Das Narrenschiff (A nau dos insensatos) é o nome do primeiro best-seller alemão. Obra satírica de Sebastian Brant (1458-1521), sobre a insensatez humana que descreve uma viagem fictícia de 112 insensatos para “Narragônia”, a Terra Prometida. O destaque da obra – permeada de belíssimas ilustrações – é o leitor tolo, convencido de suas verdades, que se dedica a espantar as moscas em torno de sua mesa abarrotada de livros. Ele só não é capaz de abrir os livros para adquirir novos conhecimentos. Brant não critica tanto a insensatez humana, mas nossa doidice de não reconhecer as próprias falhas, todas elas decorrentes do (des) conhecimento.
A bordo desta catraia insensata, temos navegado assim, sem saber dizer para onde nem porque. Seriam as moscas da fartura perversa a razão dessa viagem preguiçosa e sem bússola de indefinição? E, na ausência de tal fartura, seremos, ainda, mais incapazes de vislumbrar saídas e os lenitivos da superação? De uma coisa podemos ter certeza: não fizemos planos estratégicos e, por isso, não consolidamos habilidade gerencial para definir o rumo da sociedade que somos para o patamar de uma sociedade que queremos ou de que carecemos.
Açoitado por uma crise sem precedentes e travado por batalhas jurídicas e incessantes de seus governos, o Amazonas insensato e fragmentado, tem sido corroído por tramoias políticas e preguiça cívica. E, por isso, mergulhou na anomia, vazia de administração, seus reflexos dispersivos em todas as direções. Dois acontecimentos, porém, destoaram dessa navegação desnorteada: um deles foi a escolha de uma equipe interinstitucional para o Planejamento, que agregou adesão de setor público estadual e federal, com anuência do setor privado. E, para reforçar a leitura de novas saídas, buscou alinhar economia, academia e gestão no âmbito da Universidade do Estado do Amazonas, no desafio de desnudar novos rumos para o Estado, e oferecer roteiros para a “stultifera navis”, aqui traduzida, na linguagem cotidiana, por catraia sem rumo.
Esta inquietação promoveu fecundas alianças nacionais e globais, com destaque para aproximação com a USP, Universidade de São Paulo, em vários níveis, entre eles, de vital importância, a elaboração de um DINTER, um doutoramento interinstitucional na área de gestão dos programas e projetos dos desafios que nos atormentam.
E quais as razões para acreditar na descoberta da bússola, senão celebrar a união vital de entes federativos na gestão público/privada do interesse coletivo e no somatório de habilidades e expertises que parcerias como esta que junta a Faculdade de Administração paulista, nota máxima na CAPES, órgão de capacitação docente federal, com as demandas e bagagem da Universidade do Estado do Amazonas?
Cumpre anotar que a falta de planejamento e de gestão de projetos têm sido a desculpa federal para desviar do Amazonas os recursos aqui gerados para pesquisa e desenvolvimento e as verbas internacionais de cooperação para iniciativas de uma economia de baixo carbono. A UEA é financiada integralmente pela indústria, de onde emanam as verbas de P&D, que a Lei destina aos novos cenários de inovação eletroeletrônica e em nanobiotecnologia. As 22 bolsas do DINTER, entre seus múltiplos desafios, desenhos e programas, vão mergulhar certamente em projetos de gestão deste patrimônio e no aproveitamento das oportunidades que daí advêm.
Num momento em que a comunidade internacional condena, no âmbito do Comércio, os incentivos da indústria no Brasil, mas isenta a economia de nosso Estado, e que a ONU diz para esta comunidade que ela precisa pagar os países que protegem suas florestas, a hora e a vez é do Amazonas, na proporção direta e progressiva de sua urgência de planejar e qualificar seus recursos humanos, na gestão de suas prioridades, na geração de emprego em cenários de infraestrutura para uma economia harmonizada com a ecologia, que ajude o país a sair da crise e lhe permita retomar o protagonismo ambiental global, na metamorfose criativa da catraia sensata no rumo da superação.
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