Quando queremos conotar o sentido da competitividade de que tanto reclamamos, convém promover uma busca vernacular. Vejamos o que diz o dicionário: “que tem características que permitem ter bons resultados face à concorrência”.
A problemática da indústria da Zona Franca é que o grande desafio a ser endereçado está além dos muros das empresas. São as condições de fatores para a produção, pois já temos aqui instaladas empresas de classe mundial e com isso surgem premissas que precisam ser tratadas para posicionar estas empresas em uma condição de igualdade inclusive com suas matrizes no exterior que muitas vezes competem pelo mesmo mercado.
Quando queremos conotar o sentido da competitividade de que tanto reclamamos, convém promover uma busca vernacular. Vejamos o que diz o dicionário: “que tem características que permitem ter bons resultados face à concorrência”. Desse ponto de vista, considerando a iminente abertura da economia, as empresas instaladas em Manaus, mesmo resguardadas pelas mais mirabolantes promessas políticas de prioridade, carecem de providências imediatas. Um celular feito em Taiwan chega ao Porto de Santos pela metade do preço de seu similar fabricado em Manaus. Por essa ótica, não haverá demanda para o produto Made in ZFM.
Numa economia fechada como a nossa as empresas não precisam preocupar-se em competir contra seus concorrentes, não há competição. Provavelmente por isso, muitas delas padecem de problemas estruturais que vão levá-las à extinção. O debate, hoje, não é mais manter para prorrogar incentivos. Isoladamente eles podem nos levar à insolvência na hora em que for aberta a porteira da economia. Com o debate exaustivo da Reforma da Previdência essa abertura pode dar a indústria local e nacional um refresco de tempo para preparar o suporte jurídico da mudança no caso do Amazonas.
Premissas
Como vivemos numa região remota, o processo produtivo supõe incentivo nas taxas de serviços de infraestrutura, sem isso, morreremos na praia das porteiras abertas para importação. Além dessa premissa, que mobiliza esforços e cobranças desatendidas há mais de meio século, ainda vivemos o divórcio clássico entre economia e academia que faz com que muitos graduados – com cabeça feita por literatura importada do Século XIX – vejam o setor produtivo como um “mal necessário” ou que os capitalistas só vem aqui para nos morder a pecúnia jugular. Muitos deles desconhecem que o setor produtivo é quem paga a conta.
Por isso, as vezes fica difícil esperar da Universidade no curto prazo as soluções científicas que permitam consolidar, para os investimentos locais, um pensamento inovador uma das pilastras vitais da competitividade da economia amazonense. A própria liberdade para a competição vai empurrar saídas criativas de livre mercado, dizem os liberais. Se o mercado tem diversas ofertas do mesmo produto, vai sair na frente quem for capaz de dar novas respostas para a mesmice do imobilismo e da acomodação produtiva. Isso inclui tecnologia e passa por publicidade criativa.
Outro desafio é a qualidade dos processos e produtos. Os mais antigos vão lembrar dos veículos fabricados pelas montadoras tradicionais desde a época JK até a abertura de Collor. Hoje, apesar de alguns atrasos, a qualidade de nossos veículos reúne conforto, design e segurança de Primeiro Mundo. Além do componente motivacional, que recomenda atenção e disposição para a mudança, um pilar determinante para a conquista de uma competição salutar e de resultados, o foco no consumidor é outro fator essencial.
Temos em Manaus um caso de sucesso, inaugurado pelo Benchimol &Irmãos ainda nos anos 90 com a Certificação no Sistema de Qualidade no Varejo, uma iniciativa pioneira das Lojas Bemol, com aceitação de marca constada unânime em termos de satisfação do consumidor. Um dos dirigentes da organização, Jaime Benchimol, que costuma pregar a reconciliação com o espírito do Capitalismo, destaca que esta é a maior premissa para o acerto de competitividade das empresas, a absoluta sintonia com as demandas e satisfação com o consumidor.
Fator jurídico
Em artigo publicado nos jornais de Brasília, antes da prorrogação dos incentivos da ZFM em 2014, o presidente do Cieam, Wilson Périco, pontuou um dos graves problemas estruturais e estruturantes da economia do Amazonas, o absoluto descaso com a Lei. Segundo ele, caminhar ao arrepio da lei significa adentrar ao mundo de desordens e do completo desacato aos Direitos do empreendedor. Ele assinalava, particularmente, o desvio de finalidades dos recursos pagos pelas empresas e destinados ao desenvolvimento regional, exatamente a razão pela qual a Constituição autoriza incentivos fiscais para regiões remotas. “Há 14 anos esses recursos são progressivamente confiscados pela União.
A ilegalidade reduziu drasticamente as ações de desenvolvimento e diversificação econômica na região, onde há três anos não são celebrados convênios de infraestrutura com os governos estaduais ou municipais”. Nessa ilegalidade estão incluídos os vetos de PPB, processo produtivo básico, que autoriza a implantação, diversificação e ampliação de produtos e empresas no Polo Industrial de Manaus, entre outros ilícitos. Nesta semana, foi informado pelo novo governo estadual a aplicação de parte das verbas do FTI, um fundo que se destina a fomentar a economia do interior, para cobrir os ilícitos com o setor da Saúde. Considerando que a extrema pobreza em que se encontra o interior do Estado é consequência da ausência de atividades econômicas, desviar os recursos de Interiorização do desenvolvimento para saúde significa remover as condições de enfrentamento do problema.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected] |
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