Padece de coerência o surto de indignação ou o anúncio de intervenção messiânica dos ex-governadores sobre a crise econômica da UEA. É como se o eleitor perdesse a memória, ou o problema fosse conjuntural e se os gestores acabassem de desembarcar no arraial da promissão. É, pois, chegada a hora de tratar com mais rigor a coisa pública. A Universidade do Estado do Amazonas surgiu de um movimento para transformar doações eleitorais em legado institucional. Isso ninguém comenta. Não há heroísmo nem pajelança em sua instalação, apenas a clareza de que as contribuições adicionais das empresas precisavam beneficiar a população com legados relevantes e permanentes.
Por isso foi proposta ao governo do Amazonas a criação de uma universidade estadual. E a grande expectativa da vinculação entre economia e uma academia estadual, por parte do setor produtivo, sempre foi a qualificação de recursos humanos, a identificação e promoção de talentos, uma das lacunas da competitividade e um dos gargalos de crescimento seguro e perene para a prosperidade dos investimentos e benefícios objetivos da sociedade. E não apenas dos recursos humanos da área tecnológica, a informática, cibernética, biótica e nanotecnologia, da gestão e dinamização dos empreendimentos, dos especialistas em regulação e controle, mas da formação de bons professores, que possam restaurar e atualizar o conhecimento da Aritmética, da Gramática, a partir e principalmente do Ensino Fundamental, a base de toda a preparação posterior.
Professores que sejam capazes de educar, tanto para a comunicação digital, como para a comunhão social, a reafirmação de valores e atitudes como a transparência no trato, e de propósitos, o respeito ao outro, seus direitos e escolhas, e ao patrimônio, o físico e moral, público e particular, que dá suporte ao tecido social. Professores que estimulem o empreendedorismo e um espírito coletivo da comunhão social e distribuição equânime de oportunidades e das condições efetivas de realização pessoal e profissional. É evidente que essa é uma tarefa de todos, premissa que vai garantir o desempenho eficiente e efetivo da academia na perspectiva de uma nova economia.
Mas o que de fato se deu? Ainda resta nos escaninhos do descaso da governança estadual a formação de um Conselho Curador onde houvesse assento para as entidades que representam os mantenedores da UEA. Ou seja: quem paga a conta tem direito de participar. Mas não participa. Por que o poder público estadual – entra e sai governador – não permite que os mantenedores dos fundos constitucionais ajudem a gerir a dinheirama anual – R$1,3 bilhão para interiorizar o desenvolvimento, fomentar o turismo, as micro e pequenas empresas e, principalmente, possam palpitar sobre conteúdos e cursos técnicos da Universidade que mantém – alinhados com a economia local?
Frequentassem os cursos de gestão, os tais gestores seriam candidatos frequentes à recuperação. Excluir colaboração efetiva, por receio ou obscurantismo, é sintoma de descompromisso com a eficácia de governança participativa ou relevância de resultados. Falta à UEA e, de resto, à gestão estadual como um todo, abrir as portas para a participação do interesse público. A atual reitoria da Universidade – seja reconhecida sua determinação – bem que tentou mas afastou os interessados, as entidades do setor produtivo, pelo descaso de quem deveria definir os padrões de transparência e gestão compartilhada.
Formação de gestores em nível de pós-graduação, atração de parcerias para os indicadores econômicos e de desempenho, além de projetos d e desenvolvimento regional, com inovação e diversificação da malha industrial, interiorização de benefícios e multiplicação de oportunidades. Estas são algumas das contribuições das entidades, ora em movimento – sem miolo de pote, figuração ou bravata – que impediriam pra valer o fechamento maior de portas e oportunidades da Universidade e do Estado do Amazonas. Ou não é esta a questão?
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