No apagar das luzes de 2018, a Portaria nº 2.091-SEI, de 17 de dezembro, determinou a metodologia a ser adotada para avaliação e reconhecimento dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação voltados para a indústria 4.0 na Zona Franca de Manaus e, momento continuo, criou o Selo da Indústria 4.0. A intervenção do poder público, sem conversa nem consulta, impôs um paradigma tecnológico criado e sacralizado pelo governo alemão, mais precisamente pela ACATECH: Academia Alemã de Ciência e Engenharia.
Entre os conceitos originais estavam a conexão de máquinas, sistemas e ativos, redes inteligentes ao longo de toda a cadeia de valor, controle dos módulos da produção, em suma, fábricas inteligentes com capacidade e autonomia para agendar manutenções, prever falhas nos processos e se adaptar aos requisitos e mudanças não planejadas na produção. Agora é assim com a comunicação instantânea, espionagem cibernética e a movimentação frenética das descobertas e mudanças tecnológicas, só uma coisa não muda: a constatação de que tudo está mudando. Por isso, é impensável adotar uma modelagem universal para definir aprovação local.
Um dos conceitos avaliados é Prontidão, aqui entendido como a capacidade das organizações de reagir, sem obstáculos e com agilidade, às surpresas impostas pelo ecossistema evolutivo e negocial da Indústria 4.0. Existe uma vasta literatura para dar suporte às mudanças no tecido organizacional. Em diversos estudos seminais podemos evidenciar como a redução da resistência à mudança organizacional criou soluções. Didaticamente eles podem ser distribuídos em três macrodimensões: psicológicos, estruturais e níveis de análise, nos quais os pesquisadores descrevem métodos, hipóteses e modelagens para a compreensão e gestão da mudança.
As mudanças se estribam na tecnologia da informação e engenharia da comunicação, não faz sentido, pois, absolutizar um formato tecnológico e parametrizar protocolos de estruturação e funcionamento de modo estático como descrito na Portaria. O mesmo se aplica aos Big Data Analytics, estruturas de dados muito extensas e complexas que utilizam novas abordagens para a captura, análise e gerenciamento de informações. Adicionalmente, há que se insistir no fator Segurança, para corrigir falhas de transmissão na comunicação máquina-máquina, ou harmonizar eventuais “engasgos” do sistema que podem causar transtornos na produção e na proteção de dados.
Qual o perfil tecnológico do Polo Industrial de Manaus e seu grau de maturidade e prontidão? Pode a Suframa, desfalcada de recursos humanos, gerenciar os novos tempos, como quer a tal da Portaria SEI nº 2091, obrigando as empresas a utilizar o modelo ACATECH para medir seu nível de maturidade e prontidão quanto à industrial 4.0? Isso significa que computadorização, conectividade, visibilidade, transparência, capacidade preditiva e adaptabilidade serão submetidas à metodologia germânica? O modelo outorgado na Portaria, a propósito, não contempla características importantes do PIM, a saber, nossa complexidade logística, diferencial tecnológico imposto pelas matrizes, nível decisório e, a mais importante, e a relação intrínseca de interoperação. Nosso parque fabril e nossa capability não “conversam” com o protocolo tedesco. A referida portaria criou um selo da indústria 4.0 com aspectos classificatórios de cada estágio, fatores de impulso e tabelas de percentuais de aplicações de recursos em PD&I. Tais aspectos classificatórios são pertinentes apenas quando discutidos em base metodológica coerente. Se, porém, por decreto, as indústrias do Polo Industrial de Manaus são obrigadas a deitar na cama de ferro, isso é algo muito medonho e, num contexto de gestão liberal, fica tudo muito estranho.
Comentários