Sem a indústria, os trabalhadores demitidos não vão conseguir emprego no terceiro setor (comércio e serviços), pois o Brasil não está num ritmo de crescimento, mas tão só de recuperação
Farid Mendonça Junior
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A semana começa com um fato extremamente lamentável e que acende o sinal amarelo sobre o ambiente de negócios no Brasil. A empresa Sony anunciou ontem o fim da sua operação industrial e comercial no Brasil a partir de 2021.
Uma das mais importantes empresas do setor eletroeletrônico mundial e que está no nosso país há décadas ao tomar essa decisão causa imensa preocupação naqueles que tem o real compromisso com o crescimento e desenvolvimento do país. Que rumos estão sendo dados na política econômica do país?
Em plena crise
O fechamento de uma fábrica seja no Polo Industrial de Manaus, seja no sertão nordestino ou no vale catarinense, significa perda de postos de trabalho (aumento do desemprego) e queda na produção e, portanto, contribui para a queda do PIB nacional e pode gerar ainda mais problemas sociais em um país em plena crise econômica e sanitária.
Com mais pessoas desempregadas e, portanto, sem renda, menos consumo na economia, o que acaba contribuindo para um maior pessimismo dos agentes econômicos e provável queda nos investimentos.
A saída da Sony do Brasil deve estar causando nos investidores de outras empresas perguntas e muitas sem respostas. Será que vale a pena investir no Brasil? Será que vale ainda continuar investindo no país? Não foi qualquer empresa que desistiu do Brasil.
Bravatas do Custo Brasil
Mas seria essa decisão da multinacional japonesa uma consequência da pandemia do COVID-19? Não acredito que tenha muita ligação. A pandemia pode até ter contribuido para esta decisão. A crise econômica existe, mesmo que um gestor público fanfarroneie que estamos saindo melhor do que entramos nesta crise. Bravatas não ajudam o país!
É inegável que está cada dia mais difícil investir no setor produtivo no Brasil. O Custo Brasil é enorme (burocracia, insegurança, carga tributária altíssima, custos trabalhistas sem comparação, energia elétrica, etc).
E além disso tudo, temos ainda um ambiente de negócios com Jaboticabas (coisas que só existem no Brasil) como cada vez mais exigências do governo em prol de monopólios e oligopólios. O governo que se diz liberal fomenta as reservas de mercado para a obrigação de uso de insumos locais por parte dos fabricantes de bens de consumo.
Vejamos o caso dos processos produtivos básicos – PPBs, tal como a exigência do novo PPB de TV com tela de LCD (portaria Interministerial nº 40, de 24 de julho de 2020), que amplia a exigência do Ginga (aplicações interativas radiodifundidas) em 90% dos aparelhos fabricados no Brasil. Ou seja, mais uma exigência, mais uma jaboticaba, que o governo federal faz das empresas sem qualquer propósito. Aliás, o propósito deve ser exatamente atrapalhar ou inviabilizar a produção no país.
O país dos burocratas
Como se sabe, a empresa Sony é produtora de TV e deve ter avaliado que mais esta exigência em seu processo produtivo não justifica a sua permanência no Brasil e em um mercado extremamente competitivo e com mudanças nas regras de forma recorrente.
É muito simples. Empresário faz conta. Se a conta não fecha, ele arruma a mala e vai para o local onde a conta possa funcionar de forma positiva pra ele.
Infelizmente, o governo federal do Brasil, principalmente o Ministério da Economia, não enxerga os equívocos das decisões que está tomando.
Ressurreição de Collor
Como se não bastasse, o governo federal nitidamente quer repetir de forma bastante acentuada o que o governo Collor fez, uma ampla abertura comercial que inegavelmente irá desindustrializar o Brasil.
E voltamos com isso as contas que o empresário faz e algumas perguntas, como: por quê produzir no Brasil com um ambiente de negócios complexo e instável, se o próprio governo me incentiva a tirar minha fábrica daqui e produzir em outro país e vender pros brasileiros com impostos de importação menores?
O empresário possivelmente terá menos problemas e dor de cabeça e deve aumentar seus lucros. De forma iludida o consumidor brasileiro vai imaginar que comprará produtos mais baratos. Mas, o que de fato acontecerá, é o aumento do desemprego. Sem a indústria, os trabalhadores demitidos não vão conseguir emprego no terceiro setor (comércio e serviços), pois o Brasil não está num ritmo de crescimento, mas tão só de recuperação. Também não vão conseguir emprego no primeiro setor (na agricultura), pois apesar da grande força deste setor no Brasil, cada vez mais ele está se automatizando, com menos gente empregada. O que mais tem hoje nas vastas e tecnológicas monoculturas brasileira é drone voando.
Estes trabalhadores irão acabar na informalidade e, consequentemente, no Bolsa Família ou no Renda Brasil, não importa o nome, pois o estrago já está feito.
É isso que queremos pro nosso país? Queremos mesmo trocar o emprego na indústria por um número ainda maior de beneficiários do Bolsa Família ou outro projeto assistencial?
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