Reproduzimos na edição desta sexta-feira, 12, importante depoimento de Maurício Loureiro, presidente do Conselho Superior do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), fazendo uma reflexão sobre a crise e focando no velho e bom caminho das parcerias como a melhor maneira de retomar o crescimento. Na entrevista à Revista PIM Amazônia, ele define o modelo ZFM como um sucesso capaz de propiciar uma revolução cultural e socioambiental no Amazonas, nesses 50 anos de existência. No momento que o mundo caminha para a indústria 4.0, o que aponta para uma nova ordem industrial como modelo de negócio, Loureiro disse que é preciso repensar rapidamente em novas matrizes de negócios para agregar ao modelo ZFM. Confira na íntegra.
Revista PIM Amazônia – Qual o entendimento que o senhor tem hoje sobre o modelo ZFM, com cinco décadas de existência?
Maurício Loureiro – O projeto ZFM é bom, pois traz como mérito de recebimento dos incentivos a competência competitiva. Ou seja, o empresário investe, forma seu negócio, trabalha e se for competente na sua cadeia de negócio passa a ter direito aos benefícios dos incentivos fiscais aprovados em seus projetos, e que estão contidos na legislação que rege o modelo ZFM, seja no Amazonas ou mesmo na área da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Resumiria que é um modelo profissional, de sucesso e que poderia ser mais ousado do que foi até hoje.
Aponte avanços propiciados pela ZFM em sua área de atuação?
Na verdade, este projeto realizou uma revolução cultural e socioambiental. Provocou mudanças de modelo menta não apenas na sociedade, como também, nos gestores do modelo ao longo destes 50 anos. Muito embora, pudéssemos ter avançado mais, realizado mais. Perdemos a oportunidade de potencializar a ZFM para as demais regiões do Amazonas – projeto de interiorização. Realizamos – empresários – uma grandiosa obra educacional com a criação da Universidade do Estado do Amazonas (UEA),que é mantida até hoje pelas empresas. Reputo como uma grandiosa obra, pois é através da educação que podemos transformar a sociedade.
O que pode ser feito para implementar ainda mais a indústria incentivada pelo modelo, formado por mais de 500 empresas?
Reformular a visão dos que administram este conjunto de incentivos fiscais a partir de uma visão mais estratégica, menos burocrática, mais dinâmica, oportunizando maior atração de investimentos. Não podemos pensar que um Paraguai ou mesmo um Uruguai, que fazem parte do Mercosul, tenha capacidade de oferecer vantagens competitivas melhores do que a ZFM. Por muitos anos não acreditamos nestes dois parceiros do Mercosul, hoje o Paraguai começa a ser visto como uma “Mini China” industrial e o Uruguai como uma Hong Kong do comércio no cone sul da América. Precisamos estar atentos a esses movimentos, pois estes podem desequilibrar a já combalida economia nacional.
Após um ano recheado de dificuldades para a indústria brasileira e consequentemente a da ZFM, onde estão fabricantes de produtos que abastecem o País, o que os empresários podem esperar em 2017?
Penso que as oportunidades estão nas dificuldades. Não podemos ficar chorando, que o ano “foi assim” e que o próximo poderá ser “assado”! Quem esperar que o ano por si só faça alguma coisa, não estará aqui para contar sua história. Precisamos modernizar nossos processos fabris, fazer mais com menos, precisamos entender que o mundo está mudando e que muito provavelmente teremos uma nova ordem comercial ou de negócios no mundo. Veja por exemplo, que o mundo caminha para o que hoje estão chamando de Indústria 4.0. Ou seja, teremos uma nova ordem industrial como modelo de negócio. As impressoras 3D são uma realidade no mundo. Tudo isso, nos obriga a repensar rapidamente nossas matrizes de negócios (como fazer), nossa ordem educacional (ensino fundamental, médio e superior) e nossos comportamentos como consumidores do futuro.
Especialistas da área econômica dizem que a retomada do crescimento do País depende da volta da confiança. Já está acontecendo neste início de ano e de que forma?
Não se faz crescimento econômico apenas com base em confiança. Penso que há pelo menos três pilares fundamentais: Instituições Saudáveis / Segurança Jurídica / Infraestrutura. Sem estes três pilares, pode até haver “confiança”, mas poderá não haver investimentos necessários ao crescimento do País ou das regiões.
A logística continua sendo uma das dificuldades enfrentadas pelos fabricantes de produtos finais do PIM, em sua opinião o que pode ser feito para minimizar essa problemática?
