Nelson Azevedo(*) [email protected]
Matéria publicada no jornal Folha de São Paulo de quarta-feira, 20 de novembro, sob o título ‘Grupo propõe transformação da Zona Franca de Manaus em Polo de Bioeconomia’, a propósito do projeto do Instituto Escolha, o Plano Sustentável para o Amazonas causou um reboliço na mídia local. A respeito, temos as seguintes anotações. Os emissários da instituição por aqui estiveram, de modo apressado – de quem trabalha contra o relógio – conversando com técnicos do segundo escalão dos órgãos públicos para elaborar uma proposta ambígua que, no primeiro momento, parecia exatamente aquilo que noticiou o jornal paulista. É importante, como ponto de partida, deixar bem claro para todos os candidatos a parceiros que nossa economia é coisa séria e respeitada por países civilizados.
Elimina ou não elimina?
O curioso é que o teor da proposta, publicada no portal do Instituto, traz um conjunto de proposições que sugerem a diversificação econômica da ZFM e não a substituição/supressão do Polo Industrial, como parece ser o estranho intento do veículo que, vez por outra, se une a seus pares do Sudeste para atacar a economia de acertos que se expandiu no Amazonas nas últimas décadas. E não são inexpressivas nossas tentativas de esclarecer a dinâmica rotineira de nossos avanços e os gargalos de infraestrutura cujo enfrentamento o poder público insiste em protelar.
Banqueiros e conselheiros
Teoricamente, a intenção da instituição é republicano, até prova em contrário. Em seu sítio na Internet, cabe observar, estão alguns apoiadores do Instituto Escolhas, entre eles, a Fundação Tide Setúbal, dirigida pela família Setúbal, que financia projetos ambientais; a OAK Foundation, organização que apoia a preservação e conservação de biomas naturais e monumentos históricos na Grã-Bretanha, entre outros padrinhos. Entre seus consultores diretos está Bernardo Apy, autor da PEC 45 que, simplesmente, ignora/esvazia a ZFM. O Instituto foi recomendado ao Cieam pelo economista Marcos Lisboa, que é diretor do Insper, articulista da Folha que aqui esteve há três anos e nos sugeriu a precificação dos serviços ambientais prestados pelas empresas do Polo Industrial de Manaus. Deixamos esses dados ao leitor para que emita sua opinião.
Transparência de propósitos
O que é necessário e inadiável é saber o interesse, até aqui não explícito, da iniciativa que não mobilizou os atores locais da academia e da economia da ZFM, para credenciar o documento final. Afinal, quem põe na massa no cotidiano da ZFM é autoridade vital de qualquer debate ou eventual reencaminhamento deste Programa de desenvolvimento que é responsável por impulsionar 80% das atividades econômicas do Estado. Nossos gestores, empreendedores e pesquisadores estão atentos à necessidade premente de diversificação. Toda colaboração é benvinda desde que deixe claros seus propósitos e interesses.
Conhecimento, responsabilidade e parceria
Plano Dubai, Instituto Escolhas, Fintech, entre tantos que desde sempre apareceram como salvadores da pátria ambiental amazônica carecem de conhecimento e responsabilidade. E, principalmente, de mobilização de quem aqui vive, estuda e trabalha. A Bioeconomia é uma obviedade econômica desde quando perdemos o bonde do Ciclo da Borracha, três décadas de pujança que sustentaram 45% do PIB e das despesas do Brasil que não foi capaz de usar essa fortuna para conferir o beneficiamento industrial do látex precioso.
Benefícios suprimidos
Estamos sempre à disposição para o debate parceiro, proativo, construtivo. Precisamos de apoio que nos ajude, politicamente, a aplicar na região a riqueza que produzimos. E não é apenas para diversificar o Polo Industrial de Manaus, com a economia da dermocosmética, dos alimentos funcionais e dos fitoterápicos. Precisamos qualificar nossos jovens para os negócios da mineração, da silvicultura, fruticultura e piscicultura, turismo e serviços ambientais. São benefícios historicamente suprimidos. Isso é uma imposição constitucional para os 8,5 de contrapartida fiscal que nos ajuda a trabalhar na geração de milhares de empregos.
No mais, queremos seguir gerando diversificação econômica por todo o país e compartilhar nossa expertise de fortalecer o crescimento do Brasil com diversificação industrial e proteção ambiental – nossa marca preciosa de sustentabilidade – que a comunidade internacional já descobriu e nos aplaudiu. (*) Nelson Azevedo é economista, empresário e presidente em exercício da FIEAM, Federação das Indústrias do Estado do Amazonas
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