ELETROS e ABRACICLO?
WP: CIEAM desde sempre busca se colocar na salvaguarda dos acontecimentos, para resguardar os direitos dos investimentos, dos empregos desse investimentos, de olho no tecido social, com quem somamos a partir do chão de fábrica. Fomos surpreendidos pela perversidade da Covid-19. Uma tragédia imponderável da qual tínhamos que nos proteger. A pandemia tirou tudo no lugar e se apresentou como uma bomba para os empreendimentos e empregos e uma hecatombe a ceifar vidas. Não medimos esforços para ajudar as equipes de saúde no momento de maior pesadelo. Não havia notícia de empresas no Polo Industrial de Manaus que fabricassem EPIs, respiradores, álcool em gel e outros suportes para proteger as pessoas atarantadas e contaminadas por falta dos equipamentos de proteção. Aprendemos em tempo recorde a fabricar e doar os itens necessários ao combate do coronavírus. No pico da contaminação e óbitos e agora no pós-pandemia que se instala, a ordem foi e é ajudar as famílias que sofrem as consequências da tragédia. Por isso nos empenhamos com a arrecadação de alimentos e trabalhando fortemente na busca de subsídios para um enfrentamento num futuro de curto, médio e longo prazo para o nosso programa de desenvolvimento, a Zona Franca de Manaus.
3. FUP: Estamos diante de uma Reforma Tributária que pode comprometer o futuro do Polo Industrial de Manaus. O que tem feito o CIEAM a respeito?
WP: A união das entidades e seus colaboradores, que desembarcou na formação do Comitê IndústriaZFMCovid-19, foi fundamental para debater riscos e possibilidades da Reforma Tributária. Trouxemos para as Conferências, sempre muito concorridas, excelentes quadros de tributaristas, juristas, economistas, parlamentares, envolvendo o Governo do Estado, buscando entender cada uma das propostas, identificar interesses e as ameaças de nossa sobrevivência. Sabemos, porém, que as discussões técnicas tem suas limitações na medida em que as decisões serão políticas. Por isso, envolver a bancada parlamentar do Amazonas e dos estados vizinhos significa apostar no tabuleiro do Congresso Nacional, onde as leis são definidas. E isso tem sido a rotina da Entidade e do Comitê há 20 semanas.
4. FUP: Há quase 10 anos você tem insistido que a ZFM precisa diversificar na direção de Novas Matrizes Econômicas. Como a entidade tem conduzido este assunto?
WP: Estava comentando os 41 anos do CIEAM e lembrava do espírito visionário do Dr. Mário Guerreiro. O Centro da Indústria, desde sua fundação, tem essa consciência, e todos nós temos clareza de que o nosso Estado não pode repetir os erros do passado. O programa Zona Franca representa o terceiro momento socioeconômico da nossa história, o primeiro foi lá na época do extrativismo da borracha, da castanha, entre outros itens como madeira e resina demandados pelo mercado interno e externo. Essa economia de altos e baixos registrou três décadas muito pujante, com a borracha, até 1912, e foi, aos trancos e barrancos, daí em diante até meados dos anos 40, com o fim da II Guerra Mundial, quando os esforços de guerra exigiram reativação de um novo e curto Ciclo da Borracha. Na época ninguém se preocupou em trazer pra cá o fabricante dos produtos que se usavam aqueles insumos, principalmente, a borracha, a juta, etc., e muito menos a tecnologia para aumentar a produtividade. O descaso foi tão grande que, hoje, estados como São Paulo, Bahia, Mato Grosso, produzem com tecnologia muito mais borracha que o próprio estado do Amazonas. Aqui continuamos extraindo da mesma forma como se fazia há mais de 100 anos.
5. FUP: Por que é tão difícil empreender na direção desses novos mercados?
WP: O proibicionismo é a tônica. Aqui não há preocupação nem permissão de fazer manejo sustentável dessas espécies de alto valor agregado. Por que não incentivar o reflorestamento de seringueiras para que se pudesse ter maior produtividade. Temos fábricas de pneus em Manaus, um polo consolidado de Duas Rodas, e nós temos que importar borracha de outros estados ou pneus asiáticos. Sequer o Segundo Momento foi respeitado com o advento ZFM, onde Manaus que tinha o comércio como seu principal pilar nos anos 70 e 80. Com uma canetada do presidente Fernando Collor, foi dizimado, e hoje nos restou a indústria. Não adianta pensar no atual cenário, com os polos que tem aqui, com os segmentos que tem aqui, vai ser suficiente para sustentar esse Estado por mais 30/50 anos. Temos dois grandes desafios: 1.Reforçar, preservar e atrair novos investimentos para o modelo ZFM dentro daquilo que tem no modelo e na atividade industrial. 2. Em paralelo, desenvolver novas atividades, além dos muros da capital que não estejam diretamente ligadas ao modelo ZFM. Mas não se trata de substituir o modelo, que é mandatório e necessário para podermos desenvolver essas novas atividades. Sem a ZFM não vamos ter nada. É este Programa que vai nos dar tempo para desenvolver as atividades que vão se somar aquilo que a ZFM tem e oferece hoje para nossa cidade, nossa estado e nosso país.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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