Foto: Cristy Farias
Alfredo Lopes (*) [email protected]
A visita do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ao Centro de Biotecnologia da Amazônia, CBA, na semana passada, acompanhado do governador Wilson Lima e do superintendente da Suframa, Alfredo Menezes, dentro das iniciativas de criar a Secretaria da Amazônia em Manaus, me passou como a reprise de um filme em reprise já duram duas décadas, quando o vice-presidente da República de FHC, veio a Manaus para o lançamento da Pedra Fundamental do CBA. Casado com uma amazonense, o inteligente e sagaz Marco Maciel compreendeu facilmente aquela iniciativa. Seu chefe, FHC, por sua vez, que o apoiou indiretamente, tem uma parente bem próxima que também nasceu no Amazonas, sua mãe.
Disputa pelo comando e controle
Com empenho da indústria, que recolheu R$ 120 milhões na época para este fim – verbas das taxas da Suframa – a instituição, uma curica que virou anta, tinha tudo para empinar e, até aqui, não empinou. Um dos embaraços foi a disputa entre os ministérios em cima do comando e controle do Centro. “Deixa que eu cuido” virou uma cantiga de forró, aquela do tipo faz que vai mas não vai. E não foi. Ora, não precisa muita massa cinzenta para saber que nos 22 laboratórios que foram comprados com recursos da indústria – quase todos desgastados ou superados – habita a capacidade de lapidar o Eldorado que os viajantes tanto buscaram na Amazônia. Os países evoluídos, há muito tempo, descobriram que este almoxarifado de preciosidades se chama Biodiversidade.
Sondagem e parcerias
Entra governo e sai governo, entra ministro e sai ministro e as áreas correlatas com a biodiversidade não cessam de promover o conflito de posse da instituição. Não há evidências de que isso está se repetindo, muito menos de que essa tragédia não possa se repetir. A vaidade humana não tem fim nem limites. Num dos últimos lampejos de gestão consciente, vale lembrar, registram-se duas ações essenciais. Primeiro, foi feita uma pesquisa junto às empresas do Polo Industrial sobre expectativas e demandas com relação ao CBA. Segundo, foi sondar possibilidades de parcerias e encomendas de serviços das grandes empresas globais de cosméticos, fármacos e alimentos funcionais. De ambas consultas resultaram mais de 150 produtos e serviços, uma pauta robusta e uma agenda a ser consolidada. Sabe o que aconteceu em seguida? Nada!
Dragão da politicagem
O gestor, nascido na Pensilvânia, mas que vive aqui desde sua primeira viagem, e daqui não mais se afastou, faz 30 anos, foi o primeiro personagem da história da administração do CBA, escolhido pelo critério essencialmente técnico. Infelizmente foi engolido pelo dragão da politicagem. A mesma que expulsou a empresa suíça Novartis, com reputação centenária, que colocou seus investimentos e projetos em carteira para criar uma Biópolis em Cingapura. Ali, este país progressista contratou os 100 melhores cientistas do planeta e outros tantos gestores de mercado para produzir negócios. Entre eles, medicamentos para o Ministério da Saúde no Brasil.
Cada macaco no seu habitat
Eis, pois, algumas das razões da curica não empinar como deveria. O poder público não pode se meter a administrar negócios privados. A história do capitalismo está entulhada com esses exemplos. Nada contra fulano ou beltrano, ministério ou secretaria. É da natureza das respectivas funções. O CBA foi concebido para ser um polo de biotecnologia, a atividade prioritária dos países industrializados. Pesquisa, desenvolvimento e mercado. Essa trilha é clara e refratária às ingerências da política pequena, imediatista e ambígua, movimentada pelo critério eleitoreiro.
Diversificar, não substituir
Boa sorte às boas intenções do governo na criação do Conselho da Amazônia, da Secretaria de Meio Ambiente e do Centro de Negócios Sustentáveis de Manaus. E que de alguma forma – definido o modelo de negócio do CBA – saibamos, cooperativamente, somar esforços e expertises, para criar novas matrizes de geração de riqueza, com diversificação, adensamento e regionalização do desenvolvimento do Polo Industrial de Manaus, jamais para sua substituição. Inexiste atividade econômica na Amazônia capaz de, no curto prazo, gerar os milhões de empregos indiretos que este Polo tem sido capaz de propiciar.
*) Alfredo é filósofo, ensaísta, consultor do CIEAM e editor-geral do portal BrasilAmazoniaAgora https://brasilamazoniaagora.com.br
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