Muito pode ser feito. Depende não apenas do Estado, mas dos empresários também. Continuamos “míopes”. Ou seja, preferimos não realizar boas parcerias internas e continuar perdendo dinheiro. Ou melhor, perdendo competitividade até para produtos que são originários da Ásia, como exemplo. Há alguns anos, o Cieam elaborou um projeto nesta área, que continha premissas inteligentes e que traria benefícios aos que aderissem ao mesmo. As premissas eram simples, bastava aplicarmos à cadeia logística uma racionalidade, o trabalho em conjunto. O empresário brasileiro tem-se como competitivo, mas esquece que concorre não apenas com produtores internos, mas também, com concorrentes externos, cuja capacidade competitiva pode anular benefícios. Pois bem, a ideia daquela época seria utilizar conjuntamente a partir de Manaus modais que pudessem ser comuns a determinadas empresas, pois a utilização em conjunto proporcionaria aumento de volumes com redução de custos no outbound, o que faria aumentar a competitividade das indústrias. Claro que, o estudo não tinha cunho obrigatório, pois o Cieam não tinha e não tem o papel de impor decisões. Penso, porém, que houve um desperdício de oportunidades de se provar que a logística tem solução. Entretanto, mais uma vez é preciso mudar o modelo mental para que se possa avançar em determinadas inovações. Precisamos pensar que aqui na ZFM não somos competidores, devemos atuar para fortalecer nossa competitividade, através da cadeia de produção e distribuição. No mercado, independentemente de onde produzimos, é que a competência se define efetivamente. Logo, manter parceria interna não altera a estratégia de ações no mercado, pois é, lá, que é definido quem ganha, quem perde e quem sobrevive!
É recorrente a reclamação do setor fabril do PIM com relação aos Processos Produtos Básicos (PPBs). Porque essas decisões são tão complicadas?
Se existe burocracia mais perversa no Brasil e em políticas públicas este se chama PPB. Falamos acima do Paraguai e Uruguai e não esqueçamos da Argentina e do Chile, como sócios do Mercosul. O PPB hoje pode ser definido como um processo de retardo de investimentos e geração de empregos (apenas para lembrar: temos 14 milhões de desempregados no Brasil). Podemos dizer que o PPB é a forma direta de beneficiar os nossos vizinhos acima citados. Precisamos pensar “fora da caixa”, nos tornarmos mais céleres quanto a este objeto que chamamos de política pública – PPB. Precisamos pensar que na ZFM – Produzimos Produtos para Brasileiros, ou seja, este é o nosso verdadeiro PPB.
Os incentivos da ZFM estão prorrogados até 2073, o que dá segurança ao investidor, no entanto, porque não se consegue resolver questões básicas, como dar uma personalidade jurídica ao Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA)?
A ZFM não deveria ser apenas industrial. Temos um fantástico potencial natural, temos inteligência humana (pesquisadores), temos recursos financeiros. O que nos falta? Nada, absolutamente nada, apenas a vontade política de realizar, de provar que podemos, que somos capazes. Não adiantará de nada mais 56 anos de ZFM se não tivermos um plano estratégico de desenvolvimento. Por que não fazê-lo já? Por que não utilizamos a UEA para este propósito? O que precisamos para avançar neste e noutros propósitos que são importantes para a Amazônia Ocidental e para o Amazonas? Já há iniciativas na ZFM que abrem perspectivas para que se possa fortalecer a pesquisa e a instalação de bioindústrias de forte projeção mundial. Cada vez mais o mundo buscará soluções de medicamentos e tratamentos em bases naturais. Se não nos preparamos para este futuro perderemos mais uma oportunidade de ter realizado um grandioso feito. Está em nossas mãos realizar!
As exportações são apontadas como saída para os fabricantes de produtos finais do PIM incrementarem seus negócios. O governo está fazendo o dever de casa’ neste sentido?
Penso que é atribuição do governo fomentar todos os canais de negócios de importância para o Brasil. Precisamos nos fazer presentes no mercado mundial, pois em 2016, abocanhamos 1% deste mercado, o que para um gigante como o Brasil, é pouquíssimo. Penso que, para que isso passe a ser uma realidade maior é preciso mais que incentivar, é preciso desburocratizar os processos de exportação, pois ainda são complexos. Este me parece ser um desfio de superação para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
Em julho de 2016, os representantes da Abraciclo recorreram ao Mdic no sentido de aumentar as exportações de motocicletas. Na ocasião, o ministro determinou que a entidade fosse incluída no Grupo Técnico Permanente para o incremento da competitividade da Zona Franca de Manaus como plataforma de exportação (GT-ZFM), criado em 2015. O que resultou desse estudo?
Não me parece que tenha havido muito avanço, haja vista, as condições das nossas indústrias deste segmento na ZFM. É preciso ter em mente, que determinados segmentos não se reestruturam rapidamente, até porque, existem geopolíticas internas que estudam tais viabilidades a partir de suas matrizes. O que me parece mais sensato é proporcionar aos investidores/negócios maio desburocratização dos processos internos e externos (exportações) para que possamos ser mais competitivos de um modo geral em todos os segmentos.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
A Zona Franca de Manaus já foi o seu tempo. Hoje só temos chão de fábrica produzindo kit chinês. Muitas indústrias levaram para São Paulo suas matrizes que antes era em Manaus. Com isto perdemos todos os setores administrativos, financeiros, contábeis, rh, logística e etc. Perdemos todos os cargos de diretoria e muitos de gerencia. Foi-Se o tempo que um produto era desenvolvido em Manaus. Perdemos bilhões de reais de salários. Hoje um trabalhador do distrito industrial recebe a metade do que era pago antes. E hoje as indústrias só produzem KIT CHINÊS.