Entre os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) sugeridos pela ONU e aprovados em Paris, em dezembro de 2015, para dar suporte ao cumprimento do Acordo Global, em favor do clima – todos direta ou indiretamente relacionados ao bioma florestal amazônico – dois merecem uma reflexão pedagógica sobre o conceito de sustentabilidade. Os de número 9 e 15: “Construir uma infraestrutura resiliente, promover a industrialização inclusiva e sustentável e promover a inovação”. E “… proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação do solo e a perda da biodiversidade”.
Este conceito surgiu na travessia conflituosa entre desenvolvimento e meio ambiente, tema da Conferência do Rio de Janeiro, a Rio-92, quando a manipulação da mídia global pôs na berlinda do aquecimento global as supostas queimadas da Amazônia. Estava decretada, na ótica de um empreendedor e pensador que o Brasil começa a conhecer, Samuel Benchimol, a Guerra na Floresta, tema de um de seus livros para enfrentar o entrevero ambiental com os verdadeiros promotores das emissões dos gases do efeito estufa-GEE. Com mais de 115 títulos sobre a Amazônia, e com o DNA desbravador da saga dos judeus na floresta, Samuel Benchimol, com inteligência profética detalhou há quase três décadas, um conceito e as premissas de qualquer empreendimento envolvendo a floresta: há que ser ambientalmente adequado, politicamente equilibrado, socialmente justo e economicamente viável. Qualquer descuido numa dessas pilastras, o empreendimento desanda em seus propósitos e resultados.
Para além da teoria, que ainda precisa aprofundar as implicações de cada pilar, a gestão de bons negócios da Amazônia já conta com experiências que aprovam este paradigma. Uma referência de desenvolvimento que a Ciência recomenda e da qual o clima depende.
Na lógica do capitalismo florestal, obviamente, a substituição da pecuária tradicional – como fizeram os empreendedores paranaenses que chegaram na Amazônia rondonienses nos anos 70 para produzir proteína bovina – pela produção sustentável de tambaqui, pirarucu ou matrinchã, deu excelentes resultados. São peixes deliciosos – sonho de consumo gastronômico para quem se dispõe e experimentar e degustar a Amazônia. E com uso de tecnologia avançada, que respeita a formulação inteligente de indicadores de sustentabilidade. Em poucos anos, passaram de 500 quilos/hectare de terra, na pecuária, para 22 toneladas/hectare de lâmina d’agua, na piscicultura. Rondônia, pelos dados da Receita Federal, concentra o maior número de milionários em proporção a seus habitantes.
Com a regeneração natural da floresta, viram em torno das lâminas d’agua as árvores removidas para implantação do pasto retomar seu papel de saneamento ambiental. O conceito de sustentabilidade foi transformado em metodologia de monitoramento por parte do poder público, que aufere confiabilidade e fomento no delicado processo de gerenciamento e aproveitamento das potencialidades regionais. Nesse contexto, sustentabilidade é também interatividade de todos os atores sociais. O empreendimento se consolida na medida em que todas as fases dos trabalhos são acompanhadas com transparência, desde a concepção até a gestão dos indicadores e sobretudo na fase de monitoramento da rotina produtiva, com vistas a assegurar e otimizar interesses individuais e coletivos, dando legitimidade e segurança que a atividade requer. Na explicação dos bons resultados, o conceito de sustentabilidade se relaciona a acertos na medida em que leva em conta as expectativas e o conhecimento tradicional das populações locais, sugerindo a importância da educação para a inovação como enfrentamento dos baixos índices de escolaridade regional, a precariedade das comunicações e de transporte desafio da serem enfrentados para consolidar empreendimentos, gerar emprego e receita pública. Eis um caminho…
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