Doutor em Ciência Econômica pela Unicamp e mestre em Economia pela PUC/SP, Mauro Thury de Vieira Sá é professor do Departamento de Economia e Análise da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), onde se dedica a programas de economia industrial, regional e internacional. Instado a comentar os sintomas da desindustrialização da ZFM e a iniciativa da parceria da UEA, estimulado pelo Cieam, com a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), ele aponta as prioridades e os desafios da economia do Amazonas. Confira.
FOLLOW-UP – Reconhecemos a instalação da ‘doença holandesa’ numa economia em vias de desindustrialização quando os sintomas estão acompanhados de ‘reprimarização’ da pauta de vendas internas ou exportações, na direção de commodities, produtos primários ou manufaturas com baixo valor adicionado e/ou baixo conteúdo tecnológico. Corremos este risco ao promover a diversificação de oportunidades com novas matrizes econômicas na base da produção de riquezas?
Mauro Thury – Entendo que a diversificação seria um bem para o Amazonas. A questão da reprimarização, ou seja, adotar outros padrões de atividade econômica, não é tão simples assim. Com certeza, porém, isso ajudaria a espraiar pelo interior do Amazonas mais estabelecimentos de produção. Numa economia concentrada em Manaus isso seria muito oportuno. Devemos, contudo, levar em conta que a agropecuária e a pesca artesanal têm um peso maior na economia do que tem no Brasil. O que é relativamente tímido no Estado é a agroindústria e o agronegócio, assim como as atividades econômicas de alto valor agregado.
FUP – Apesar dos êxitos incontestáveis da ZFM 50 anos, e de utilizar mais de 50% da renúncia fiscal do Brasil, o Sudeste permanece críticos aos incentivos fiscais que fundamentam sua existência. Poderíamos ter avançado em maior agregação de valor por inovação tecnológica no polo industrial de Manaus. O que faltou para isso?
MT – Sim, temos que reconhecer o hiato ocorrido, onde a produção industrial, desde as origens, não teve apoio para agregar valor aos itens aqui manufaturados. Somente depois de 2000, com a legislação de informática e alguns programas de institutos privados e alguns programas de instituições públicas, a partir de 2003 e 2004, conseguimos consolidar alguns avanços. O resultado, porém, ficou comprometido com a política de contingenciamento desses recursos. Apesar disso, embora discretamente, nossa planta industrial no segmento de transformação lidera o ranking de agregação de valor.
FUP – A UEA, por sugestão do CIEAM, após inaugurar o DINTER USP UEA, para doutoramento de gestores das oportunidades da Amazônia, convidou a FIPE, Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, para debater uma parceria no desenvolvimento e diversificação de indicadores econômicos para descrever o perfil regional, suas oportunidades e taxas de retorno aos investimentos. Como aproveitar esta parceria para avançar na diversificação e integração da ZFM?
MT – Precisamos, de fato, ampliar o leque de indicadores, sobretudo onde eles não são explorados, na bioeconomia. Infelizmente, já tivemos uma base robusta de indicadores que a fase de atuação do CODEAMA representa. Era um grupo interdisciplinar, criado em 1978, que promovia o planejamento, dispunha de diagnósticos e juntava indicadores com as respectivas análises. Isso foi desestruturado. Entendo, porém, que novos indicadores precisam estar vinculados a processos analíticos. Esta é nossa maior premência, pois os dados coletados não são analisados. Precisamos criar uma cultura analítica para apontar caminhos.
FUP – Enquanto as mercadorias econômicas se caracterizam por ter preço de mercado, as mercadorias ecológicas incluem aquelas que não são adequadamente transacionadas em mercados com respectivos valores (ar puro, água doce, algas, nitrogênio, fósforo, aves, ervas, monóxido de carbono etc.). Como você avalia este desafio numérico de precificação deste acervo amazônico cada vez mais demandado?
MT – Temos que repensar a perspectiva de vender esses serviços ambientais numa linguagem que está sendo adotado na discussão do clima, dos acordos internacionais. Certamente a Amazônia ocupa destaque nas moedas ambientais do planeta. Temos que ter inteligência para inserir valor nessa conversa. Poderíamos, talvez, pensar em ‘segurança hídrica’, vender esta mercadoria na linha de atrair investimentos. Lembremos que serviços ambientais são definidos como externalidades e externalidades são definidas como algo que o sistema de preços não consegue captar satisfatoriamente. Confesso, porém, que essa não é minha especialidade.
FUP – Em 2012, você orientou uma tese de mestrado sobre os avanços das instituições locais com as verbas de P&D, recolhidas na Lei de Informática. Como expandir a aplicação desses recursos no planejamento e implantação de novas modulações econômicas para interiorizar e diversificar a economia regional?
MT – Precisamos nos debruçar no fortalecimento e adensamento do polo industrial de Manaus, atentos às tendências mundiais. Acompanho as movimentações do CIEAM para estabelecer os PPBs indutivos, dentro das conexões e diversificações coerentes. Precisamos vincular o polo mineral a indústria da ZFM, assim como o polo naval precisa ser olhado na ótica de produção de equipamentos eletroeletrônicos náuticos. Nas tendências globais, temos a indústria da terceira idade com o envelhecimento nos países ricos, de uma geração que se cuida. Ou seja, mais longeva. A indústria precisa olhar soluções para a escassez dos recursos naturais, água, alimento, energia….
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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