Enquanto o Brasil faz um esforço hercúleo para reflorestar 12 milhões de hectares – compromisso assumido na assinatura do Acordo do Clima – o Amazonas começa a divulgar negócios e oportunidades de sua floresta através do Manejo Florestal Sustentável. Estamos na contramão do acordo ou essa atividade tem algo a colaborar na mitigação das mudanças climáticas?
À primeira vista, falar em mexer na floresta pode escandalizar os ambientalistas. Pois bem. Embora muitos deles nem saibam o que estão falando quando defendem a intocabilidade do bioma amazônico, manejar a floresta é uma das atividades que integram o compromisso de redução do aquecimento global. Esse manejo, para o qual já existem metodologias e protocolos reconhecidos pelo Ministério do Meio Ambiente, em lugar de comprometer contribui com o aumento da fixação de carbono e maior emissão de oxigênio de que precisamos para ter melhor qualidade de vida e de clima. As áreas manejadas, dentro do figurino oficialmente aceito, geram atividade econômica, portanto, emprego e renda e receita pública, além de fortalecer a floresta com o reflorestamento de espécies mais adequadas, do ponto de vista comercial e, sobretudo, socioambiental.
A demanda do mercado mundial por madeira é de 450 milhões de m³ e o Amazonas fornece menos de 1 milhão. “Temos condições de ter 2,2 bilhões a 3,7 bilhões de m³ de estoque de madeira e produzimos apenas 367 mil por ano”. Este é o alerta de Niro Higuchi, PhD em florestas e prêmio Nobel da Paz por seus trabalhos a favor do Planeta, numa premiação coletiva de 2009, promovida pela Fundação Nobel.
Supressão de benefícios
É claro que esta nova modulação supõe um novo olhar para os recursos naturais, um olhar que priorize a condição humana a serviço da qual está a natureza, não o contrário. Hoje, a legislação, especialmente no Amazonas, abandona o fator antropológico para focar na primazia ambiental, como se o homem aí não tivesse a menor importância. E o que é mais paradoxal: a legislação exige manter a floresta intocada e nega ao fator humano a chance de assegurar sua sobrevivência através do trabalho. Intocabilidade é supressão de benefícios.
Os negócios são tão escancaradamente promissores que o pesquisador Higuchi tem divulgado frequentemente os dados da dinâmica do mercado internacional da madeira tropical: no ano de 1988 a demanda mundial era de 60 milhões de m³ em toras e a Malásia fornecia 30.776 milhões de m³, a Indonésia 20.956 milhões de m³, e o Brasil 1.960 milhões de m³ de 2014, 26 anos depois deste monitoramento, a demanda do mercado baixou para 45 milhões de m³ de madeira, a Malásia forneceu apenas 14.171 milhões, a Indonésia 9.409 milhões e o Brasil 886 de m³ em toras. Ou seja, a demanda mundial se amplia e a oferta sinaliza o esgotamento dos tradicionais fornecedores de madeira tropical. São incipientes, mas nos municípios de Rio Preto da Eva e Itacoatiara já existem alguns projetos em andamento, apesar das pressões e boicotes dos órgãos ambientais.
Interiorização
É sabido que a exploração madeireira em outros estados da região não segue os cânones do MFS. E é nessas áreas de exploração predatória que o Brasil teria que recuperar as áreas atingidas, não apenas pela pecuária mas também pelos madeireiros da modalidade predatória. Manejar segue em direção oposta ao modelo predatório. E o Amazonas, respeitados os parâmetros da sustentabilidade, teria nessa atividade a redenção econômica do interior. Afinal, seguindo apenas o que diz o Código Florestal, poderíamos manejar, sem ferir a Lei nem estremecer os xiitas do ambiente, 15% do acervo florestal, algo em torno de 22 milhões de hectares.
Aqui, as preferências de toras extraídas da Amazônia são pelas espécies ipê, jatobá, maçaranduba, muiracatiara e angelim. Segundo o pesquisador Niro Higuchi, há abundância dessas espécies na floresta amazônica, porém, o incentivo para o MFS Manejo Florestal Sustentável e a legislação em vigor são os embaraços que inibem os investidores. Regularizar e incentivar essa atividade significa Interiorização do desenvolvimento e adensamento do fator industrial pois o beneficiamento dessas espécies implicaria na multiplicação de polos madeireiros, com inovação e tecnologia como fazem os países centrais.
Guerra pelo meio ambiente
Uma disputa sanguinolenta se trava na definição dos ministérios da área ambiental. O MMA, tradicionalmente considerado café pequeno, virou disputa entre os núcleos político e militar do governo Bolsonaro. A seu modo, todos têm a intenção de dar um novo perfil ao Ministério e isso têm dificultado a escolha do nome do ministro que irá comandar a pasta. Na disputa, há um critério de definição que é a sinergia com o setor ruralista que se queixa historicamente das pesadas multas impostas pela autoridade ambiental. Por sua vez, os tais ambientalistas acusam o Agronegócio a culpa de responder por 50% das emissões de carbono.
As queixas, porém, não param por aí. A estrutura proibicionista é tanta que o Brasil, embora seja dono da maior floresta tropical tem receita mínima quando se trata do beneficiamento desse patrimônio imensurável.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected] |
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