Em sua célebre aula inaugural de instalação da Cadeira de Semiologia no Colégio de Franca, o filósofo francês, Roland Barthes, recorreu à relação entre literatura e poder, para ilustrar o mecanismo de imposição dos valores, verdades e paradigmas de conduta adequadas ao status quo. A Aula, como é conhecida a publicação, diz que “…a linguagem não é nem reacionária, nem progressista; ela é simplesmente fascista; pois fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer.”
Ora, a que poder se referem, ou que objetivos norteiam as constantes agressões de alguns segmentos da mídia à economia da Amazônia Ocidental, sob influência da Suframa, Superintendência da Zona Franca de Manaus. Que papel essa mídia pós-digital, instantânea e invasiva, outrora chamada de quarto poder, a ex-famigerada grande imprensa, continua a cumprir? Sua estratégia de poder, enquanto manifestação maior da dominação real, ainda se estriba no trunfo milenar de ser anúncio e denúncia de uma conceituação da realidade que lhe convém.
Desconfigurada e obrigada a criar saídas para a própria sobrevivência – posto que seus trunfos foram compartilhado por inúmeros sujeitos, alguns mais ágeis na dominação digital do saber, resta-lhe, segundo Barthes, a opção de engendrar o erro, disseminar a culpa no destinatário definido e se constituir em saída messiânica para os embaraços artificiais.
Nos ataques constantes à economia regional, o argumento fundamental é responsabilizar os 8% de isenção atribuídos aos estados da Amazônia Ocidental, como causa do rombo fiscal do País. Contem outra, pois essa distorção está baseada em desinformação propositada e destrutiva, com foco na Zona Franca de Manaus. Ali, renúncia fiscal não passa de ‘fake news’. Trata- tão somente do exercício público do direito constitucional da contrapartida fiscal para investimentos em áreas remotas com infraestrutura deficitária.
As empresas escapam de algumas cangalhas tributárias, mas remuneram melhor seus trabalhadores, recolhem mais vantagens fiscais para a União que as demais plantas industriais do Brasil, além de protegerem um patrimônio natural essencial ao equilíbrio climático. Entretanto, não cabe ficar repetindo a cantilena. A Receita Federal e instituições com o gabarito da FEA-USP já emprestaram sua reputação para confirmar essa afirmação.
Está na hora de dar um passo adiante, além de ironizar os fundamentos dessa perseguição sem sentido.
Um passo simbólico e importante será a realização do I Congresso de Gestão da Amazônia, que ocorrerá neste primeiro semestre, com a chancela da CAPES/FINEP, como parte das atividades do Doutoramento em Administração entre USP e UEA, a Universidade do Estado do Amazonas, paga integralmente pela indústria de Manaus, e empenhadas no enfrentamento do nosso maior gargalo: a ausência de gestores do enigma amazônico. “Decifra-me ou serei devorada”.
Inovação, Sustentabilidade e Governança será o tema do evento e o tripé de sustentação dessa saída, tanto da parceria entre as duas instituições acadêmicas, UEA e USP, como um palpite para o Brasil sair do buraco do burocratismo sombrio e amoral das gestões históricas que nos empurraram ao caos.
A contrapartida fiscal supera os 2 milhões de empregos gerados pelo país afora, a substituição de importações, vital para equilíbrio da balança fiscal, a proteção florestal e os serviços ambientais. As empresas instaladas em Manaus passam a exigir que os fundos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, e aqueles destinados a interiorizar o desenvolvimento ano, sejam aplicados na região e nas oportunidades de novos negócios, com governança pública inteligente, inovação tecnológica e com parâmetros claros de sustentabilidade. Economia passo a passo com a ecologia, como tem de ser.
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