Na virada deste século, a economia do Amazonas, proporcionalmente, superou a arrecadação do Ciclo da Borracha 100 anos depois. E o que fizemos com tanta fartura pecuniária? Um porto público condizente com as demandas do Polo Industrial de Manaus de onde retiramos 80% do pão nosso de cada dia? Não. Fizemos um sistema de comunicação de dados e voz compatíveis com uma economia que se quer pujante, ou implantamos um sistema de distribuição de energia compatível com a modernidade? Por acaso, construímos o Polo GásQuimico, com projeto pronto e oferta abundante do gás de Urucu por 30 anos? De concreto restou a venda sombria deste ativo para um empresário baiano.
Fizemos uma Arena Amazônia padrão Fifa e, anos depois, criamos um time que foi vice-campeão da série D, porque os times existentes minguaram com as cartolagens da contravenção. E a ponte da terra do nunca, que liga a especulação fundiária com os crimes de sua construção e o perdão da Compensa? Ah, Avenida Brasil, em que mundo e em que estrela tu te escondes com o baú da viúva pra tanta folia inaudita?
O inferno não são os outros e o vizinho que mora ao lado não é inimigo, é apenas um desbravador com preciosas lições. Não foram agraciados com tanta fartura mas tiveram bravura para conjugar o verbo empreender gerando riqueza inclusive para mitigar eventuais deslizes na equação economia e desenvolvimento.
Propostas nas gavetas
Ficamos sem argumentos convincentes para explicar por que não fizemos da Siderama, o EIZOF, um projeto enterrado, mais um, que poderia ensaiar um modelo alfandegado nos moldes que se fez no Panamá. Por que não transferimos para o outro lado do rio Negro a base aérea de Manaus, ou duplicamos pistas na área do atual aeroporto e assim transformar o aeroporto militar em um Hub que pudesse dinamizar Indústria, Comércio, Serviços e Agricultura na região? Os projetos foram desenhados com detalhes para este fim. E adormecem nos escaninhos ao lado do Estudo de Potencialidades da Amazônia Ocidental, feito por técnicos de alto nível da Fundação Getúlio Vargas/ISAE, Instituto de Administração e Economia, uma entidade criada pelo governador Gilberto Mestrinho nos anos 90 para formar massa crítica e produzir projetos.
Um polo ralo abaixo
As empresas do Polo Industrial patrocinaram a construção do CBA (Centro de Biotecnologia da Amazônia) para diversificar com o Polo de Biotecnologia o perfil de produtos mais coerentes com a oferta de insumos do banco de germoplasma. Sabe o que aconteceu? Nada. Desenhamos inutilmente a construção de parques tecnológicos que permitiriam transferir tecnologia para as empresas aqui instaladas ou aquelas que para cá viriam se a cultura da inovação evoluísse. Dinheiro para isso, apenas da Indústria de Informática, jorrou aos borbotões, mas em direção a algum lugar que não aqui. E quando aqui aparecem esses recursos não se viabilizam dentro de um planejamento estratégico que mostre as prioridades, as potencialidades e fragilidades dos negócios ou suas taxas de retorno no mercado. Cada um atira para um lado e não compartilha munição por conta de uma paranoia científica que interessa a ninguém.
Pirarucu
Há três anos, uma pesquisa de fôlego, levada a efeito pela Dra. Gleriani Ferreira, FEA USP, sobre a cadeia produtiva do pirarucu, um acervo de revelações preciosas, buscava sacudir o setor mas não ecoou na academia nem na economia porque a abundância maldita brecou. Na ocasião, a pesquisadora anotou que os recursos estão indo para institutos de pesquisa que concentram seus esforços em elos específicos da cadeia, como a reprodução e o crescimento. Entretanto, estes elos precisam estar conectado e desenvolver capacidade produtiva capaz de produzir e processar os pescados, gerar emprego e riqueza.
Há um descaso com um elo fundamental que são os frigoríficos, fábricas de gelo e de ração, além de graxaria e curtume. “Frigoríficos, aliás, são o gargalo universal. Prover recursos para equacionar este entrave, notadamente em inovação de alternativas energéticas para desatar este nó é essencial. Da mesma forma, também precisamos ampliar o hábito de consumo de pescados em todas as regiões do país”. Sua tese é um grito de alerta para gargalos prosaicos, factíveis de resolução à luz discreta da vontade política do poder de plantão. Apenas isso…
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