Reportagem da Folha nessa terça-feira, 15 – ‘Amazônia poderia ser o ‘Vale do Silício’ da Biodiversidade’ – aponta alguns problemas na modelagem de desenvolvimento da Amazônia, sugere saídas, requisitos e descreve cenários, mas esquece de pontuar as fontes de recursos necessários para essa mudança de paradigmas.
Segundo a reportagem, com base na tomada de depoimentos dos pesquisadores envolvidos, Paulo Artaxo, Ricardo Abramovay, Paulo Moutinho, “… o modelo de exploração econômica da Amazônia praticado nas últimas décadas tem causado o aumento do desmatamento e não tem se revertido em melhoria na distribuição de riqueza ou em benefícios econômicos e sociais para as populações locais”. É, parcialmente, verdadeira essa ilação, pois uniformiza as modulações econômicas dentro de um modelo predatório. Para variar, quando se trata de acertos, a mídia faz de conta que o Polo Industrial de Manaus não existe.
Mesmo sem ter compromisso legal de vinculação entre sua contrapartida fiscal e a proteção ambiental que exerce, a economia do Amazonas, em vez de desmatar, preserva mais de 90% da cobertura vegetal. E preserva para viabilizar justamente a modelagem sugerida pelos cientistas, um desenvolvimento socioeconômico marcado pela sustentabilidade. E mais, oferece serviços ambientais preciosos para o Sudeste de onde vem a saída redentora.
Vale da Biodiversidade
Os cientistas dizem acertadamente que a Amazônia tem sido uma espécie de almoxarifado em que o Brasil busca matéria-prima e energia barata, sem que isso se reverta em benefícios para as pessoas que vivem na região. Para eles a alternativa seria transformar a Amazônia em um centro de pesquisa, um ‘Vale do Silício da biodiversidade’, de modo a possibilitar a exploração econômica sustentável dos recursos da floresta e a descoberta de moléculas e de insumos de interesse das indústrias farmacêutica e de cosméticos. Isto é exatamente o que temos repetido exaustivamente neste espaço – o Jaraqui Valley – registrando as sugestões dos pensadores locais. Também concordamos que seria preciso fazer investimentos maciços em infraestrutura, prover conexão à internet generalizada na região, permitir o acesso de pesquisadores para fazer estudos sobre biodiversidade e investir na formação de pessoas.
Quem paga a conta?
Como a matéria não reconhece a ZFM, o programa de desenvolvimento regional baseado numa economia que ajuda a carregar país nas costas – juntamente com mais 7 estados da Federação – o que não fica claro qual é a fonte de recursos necessários para desenvolver atividades novas como bioeconomia e turismo. Também não fica claro o fato, insistentemente registrado em seguidas matérias, incluindo artigos do presidente do Cieam, Wilson Périco, na página 3 do jornal, do confisco ou desvio de finalidade das verbas que a Indústria recolhe para a União e para os cofres estaduais. Parte dessas verbas, quase R$ 2 bilhões/ano, recolhidas pelas empresas incentivadas, dariam para instalar a infraestrutura, não apenas para atender as sugestões dos pesquisadores, mas também para assegurar a competitividade de nossa economia. Porque, embora houvesse demanda e recursos, a União preferiu investir a riqueza aqui gerada em destinos estranhos ao mandamento constitucional.
Quarta Revolução Industrial
Manaus vive nestes dias um evento – a II Feira do Polo igital, sob o tema ‘Manaus Inteligente’, organizado pelo Codese (Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico de Manaus), com apoio do Cieam e Fieam – e com um propósito nascido da inquietação nativa e das movimentações de alguns atores/instituições locais – com destaque para Ufam e UEA, a Universidade paga integralmente pela Indústria – onde se destaca o INDT, Instituto de Desenvolvimento Tecnológico, da Fundação Paulo Feitoza, constituídos por recursos e para atendimento da Indústria local e que aponta para uma diversificação industrial, cultural e socioeconômica extremamente coerente com o Polo Industrial de Manaus, a Indústria 4.0. Eis aqui o desafio.
Não se trata de propor saídas estanques, compartimentalizadas em áreas desconexas. O Vale do Jaraqui vai produzir drones para mapear a dinâmica do carbono para dar sequência ao desafio de fazer a floresta captar mais carbono e emitir mais oxigênio. A internet das coisas vai produzir, com impressora 3D diversos modelos Labs on Chip, a Biotecnologia das coisas vegetais, a produção de antibióticos por nanobiotecnologia, que ataquem direta e tão-somente a bactéria e não o organismo inteiro.
Voltaremos…
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