Há entre nós uma celebração antecipada que festeja o fim dos incentivos da Suframa e da própria sobrevivência da economia do Amazonas. É a mesma postura que ironiza a tragicidade das mudanças climáticas, ao defender a exploração predatória dos recursos naturais da Amazônia a qualquer custo. Todos esses estandartes de mau agouro seriam premissas da visão liberal que define o próprio ideário da governança econômica do Brasil, hoje. Na semana que passou, em Manaus, o superministro da Economia, Paulo Guedes, formado em Chicago, foi empossado como alto mandatário do Conselho de Administração da Suframa, o CAS, agora com nova roupagem, essencialmente chapa branca. E, ironicamente, esta região foi bafejada em acalorados discursos como, potencialmente, “marco econômico do nosso Brasil”, ou Referência Mundial de Bioeconomia e outros anúncios mirabolantes. Ora, o poder público não tem qualificação para gerar riquezas. Sua inclinação perdulária é gastar riqueza.
Há uma contradição entre os prenúncios sombrios para o atual modelo e os anúncios de mudança. A visão liberal, no ideário filosófico, não confere ao poder público nem direciona o mercado para x ou y alternativa de negócios. O que se depreende dessa prosopopéia é o desconhecimento de processos e fuga de responsabilidades, regada a um inaceitável desrespeito aos acertos deste programa de desenvolvimento chamado Zona Franca de Manaus.
Um exemplo clássico disso é a redução drástica de cientistas e o considerável incremento de outros segmentos. Uma maneira equivocada de substituir um erro por outro. O desafio de levar ao mercado, por exemplo, as coleções e os acervos de descobertas e oportunidades do INPA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, encurralou historicamente os cientistas. Eles não foram qualificados para empreender, assim como não se pode cobrar dos empreendedores e conhecer sistemas, protocolos e condições de temperatura e pressão dos experimentos. Um grupo não substitui o outro, é claro. Diz o adágio popular, cada macaco no seu galho, entretanto, eles devem permutar e partilhar seu malabarismo e outras habilidades para a construção de resultados em mutirão.
A promessa do ministro Paulo Guedes, de que “…podemos criar no Amazonas o centro mundial de biodiversidade e ao mesmo tempo criando riquezas com uma visão de um futuro diferente, pois não pode haver futuro se dependermos apenas de sub-exploração”. Dá a impressão que todos querem fazer seu mergulho vestibular na Amazônia, basta para isso fazer um intensivão num cursinho de resultados. Mas não é assim que funciona. O economista Jaime Benchimol, integrante de uma respeitável saga de empreendedores na região, estima em 10 anos a maturação de mudanças em paradigmas de produção na Amazônia. Com um detalhe, nesta programação não cabe o concurso do poder público cuja melhor função é não atrapalhar. Sobretudo, com essa modelagem de governança de resultados num estreito formato gerencial que deve caber em 4 anos.
Na versão liberal da Suframa, vejam só, uma autarquia especializada em gestão de incentivos, se mudar o foco para imersão em gestão de negócios, ou bionegócios, está, no mínimo, equivocada, pois suas atribuições, demandas e prioridades trafegam na paralela empreendedora. No máximo, compete-lhe incentivar diversificação, adensamento e regionalização das abundantes riquezas que a Natureza nos deu, um desafio que lhe foi proposto desde a primeira hora de sua constituição. Ou não?
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