O presidente do CIEAM, Wilson Périco, recebeu a Follow Up para sua exortação de fim de ano. Ele tem pregado otimismo mas alerta contra a postura da ingenuidade, pois a crise não passou, o desemprego é grande e a casa está desarrumada. Confira!
Follow Up – No apagar das luzes de 2018, depois de uma crise que, aparentemente, passou, constatamos a sobrevida de seus tentáculos destruidores no cotidiano das empresas. Na sua opinião, quais as lições aprendidas pelo setor privado e quais as expectativas com relação ao novo governo que se inicia?
Wilson Périco – Primeiro é deixar bem claro que a crise não passou, ela deu apenas uma trégua, o país cresce pouco, a perspectiva de crescimento é 1/5%, muito aquém da previsão oficial. As indústrias trabalham muito aquém dar a capacidade instalada, mas existe um otimismo porque se veem em determinados algumas reações, alguns exemplos comparativos que são positivos com relação aos anos anteriores. Por exemplo, o segmento de duas rodas, deve fabricar aqui em Manaus em torno de 900.00 mil motos este ano, isso já é 16% acima do que foi ano passado, mas é menos da metade do que nós produzimos em 2011. Então, nós temos muitos desafios ainda no país, o nível de desemprego é alto, as soluções de alternativas já são discutidas, e agora é aguardar. E o que tivemos de positivo este ano foi a renovação do otimismo por conta da nova configuração do poder, mesmo porque a gente não conhece a forma como esse novo vai tratar com a coisa pública, esse novo pode ser bom – que é a expectativa da maioria – pode não ser, e certamente se não for vai ter que mudar. Entretanto, o otimismo foi resgatado como resultado das eleições deste ano.
FUp – Uma das características mais marcantes da visão liberal é a redução do tamanho do Estado. Atualmente, a União carrega mais de 54% da riqueza produzida pelas empresas do Polo Industrial de Manaus, das mais variadas formas. Você acredita que é possível reduzir o tamanho do Estado com uma tradição tão robusta de burocratismo, formalismo, vendas de dificuldades para auferir facilidades promovida por servidores inescrupulosos. Qual sua expectativa em relação a isso?
W.P. – Quando a gente fala em reduzir o peso do Estado, pensando na vida do cidadão, na atividade produtora, é esse liberalismo que se busca. Nós temos algumas características que dificultam a implementação imediata dessa filosofia. Primeiro é a desigualdade regional, desigualdade social, que é enorme no país, são pessoas que dependem praticamente 100% do que o estado oferece para sobrevida desses cidadãos, estados que dependem totalmente do repasse da União porque não tem atividades econômicas, não tem condições hoje de serem superavitário como é o caso do Amazonas, que está entre os 8 unidades da Federação que carrega o país nas costas. Então, nossa expectativa passa por uma série de reformulações nas atividades industriais, passa pela necessidade de ter uma política industrial do Brasil, onde o Amazonas esteja inserido e o modelo Zona Franca seja respeitada, e dentro das potencialidades do Amazonas que vão alem da capital, explorando as riquezas que nos temos, e passa por uma prospecção de potencialidades dos demais estados para que eles possam se tornar superavitário. Então é um primeiro passo, mas isso é uma coisa de médio e longo prazo, não acredito que a gente consiga ver ou implantar uma nova filosofia com toda liberdade de mercado, sem a interferência do estado brasileiro, antes dos próximos dez, vinte anos pelo menos.
FUp – Finalmente, considerando sua liderança combativa na defesa da economia e desenvolvimento do Amazonas e de nossa região, o quê o Presidente do CIEAM, uma entidade que reúne as grandes empresas do Polo Industrial de Manaus, tem para recomendar aos seus associados e mais uma vez insistir no papel da entidade a serviço das empresas que nele confiam?
W.P – O que todos queremos é melhor gestão dos recursos arrecadados pelos gestoras públicos Federal , Estadual e Municipal, gestores qualificados e comprometidos com o interesse coletivo, conscientes de que o poder vem do povo e em seu nome deve ser exercido. E isso se reveste de extrema importância para superar essas peculiaridades que você citou, lembrando que a burocracia é muito grande, o controle do erário é diminuto, favorece o desvio de recursos. Veja o orçamento público que não consegue aplicar nem 40% daquilo que está destinado para aquela determinada rubrica. Os recursos não chegam na ponta, por conta de todos os percalços, todos os desvios e burocracia. Eu acredito na mudança e que tudo isso precisa passar por uma reformulação verdadeira, tanto da composição do funcionalismo público, como de uma transparência maior, com os recursos da automação em favor da agilidade, naquilo que demanda da aprovação.
E tem coisas que nem precisa, tem coisas que já estão encaminhadas como o reconhecimento de firma que é uma burocracia sem sentido, o excesso de certidões que são demandadas por diferentes órgãos para se abrir uma empresa, certidões que tem prazo curto de validade, e por conta da morosidade esse documento perde a validade, a empresa tem que gastar novamente; tem o caso de processos licitatórios que são muitos questionáveis, não abraçam a realidade de mercado, mas sim se baseiam na realidade que foi praticada no passado. Então os preços que são lançados, já vem com os vícios anteriores. Isso precisa passar por uma mudança de cultura, uma reformulação do corpo, que compõem o funcionalismo público. E isso não acontece do dia para noite. Mas temos que iniciar de imediato, para que possamos, daqui uma geração pelo menos ou duas, ter um país mais ágil, com menos desvio e menos interferência desse estado, na vida do cidadão, na vida da classe produtora, onde os recursos que forem arrecadados sejam totalmente utilizados em favor da sociedade que paga para isso. Quero desejar aos associados, ao Amazonas e ao Brasil, um Natal fraterno e um Ano Novo pleno de conquistas, um novo tempo, mais transparente nos gastos públicos e mais focado na mudança em direção à prosperidade geral.
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