Em reunião com Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura de 2003 a 2007, na semana passada, tivemos a oportunidade de entender como se deu a empinada da economia brasileira em direção ao agronegócio. Fui acompanhado pelo empresário Sérgio Vergueiro, engenheiro agrônomo e contemporâneo do ex-ministro, quando estudaram na USP, Piracicaba, na Faculdade de Agronomia Luiz de Queiroz.
Rodrigues tem interesse em aproximar o agronegócio da bioeconomia, promovendo alianças com a Coalizão Brasil Clima Agricultura e Floresta, que reúne as empresas de agronegócios e Manejo Florestal, com quem o Cieam já disparou interesse em debater essa integração. São empresários com poder de investimentos e preocupados em reduzir as emissões de carbono. A parceria com a bioeconomia amazônica, investimentos forçados em desenvolvimento com baixa emissão, como fazemos há 51 anos, representa uma parceria ganha-ganha e, de quebra, justificaria a retenção regional das verbas de pesquisa.
O encontro se deu na Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, onde a direção da Faculdade de Direito já ofereceu espaço, através de seu gestor, Oscar Vilhena, para a ZFM fazer seu relato, contar seus projetos e debater parcerias de novos negócios.
Desinformação e indiferença
Às vésperas de iniciar a temporada eleitoral, a justiça está empenhada em controlar as mentiras de que somos vítimas por parte dos mais espertos em difamação gratuita. Pior do que falsear a informação é a indiferença da desinformação. Pensando em termos de Brasil, um país desarticulado, com diferenças regionais absurdas, a quem interessa olhar, para além das aparências distorcidas, este pedaço de Brasil, que representa 63% do país, a Amazônia?
Ora, quem conhece a Amazônia já está há séculos fazendo uso inteligente de sua riqueza com seus ativos bioquímicos e minerais. São os países centrais, que sabem conjugar pesquisa com mercado. 20% dos medicamentos de sua indústria farmacêutica sai do banco genético da Amazônia.
Quem ganha?
Nossos bioativos já estão sendo usados há mais de 200 anos no Museu Botânico de Kew Gardens e outros centros espalhados pelo mundo desenvolvido, como Holanda e Noruega. Temos ainda na floresta 20% da biodiversidade do planeta, mas o Brasil proíbe tocar na Amazônia.
Os cientistas Carlos Cleomir e Juan Revilla chegaram perto do enigma fatídico que atormentou o naturalista inglês que a Ciência escondeu: Alfred Wallace Russel: como perenizar a vida. Inspirados em Russel, eles corrigiram as distorções celulares que levam ao câncer e desenvolveram pesquisas antitumorais para assegurar a revitalização celular. Há décadas são isolados pelas farmacêuticas. Imaginem se as cápsulas de gengibre amargo e unha de gato substituem a máquina milionária que movimenta a terapia do câncer.
Mito da floresta em pé
“Temos que manter a floresta em pé”, repetem os ambientalistas messiânicos, sem levar em conta que a população está derrubada pela exclusão. A floresta precisa ser conhecida cientificamente e manejada com inteligência para ampliar os serviços ambientais e a promoção socioeconômica. Com o Manejo é possível remover árvores adultas, que passam a emitir carbono, e permitir que suas mudas fixem com intensidade.
Só o Amazonas tem 11 municípios entre os 50 piores IDHs do Brasil, enquanto Manaus, a capital, recolhe 50% da receita fiscal da Região Norte e tem mais de 54% da riqueza aqui produzida e transferida aos cofres federais. Por isso, o Inpa, nosso orgulho e promessa de um novo paradigma de pesquisa e desenvolvimento, está à míngua. Sem eira, com cientistas se aposentando, e sem beira. Enquanto isso, a União confisca os recursos de pesquisas para outros fins de sua máquina pesada.
Verbas confiscadas
Somente as indústrias de informática – sediadas em Manaus por ditame constitucional e no Sudeste por oportunismo político – recolhem em média R$ 500 milhões/ano para P&D&I, verba que daria para fazer revoluções em Biotecnologia e Tecnologia da Informação e Comunicação. Mais de 80% dessa riqueza vai (?) para um Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico. Parcerias com o agronegócio e atração de novos investimentos, são uma oportunidade de ouro para mobilizar a presença federal e o setor produtivo local, que gera os milhões confiscados. Juntemos Embrapa, Ibama, CMA, Polícia Federal, MPF, Ufam, Suframa, MAPA, Receita… sob a batuta da gestão estadual para alinhar pesquisa, desenvolvimento, proteção florestal, integrando, partilhando, propondo argumentos de retenção da riqueza para a construção de um novo momento, sem ilusões, nem pretensões separatistas. Integrar é a palavra de ordem, com espírito público e a favor da região e de nossa gente, urgentemente.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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